Esta opinião (a minha, não a pública) vem a propósito de uma conversa que tive noutro dia com um amigo, em que lhe disse que não me preocupava nada com a opinião alheia, nomeadamente no que concerne a assuntos pessoais, ao que ele me respondeu ser isso impossível porque todos temos necessidade de aprovação, sendo o Homem um ser social e blablabla.
Reformulando: não me preocupo nada com a opinião pública e julgo que qualquer pessoa com dois dedos de testa também não se preocupará.
Em primeiro lugar, a opinião pública é como um coro de vizinhas velhas e rabugentas, preocupadas com o seu quintal e com as laranjas da sua laranjeira que parecem estar a tombar para o nosso lado do muro, e não vá a gente lembrar-se de tirar uma. Porém, se por acaso, o gato delas roer as nossas plantas, até nos oferecem um cesto de laranjas com laço a decorar. A opinião pública muda como um catavento; se soubermos a razão da mudança ainda temos muita sorte.
Lembro-me sempre de uma situação engraçada acerca do valor das pessoas para o público: certa ocasião, quando o Eriksson era treinador do Benfica, a equipa estava a ter um campeonato muito fraquinho e andavam todos a falar mal do homem como se ele fosse pior do que um iogurte ingerido fora de prazo; entretanto, o Benfica jogou para a Taça dos Campeões e fez um figurão, passando o Eriksson de besta a bestial num espaço de 90 minutos. Houve mesmo um jornalista que lhe pôs esta questão – o eterno “Como se sente por o povo português agora passar a considerá-lo um herói quando ainda ontem se dizia tão mal de si?” O homem riu-se e disse que “Já não era a primeira vez!”.
De facto, tendo em conta que individualmente a maior parte das pessoas até pensa mais ou menos bem (ou, pelo menos, pensa) mas quando integrada num grupo parece perder as suas capacidades de lucidez e de raciocício - range os dentes e entra num espírito de carneirada, vamos todos por ali, por onde não se sabe bem, quase de olhos fechados que estão mas é por ali que vão - não sei por que carga de água se há-de atribuir grande importância à opinião desse rebanho. Experimentem perguntar-lhes o porquê de qualquer coisa / assunto / ideia / ódio ou amor viscerais e a resposta será, 90 por cento das vezes, “eu ouvi dizer que…”. Logo, a opinião pública não só tem muito pouco de própria (no sentido de individualmente pensada) como de fundamentada nada tem. Vive de hits de momento, de foguetórios para animar a malta quando não há festarola nem há mais de que falar e de “ouviste a última? a mim, também me parece que sim”. O parecer é fundamental, porque ninguém quer ser responsável por dar certezas algumas de nada, claro está.
Não se pense que isto é exclusivo das classes sociais menos letradas. Nem pensar! Isto é de todos e para todos. Ou não fosse esta opinião… pública. A malta das literaturas, por exemplo, também tem opiniões assim elevadas e dadas a mudarem de rumo conforme sopra o vento (não raro estão eles a soprarem para que o vento mude de direcção mais depressa…). Como exemplo, Vladimir Nabokov expressou grande surpresa por um dos seus livros ter sido analisado – sincronicamente!- da seguinte forma, por dois grupos de críticos diferentes: “ A Velha Europa troçando da Nova América” e “A Nova América troçando da Velha Europa” (Nabokov, On a Book Entitled Lolita, Nov. 1956).
Assim, é justo dizer que a opinião pública é uma espécie de mentira social, murmurada primeiro, gritada depois, levada em braços e, finalmente, deitada no lixo. Afinal, se pensarem dois minutos, vocês conhecem mais gente inteligente ou mais gente de mente desocupada e boca grande? Pois, são os fazedores da opinião pública.