... "And now for something completely different" Monty Python

Monday, September 7, 2009

WWW: uma ferramenta narcísica?

A Internet foi, provavelmente, a invenção mais extraordinária dos últimos tempos. Parece mentira que a sua comercialização só se tenha dado em 1989, dado que ninguém no mundo industralizado imagina o que é viver sem ela, quando há 20 anos atrás nem sabíamos o que era! No entanto, segundo a falível Wikipedia (já que estamos falando de Internet, embora usá-la!) apenas um quarto da população mundial a utiliza, prova da má distribuição da riqueza neste mundo.


Com a Internet, surgiu o acesso rápido à informação, à contra-informação, ao entretenimento e ao entretenimento à custa do bem estar dos outros (também chamado sadismo mas como  temos medo das palavras, excepto nos manuais psiquiátricos, há que ser delicado…) entre tantas outras facilidades. Sabemos que a internet nos permite conversar com alguém que está nos antípodas e, mesmo, vê-lo. Se Bell fosse vivo, ficava de queixo caído. Conclusão: a Internet teve sucesso porque é, sem dúvida, algo de extraordinário, pleno de possibilidades, que pode ser bem ou mal utilizado e é aí que entra a responsabilidade e maturidade de cada um.


A última moda da Internet são as chamadas redes sociais. Uma pessoa recebe no seu e-mail uma data de convites para se integrar no Hi5, no Facebook, no Twitter, no Linkedin. Some-se a isto a possibilidade de fazer blogs e ainda páginas pessoais, e tem-se a vida toda exposta.


John Sawers, por exemplo, foi designado chefe dos Serviços Secretos Britânicos (oh yes, they do exist!). Acontece que a sua mulher, Shelley Sawers, é grande adepta destas redes, e todos os dias postava fotos da família – “olha nós na praia, eis o John de calções, o John adora camarões, estes são os nossos babys, a mãe do John fez anos, o John lá vai outra vez viajar, esta é a nossa casinha, blablabla” . E não pôs restrições à sua página pessoal, ou seja, toda a gente que clicasse, podia ir ver o senhor na sua intimidade, e mais ainda, descobrir onde ele morava e qual o seu número de telefone, além de, pasme-se, o seu nome de código!
Para além da inevitável polémica pública (imagino a privada…), o Sr. Sawers enfrenta agora um inquérito – Gordon Brown, o PM britânico, viu-se obrigado a re-avaliar se ele será mesmo a pessoa indicada para o cargo.


Afinal, o que leva um político a fazer uma página (muito) pessoal na net e a revelar a sua vida privada, telefone incluído, ao público? Claro que há páginas que são de puro marketing (como a do Eng. Sócrates ou a de Paulo Portas, mutatis mutandis, que nada têm de íntimo e que devem ter sido obra de consultor de imagem).  Acredito que a resposta só pode estar num distúrbio da personalidade que é um bocadinho mais velho do que a Internet: o Narcissismo. Pode ser leve e gerar este desejo de admiração e de reconhecimento sem limites ou pode ser tão profundo que degenere numa sintomatologia à Brian Blackwell.


As pessoas reconhecem-se pelo que fazem, não pela bandeira que ostentam. E um Narcísico reconhece-se, sobretudo, pelo desejo que tem de ser o centro da nossa atenção. Para estas pessoas, a Internet não é uma porta para o mundo – é uma janela para espreitarmos o mundo que eles julgam ser. E que sorte que eles acham que temos!