Confesso que, até há poucos anos atrás, não percebia nada do mundo virtual, vulgo internet, e do que se passa nele. Essas coisas de sites, blogs, conversas pelo messenger, chats, fóruns, buscas, e o diabo a fazer o pino (virtualmente, claro) eram-me de todo desconhecidas. Eu era uma info-excluída, que só sabia mandar e receber e-mails... Sim, porque isso de falar por messenger é recentíssimo (sobretudo para mim) e provocaria um ataque à minha bisavó, que nunca sequer entendeu como é que as pessoas da telenovela não conheciam as pessoas que apresentavam o telejornal (“Mas vocês não são amigos?”, perguntava ela aos jornalistas, que tinham de lhe explicar que não, as telenovelas vinham de fora... “De fora? Mas não trabalham todos na televisão?” Enfim... Coisas modernas.).
Agora, uma pessoa que está longe dos amigos, da família, do namorado tem o messenger. Acautelem-se, empresas telefónicas, a vida nao mais será a mesma! Agora, tecatecateca... e uma pessoa, em dois segundos, tem uma conversa amorosa ali à mão de semear. E custa menos (falo de dinheiro, e não de esforço, porque todos sabemos que a maior parte dos homens gosta tanto de escrever como de ir ao dentista... mas enfim, também lhes custa falar, pelo que não nos vamos meter por aí, que não adiantamos muito!)
Este messenger é um achado. Tem uma data de possibilidades. Quando uma pessoa não sabe mais o que dizer (ou quer dar mais emoção à coisa), junta-lhe um smile. Explico aqui aos pouco versados nestas coisas que um smile são aqueles bonequinhos todos giros que lá estão a fazer caretas, e sorrisos e caras de desenho animado tipo “gosto tanto de ti” ou “que raio queres tu dizer com isso?” ou ainda” estou triste hoje”. Dá imenso jeito! As mulheres, por natureza mais dadas a enfeitar as conversas, adoram enviar smiles. Os homens, não. De facto, os homens detestam smiles. É frequente os homens dizerem “não me mandes smiles, amor, que estou a fazer um download e isso faz crash ao sistema.” Qualquer mulher sabe que ele não quer ser incomodado por umas horas quando lhe manda esta conversa. Um download pode levar toda a noite... Um homem esperto envia logo aquela bem pensada história do download. Uma mulher compreensiva (e ainda mais esperta) finge que não percebe.
O messenger tambem dá para usar microfone. Confesso que nunca usei. Parece-me um bocado ridículo, porque podíamos usar o telefone, se quisessemos ouvir a voz do nosso amado (este palavreado do “amado” já é um bocado poético para conversas internautas, e ademais, pouco moderno!...), mas admito que não seria tão barato. Todos sabemos que misturar amor e dinheiro é ainda menos poético do que misturar amor e internet... Na verdade, é, mais ou menos, como matar o amor à machadada. Por isso, vou passar de fininho para outro pormenor.
O que mais gosto no messenger é a possibilidade da webcam. Traduzo outra vez para os não utilizadores. É uma camerazita minúscula que passa a ser o objecto da nossa alegria porque mostra a cara de quem está a falar connosco, lá do outro lado do mundo (no outro computador, pois claro). Ás vezes, deixamos a webcam ligada. Verdadeiras e incontornáveis catástrofes podem acontecer nestes casos: o nosso interlocutor vê-nos com creme para as borbulhas, a lamber chocolate com os dedos ou a roer as unhas. É chato se o interlocutor for o nosso patrão. Sim, o messenger também serve para conversas de trabalho, por vezes. Pelo menos, eu utilizo. Isto para não falar daqueles momentos familiares em que temos o gato a saltar para cima de nós, o filho pendurado no nosso pescoço e o marido a passar de toalha enrolada (vá lá que estava de toalha!). E a webcam ligada, por azar. Por delicadeza, nem nos mencionam o facto.
A webcam, porém, pode ser gloriosamente venerada, sobretudo se estamos separados do nosso mais que tudo durante longo tempo. Vemos aquela carinha (o quadrado de felicidade proporcionado pelo messenger é ridiculamente minúsculo) e oh, que maravilha! Ficamos logo todos melados, sem descolar do pc.
Claro que também há os amores que começam e acabam na net. Esses são mais estranhos. Porque são amores sem aroma (o que seria essencial para mim,e calculo que para muitos... Como se pode saber se se gosta de alguém que nunca tivemos oportunidade de cheirar?!) e sem voz (aquela voz toda distorcida do micro nao conta!). Sem tacto, também. Sem gosto sequer. É um amor feito de palavras escritas e de uma visão distorcida pelos pixels. Mas, neste mundo, há tanta variante de amor como há pessoas. E eu também nunca afirmei que percebia nada de amores... e menos ainda da internet.