O planeta Terra esteve sempre, constantemente, em mudança ambiental. Essa mudança faz parte do fenómeno que é a Vida – o que está vivo muda, transforma-se, ajusta-se, adapta-se como pode ou segundo o que as circunstâncias fizerem dele.
As provas dessa mudança estão presentes em mil e uma descobertas científicas, em achados arqueológicos que nos mostram um Ser Humano muito diferente de nós (já para não falar de tantas outras espécies; reparem como o ser humano é bem egoísta, puxa tudo para si!), em teorias evolucionistas e de selecção natural – enfatizando natural, nada de misturar Darwin com ideias sociais de superioridade racial – e noutras semi catastróficas.
Nestas últimas, encontramos quedas de meteoritos, épocas glaciais e outras de degelo – no fundo, brutais alterações climáticas ou choques com outros astros que levam a uma alteração demasiado rápida da Vida no planeta e, consequentemente, à extinção de várias espécies, algumas dominantes (como na época dos dinossauros).
Estou a dizer alguma coisa de novo? Não. Debito o que aprendi em Biologia.
O problema actual é que a espécie dominante é a nossa, a humana, e estamos a ver a vidinha a andar para trás... O outro problema é que o Homem pensa (enfim, nem todos, mas a espécie, que é o que pretendo referir aqui, pensa!), logo duvida. Descartes errou na frase.
A dúvida humana dos dias que passam consiste nisto: continuar a aproveitar hedonisticamente o planeta que tem, gastando-o enquanto pode, o mais que pode, sem se importar com o que aí vem ou com as gerações futuras (afinal, sabe-se lá se as haverá dado que até pode cair um meteoro na nossa rota de colisão ou haver uma terceira guerra mundial e algum world leaderfazer cabummmm nisto tudo...) ou, pelo contrário, ser generoso com os seus bisnetos e os bisnetos dos americanos, dos chineses, dos iranianos e da vizinha Miquelina, e começar já amanhã a fazer reciclagem de plástico, papel, pilhas e vidro, aderir ao Greenpeace, poupar água e propangadear as energias renováveis.
O Homem divide-se, assim, entre o egoísmo e a dádiva para com futuros seres que nunca chegará a conhecer... Está-se mesmo a ver o que é que a maior parte dos seres humanos faz! Claro que há honrosas excepções, perante as quais me curvo. Mas mesmo esses hesitam entre viver o momento e ser previdentes em relação a um futuro que lhes parece hipotético, mau grado a comunidade científica bradar aos céus que não é hipótese, é fato consumado se a malta persistir nesta trilha de autodestruição. Ah, mas nós, Édipos e Electras, bem sabemos que nada apela mais ao ser humano que a autodestruição, um pouquinho encapotada e infalivelmente trágica!
Claro que alguns cientistas também mudam de opinião como quem muda de camisa (não direi de cuecas, porque espero, sinceramente, que não seja o caso). Portugal quando entrou para a Comunidade Europeia achou que era muito feio ter baleeiros e caçar baleias nas ilhas dos Açores, porque a CE assim o dizia. Vai daí, em 1986 (no mesmo ano, portanto) passou a ser proibida a caça de cachalotes. Todos sabemos que os meios de caça eram ruralmente artesanais (botes a remos de sete homens, arpão manual, etc) e o número de animais caçados por ano tão ínfimo que não causava qualquer distúrbio ao equilíbrio ecológico. Nada que se compare à indústria norueguesa, muito menos à mega-caça japonesa. Ninguém morreu de fome por cá à conta desta proibição. Mas muita gente perdeu o espírito. Um homem do mar é um homem do mar e não é feliz em aventuras terrestres.
Portugal, no entanto, faz Aquacultura (fishfarming) em variadíssimos locais, empregando biólogos e até arquitectos, nessas redes onde tanto barco vai dar. É “o futuro da indústria”, pesqueira e de mariscos. É pena que seja também altamente condenável pelas associações ambientais internacionais, onde estão outros tantos biólogos marinhos, que consideram estas redes “aspiradores dos oceanos”, perturbadoras dos ecossistemas marinhos, focos de bactérias, redes assassinas de baleias e golfinhos, um perigo para a navegação, em suma, uma mentira global. Veja-se, por exemplo:http://oceans.greenpeace.org/en/our-oceans/fish-farming. Porém, enquanto a CE achar bem, fazemo-lo e com muito orgulho.
É que o mundo é uma construção política e o ambiente depende, também, do que nos fizerem acreditar que é bom para nós.
Aqui o nosso editor-mor da Reacção Cultural pediu-me para eu fazer o meu Perfil. Eu disse: "Claro que eu faço! Eu sou mulher-camaleão, adapto-me a tudo..." Mas depois pensei: "Ai, perfil, perfil... Não pode ser antes frente-a-frente?"