A frase do título parece uma frase infantil, que achamos muito engraçada e admissível até certa idade e depois começamos a corrigir e a não permitir, porque os excessos de fantasia são de conter, sobretudo nesta sociedade eminentemente prática. Parece… mas não é. Também não é fantasia - e daí o seu extraordinário interesse científico. De facto, recentemente, a Sinestesia voltou a ser objecto de estudo afincado por parte de neurologistas e até psicólogos (ainda que seja uma manifestação fisiológica), apesar de já ter sido descoberta no século XIX. Como o nome grego indica, é uma condição de base neurológica em que as sensações (aisthésis) se apresentam conjuntas (syn). Explicando melhor: se um sinesteta for estimulado de modo sensorial-cognitivo de uma determinada forma (por exemplo, a nível auditivo), essa estimulação não se fica por aí e automaticamente estimula outro sentido (visual, por exemplo). Assim, um sinesteta pode associar sempre o som Fá à cor verde, porque efectivamente o seu cérebro faz essa ligação.
Os sinestetas organizam o mundo espacial e memorialisticamente de forma diferente, mas têm, sobretudo, uma sensibilidade diferente. Existe uma forma especial de Sinestesia que é a forma mais alta de empatia já estudada e verificada cientificamente: o espelho de toque. Os sinestetas com esta capacidade sentem literalmente as sensações de outras pessoas, nomeadamente a dor. Quer isto dizer que ao ver um toque, ele sente um toque. O porquê desta estimulação neurológica ainda não é clara, mas ela acontece. Todos já sentimos um arrepio ao ver uma cena de sangue num filme, mas o sinesteta sente o estímulo doloroso. Com a experiência, estes sinestestas distinguem perfeitamente a sua dor da alheia, não deixando de a sentir. Esta forma de Sinestesia é a mais rara de todas, e o interessante de descobrir mais sobre ela é precisamente o combate a uma sociedade egoísta e narcissista, com toda a polémica ética que isso envolve (vide estudos recentes publicados na Science Now e Cognitive NeuroPsychology).