... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, December 29, 2006

Trezentos e Sessenta e Cinco Dias por Estrear


Nunca fui daquelas pessoas que fazem resoluções de Ano Novo; aquelas pessoas que têm listas com objectivos a alcançar e dois meses depois já estão muito desiludidas porque as metas que impuseram a si mesmas já foram destruídas por uma mudança de rumo, pelas circunstâncias, por mil e um imprevistos que se atravessaram ou por pura falta de força de vontade delas próprias. Eu penso, à partida, que trezentos e sessenta e cinco dias são muitos dias novos à minha frente para eu decidir já hoje o que quero fazer em todos eles ou de mim mesma neles. Eu nem sei se amanhã vou continuar a querer o que quero hoje… E se quiser (fenómeno raro nos seres humanos, inconstantes por natureza!) é muito provável que tudo não dependa só de mim. Assim, com tanto dia em branco à minha frente, o que há a fazer é esperar o melhor e trabalhar para o resto (provérbio que fica melhor em inglês, porque rima: «hope for the best and work for the rest»). A verdade é que dias novos em folha temos todos os dias e não só o 1 de Janeiro. Ainda bem. 


Quando andava a tirar a Licenciatura, tive uma colega a quem os pais tiraram da Universidade durante dois anos porque, segundo as crenças deles, o mundo ia acabar antes do ano 2000, portanto era inútil as filhas continuarem a estudar, a aprender, a conviver, a sair de casa. Bem vistas as coisas, nem sei porque continuaram a alimentar-se. Mas isso fizeram. Fecharam-se em casa dois anos a fio. Quando chegaram à conclusão que o mundo não dava mostras de acabar, recomeçaram a viver, no verdadeiro sentido da palavra. Esta rapariga tinha dois anos de vida em atraso. E não estou a falar de estudos. Um dia perguntei-lhe (ela tinha muito bom humor, ao contrário do que se possa imaginar por este perfil de clausura) como é que as pessoas iam ser aniquiladas, segundo as ideias dos pais dela – se pensarmos um bocadinho, quando o Novo Ano chega a Lisboa (onde estudávamos) já chegou à Nova Zelândia há cerca de 12 horas, o que implicaria um processo divino muito lento e vingativo de destruição mundial, a meu ver… Ela disse que eles nunca se tinham questionado acerca disso.


Contrariamente a esta minha colega, o que mais faço é questionar-me. Isto não significa que sou nem melhor nem pior do que ela, mas sou, seguramente, diferente.


Não olho para o dia 1 de Janeiro como um dia especial; é tão importante como o 31 de Dezembro, porque estou viva e alerta em ambos. No entanto, é verdade que, se não faço resoluções de Ano Novo, páro sempre um bocadinho para pensar, não naquilo que gostaria de ter ou de fazer (isso ia parecer-me uma infantilidade sem nexo…) mas naquilo que fiz no ano anterior. Entro em balanço, como as lojas. Sobretudo, penso naquilo que aprendi pela experiência, no que interiorizei depois, nos erros que fiz também. Os erros são, afinal, rotas mal escolhidas. Felizmente, o bom das rotas é que podemos sempre virar de rumo; podemos é já não ir a tempo de ganhar a corrida… Mas também quem é que quer um troféu ? Era coisa para ficar a encher-se de pó e mais nada...


Agora é que este texto ia entrar na parte interessante e dramática – todos sabemos que as pessoas adoram um bocadinho de drama; o que não suportam é o tédio!... – em que eu vos contava o que tinha «aprendido» este ano. Mas não. Isto não é uma novela e eu tenho muito pouco jeito para contar histórias que não sejam sobre os outros. São os outros que observo (absorvo?) para depois os re-contar.


Como não me julgo tão generosa que dê opiniões sem que mas peçam nem tão sábia que conheça a melhor maneira de viver o próximo ano, posso só desejar-vos que se surpreendam com as coisas, que gostem de vocês e de quem vos rodeia e que o vosso tempo não se perca em inutilidades sejam elas de que espécie for, porque é o tempo o mais precioso que todos temos (e nem damos conta...). 


Monday, December 11, 2006

O Aniversário


Estamos perto do aniversário dele outra vez. Na verdade, no momento em que escrevo isto, ainda faltam umas semanas, mas - a avaliar pelo comportamento das pessoas - podia ser já amanhã. Já se vendem os bolos de Natal, há quem já tenha feito a árvore e o presépio, compram-se prendas e prendas e prendas (podia encher o resto da página com a palavra «prendas» que não fugia ao  tão falado espírito de Natal, não era?).


