Numa das revistas Time de Novembro, Nancy Gibbs escreveu um provocatório artigo chamado “Woman Up”. Parêntesis sobre a senhora para quem não sabe: Nancy Gibbs faz as crónicas de última página da Time - para além de se dedicar à escrita – e estudou na Yale Política, Filosofia e Economia (não há como os EUA para ter duplas e triplas licenciaturas, algumas cuja interdisciplinaridade nos parece duvidosa - questão cultural que não cabe aqui e fica para outras calendas).
Gibbs começa por dizer que as mulheres que actualmente fazem política nos EUA utilizam uma retórica machista, talvez sem elas próprias se darem conta. Oferece exemplos concretos: afirmações de Sarah Palin ao dizer que o Presidente Obama “não tem tomates para lidar com a imigração ilegal” ou que “os jornalistas são impotentes e flácidos”, agindo cobardemente com ela; afirmações de Christine O’Donnel, candidata republicana ao Senado, que afirmou que o seu oponente masculino tinha uma atitude “que não era de homem”, aconselhando-o “a vestir as calças como um homenzinho”; e ainda de Sharron Angle, membro da Assembleia do Nevada reconhecida por andar de arma no carro e levantar pesos, que também aconselhou o seu rival político “a fazer-se um homem!” O artigo segue com mais exemplos explícitos que me escuso a traduzir não vá alguma criança apanhar este jornal…
Gibbs aponta algumas explicações para este fenómeno, “uma maneira de se expressar muito mais Lorena Bobbit do que Margaret Thatcher”. De onde eu depreendo que hoje em dia se faz política com recurso à faca e ao golpe dado enquanto o outro dorme do que apelando às velhas tácticas de guerra, já tão antigas quanto o famoso e sempre actual livro do estratega chinês Sun Tzu… Mas adiante.
Segundo Gibbs, talvez as mulheres na política necessitem de mostrar que são muito duronas, daí a sua masculinidade inconsciente. Ou seja, apesar de vestidas e maquilhadas como Barbies, têm uma conversa de carroceiro: não há pior combinação. A razão por detrás desta atitude é que os seus congéneres homens se tentam aproveitar da fragilidade das saias e dos batôns, portanto há que ripostar com palavrões e insultos, provando “we mean business”. Não surpreende, pois é sabido que a maior parte dos homens no poder acham que mulheres são quotas ou mercadoria. Porém, tal como Gibbs, não sei se a “mercadoria” está a agir da melhor forma na batalha para ser reconhecida.
Certo é que os homens também atacam as mulheres de maneira muito baixa, nomeadamente neste ramo. Hillary Clinton deve ter sido das senhoras que mais sofreu, desde ter o seu retrato em urinóis até posters com a frase “Passa a ferro a roupa dele, Hillary!”, insinuando que era essa a sua (única?) utilidade. Um comentador da Fox dizia que a Sra Clinton era uma figura tão castradora que quando ela falava ele cruzava sempre as pernas. Por seu lado, Palin teve uma boneca insuflável feita em sua honra… Portanto, ripostar na mesma moeda é o remédio?
Segundo as sondagens eleitorais, parece que não. Nem os homens machistas nem as mulheres masculinizadas parecem estar a ganhar terreno junto dos eleitores. Quem anda a marcar pontos é o homem cujo lado feminino está mais salientado. Explico melhor: os eleitores andam a inclinar-se para os homens que não apresentam atributos másculos, mas sim suavidade, doçura, uma tendência para a verbalização calma, para o serviço compassivo, para a preocupação com a sua família e com o bem estar comunitário. A ideia do macho musculado que mostra indiferença e maus tratos já não convence ninguém, segundo Gibbs (e as sondagens). Se calhar, a resposta não é as pessoas masculinizarem-se, mas sim “efeminizarem-se”, à falta de melhor termo. Por enquanto, os homens só têm conseguido fazê-lo a nível da aparência, com a metrossexualidade a ganhar um estupendo terreno: é vê-los na manicure, no cabeleireiro, na esteticista, a pintarem cabelos, a fazerem depilação e unhas. Mas a nível de comportamentos, estamos muito longe de uma realidade consequente. Isto a julgar por comentários como aqueles que sinto enquanto mãe de um rapazinho que, aos dois anos, já ouve por parte de alguns conversas deste tipo “Um rapaz não chora, isso é coisa de menina!”, que me parece ser um discurso bem mais castrador do que qualquer conversa da Sra Clinton. Enquanto um homem for proibido de chorar, uma mulher achará que tem de se armar em Rambo. E, como todos sabemos, o Rambo não era um tipo lá muito inteligente…