Fiquei surpreendida quando a ex-candidata à Vice-Presidência dos EUA, Sarah Palin, apareceu esta semana a criticar Obama pela sua política de imigração. Palin mostrou-se escandalizada porque “Obama não tem tempo para visitar a fronteira entre os E.U.A. e o México” (local onde a imigração ilegal é forte) “mas tem tempo para aparecer em talk-shows”. Não estou chocada com a opinião de Palin; estou admirada com o quanto evoluíram os seus conhecimentos em geografia.
De facto, durante a campanha para as Presidenciais dos EUA, Palin demonstrou ser (como dizê-lo de modo suave?) enfim, muito ignorante. Em entrevistas que deu à televisão (tudo isto hoje disponível no YouTube, que põe a nu e perpetua as asneiras televisivas), Palin nunca soube identificar os vários estados do seu país, muito menos situá-los no mapa. Se até as crianças da escola são repreendidas por isso, não será grave que alguém que se propõe ser Vice-Presidente não tenha ideia do que é o país em termos territoriais? Para além desta falha – que podemos apelidar de ordenamento interno -, Palin tinha ideias muito particulares sobre a política externa, a começar pelo facto de não ter qualquer noção sobre quem fazia fronteira com os EUA. Numa entrevista, na qual puxava dos seus galões como ex-governadora do Alasca (factor importante, dado que Obama não possuía cargos políticos de relevo), Palin afirmou que estava habituada a negociar com o PM da Rússia, até porque “nós vemos a Rússia ali do Alasca”. Perante o ar de descrédito do jornalista, Palin, de entremeio com umas queixas sobre as pessoas não conhecerem nada do Alasca, acrescenta: “afinal quem pensam vocês que é o nosso país vizinho?”
Noutra entrevista, na qual lhe perguntaram o que pensava sobre a doutrina Bush (frase usada para descrever os princípios da política externa do Presidente Bush), Palin respondeu: “O que quer dizer? Se concordo com a visão do mundo do Presidente Bush?” O jornalista gagueja, repete a pergunta, Palin às voltas até o jornalista lhe explicar o que era a doutrina. Faz pensar… Se, de facto, é necessário escolher figuras tontas e manipuláveis para determinados cargos, pelo menos que lhes dêem uns cursos de preparação intensiva antes de os porem a falar em público.
Quando foi óbvio para o país que Palin era demasiado tonta e que nem conseguia dizer o nome de um jornal quando lhe perguntaram em directo que órgãos de comunicação costumava consultar, houve um pequeno momento convulsivo. O candidato a Presidente McCain tinha mais de 70 anos e já sobrevivera a um cancro. Havia fortes hipóteses de Palin ser Presidente no decurso posterior do mandato caso ganhassem. Nessa época, apareceram várias figuras públicas anti-Palin, afirmando que ela seria a risota do mundo quando se encontrasse com os líderes de outros países. John Cleese disse que os Monty Python não poderiam ter inventado uma personagem melhor nem que tivessem tentado.
Curiosamente, Palin teve muitos defensores, considerando a sua fraca prestação pública. Muitas pessoas entrevistadas sobre o que pensavam dela, diziam simplesmente: “Não percebe nada de História nem de Geografia, e é claramente pouco informada, mas gosta muito dos filhos.”
Fácil é concluir que ao povo não incomodam Presidentes pouco inteligentes – aliás, tinham eleito Bush…- mas um Presidente simpático e amoroso da família é essencial e garante que será também amigo do povo. Então, o que levou à queda de Palin (que até carregava, como um pão ao colo, um filho com problemas que lhe trouxe alguns votos)?
Um anúncio de televisão. Nos EUA, durante as campanhas, podem fazer-se anúncios a denegrir o adversário. O spot em causa mostrava lobos do Alasca, fugindo de helicópteros que os matavam à queima-roupa. Os lobos caíam e derramavam sangue na neve. O slogan era qualquer coisa como: “Queremos mesmo alguém que mata lobos inocentes na nossa Presidência?” Palin, de facto, enquanto governadora, tinha mandado matar uns lobos. O povo, sentimental, não perdoou. Como não ter um Presidente com fama de carinhoso? A popularidade de Palin só caiu em flecha quando os lobinhos tombaram mortos na TV. Muito mais grave que ver a Rússia quando abria a janela.