Uma vez, um padre católico explicou-me que estava provado que o homem Jesus tinha nascido em Março, mas que, por uma convenção eclesiástica, se tinha decidido celebrar o seu aniversário a 25 de Dezembro. Não acho mal. Muita gente nasceu num dia, foi registada noutro e celebra quando quer. Além disso, todos sabemos que as datas são convenções, e as tradições mais não fazem que assegurar à Humanidade a sua coesão. Com a continuidade de uma celebração, parece-nos que a nossa estabilidade continua, sentimo-nos mais seguros. Se, de repente, viesse agora um tipo dizer que o Natal era em Março, mandavamo-lo passear. Em Março, já temos a Primavera a despontar, obrigada. Não precisamos de um motivo extra de alegria.


Tenho a certeza que ele nunca pensou que isto ia chegar tão longe… «Isto» é a celebração do seu aniversário, naturalmente. Há 2006 anos atrás, a pregar no Médio Oriente sobre a paz e o amor universais e a possibilidade de redenção divina e de recomeçar a vida (não importava a sujidade que se tivesse feito, aos olhos da Humanidade), aposto todo o meu sangue em como nunca pensou que milhares de anos depois – ena, tanto tempo ! - iam celebrá-lo com um circo de luzinhas, fitas e bolas, peditórios para se dar aos mais pobrezinhos em nome dele (um pobre que era Rei… ou um Rei que era pobre… algo assim, a metáfora funciona, mas não quando quem a diz tem a barriga demasiado cheia, como costuma ser o caso), e prendas, prendas, prendas.


Atenção! Eu não sou contra o facto de darmos prendas. Acho uma ideia muito bonita ter-se escolhido uma época no ano em que toda a gente dá uma prenda a alguém que lhe é mais querido. É uma maneira (entre tantas outras possíveis) de se dizer  que se aprecia alguém. Mas, mais uma vez, levou-se a coisa longe demais e hoje são precisas variadíssimas prendas… Já ninguém se satisfaz com menos. Menos seria pouco. Menos seria depois ter de explicar à vizinha, aos amigos, no emprego que as coisas em nossa casa não andam bem… Que celebramos o aniversário dele com menos festa. Que, se calhar, nos apreciamos menos. Isto tudo, não sendo verdade (porque a alegria faz-se de risos e  a estima não se faz de dádivas materiais) passou a ser, porque se convencionou assim. Destrói a mensagem inicial de redenção e amor universal  - mas não faz mal, porque raramente nos lembramos dela; só serve de letra aos cânticos natalícios.


Outra coisa extraordinária são os enfeites da nossa celebração. Estamos atarefados a enfeitar a casa com neve artificial, com bonecos de neve, com a rena Rudolph, «the red-nosed reindeer» como diz a canção (!!!). Alguém, sinceramente, tem alguma memória infantil desta treta de rena americana? Fomos invadidos pela ideia do «White Christmas» e nem demos conta disso.


Há quatro anos atrás, o meu marido sugeriu-me que puséssemos um enfeite do Pai Natal a fazer surf. Eu disse que nem pensar, não era tradicional! «Para ti, não é, mas eu sou do Hemisfério Sul… Para mim, o Natal é na praia.»  Foi a primeira vez que pensei que o S. Nicolau também podia ser surfista. E é, para metade do mundo – uma metade na qual nós, Hemisfério Norte com a mania de todo poderoso, nunca pensamos.


Uma metade, não… Porque os judeus, os muçulmanos, os hindus, os budistas, e outros não celebram o Natal. Não é «a celebração universal». É uma celebração cristã. É ou começou por ser…? Penso que ainda é. O que o aniversário dele tem de bonito é que as pessoas sentem uma predisposição para serem mais generosas com todos os outros, pelo menos uma vez no ano, não importa porquê; e só por isso vale a pena celebrá-lo. Só por isso valeu a pena nascer um menino.


PS- Não escrevo os pronomes ou possessivos referentes a Jesus com letra maiúscula, porque não vejo porque havia um homem tão humilde de querer que se elevasse o nome dele num texto dessa forma. Assim, peço desculpa das eventuais ofensas que isso possa causar à Igreja Cristã, seja ela Católica ou Protestante (com letra maiúscula, evidentemente).