... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, July 20, 2012

Conforme (se)


Recentemente, assisti a um documentário sobre “criatividade”. Esta característica, a que não é exagero apelidar de motor da evolução, está na base de toda a criação, seja ela artística ou científica – pois mesmo um matemático terá de ter tido curiosidade para procurar a determinação das regras x e y. Não existem dúvidas, pois, de que é a criatividade que permite o avançar do Homem.


Porém, ser criativo implica romper com o estabelecido. O conformismo, oposto da criatividade por natureza própria e, logo, motor da estagnação, é uma força igualmente poderosa. Não é totalmente maléfico visto que sem determinadas normas de encaixe, haveria um colapso estrutural e social muito perturbador. Por isso, temos governos, finanças, transportes, direito penal. O problema é quando as instituições se tornam absolutas e, ao invés de servir o Homem, ditam a vida do mesmo – afogando o seu próprio criador. Mal comparado, é como um vício: a princípio, é bom porque temos controlo sobre o mesmo; mas quando é o “prazer” que controla quem dele usufrui, onde está o ganho?

Somos bombardeados com a ideia de que devemos motivar a imaginação dos nossos filhos e de que devemos ter mais iniciativa e empreendedorismo nas nossas profissões, mas a verdade é que qualquer tentativa de um estudante para expressar a sua opinião ou de um professor para ser mais criativo na exposição da matéria (ou mesmo de incluir outro tema para pôr os alunos a discutir e pensar) é olhada de lado e vista como “esquisita, desregrada, invulgar”. O coro geral é de que “se deve pôr cobro a isso.”

Porque terá a sociedade tanto medo do que, ao mesmo tempo, apregoa como mais desejável? Palpita-me que esta pergunta nos leva direitinhos ao âmago do problema do conhecimento e da maçã roubada do Jardim do Éden. Lamentavelmente, não temos tempo nem espaço para explorar esse receio profundo que sempre faz com que as mentes mais inovadoras e brilhantes sejam castradas no seu tempo de vida para serem louvadas alguns séculos depois.

Mas gostava de deixar aqui alguns pontinhos sobre a necessidade de conformismo que assola o Homem enquanto ser grupal e apaga no indivíduo (às vezes por decreto) a chama evolutiva. Para além das normas socio-culturais a que involuntariamente obedecemos em larga escala mesmo quando afastados da nossa sociedade, existem diversos factores que estão ligados ao conformismo, entre eles a nossa “natural” obediência a figuras de autoridade, necessidade de segurança estrutural, tendência para fazer parte de um grupo, necessidade de aprovação e de reciprocidade. Tudo muito humano, básico e compreensível. Talvez por isso seja mais difícil entender os indivíduos “dissidentes” – a expressão de opiniões próprias traz desconforto à organização social porque, afinal, aí está alguém que luta por si próprio. E o que seria de toda a estrutura se, subitamente, se percebesse que todos os homens têm a capacidade inata de se valerem por si? Consequentemente, ninguém balança o barco. E aquele que se levantar, recebe logo um empurrãozinho acidental: ou entra na forma ou cai ao mar.

Se sabemos que “Existem muitas maravilhas, mas a maior de todas elas é o Homem” desde Sófocles, é porque, precisamente, já os Antigos Gregos reconheciam que a capacidade de criar é o milagre maior de toda a Terra. E não é verdade que estamos muito precisados de mudanças, e talvez mesmo de milagres?

Friday, July 6, 2012

Mãe o Suficiente?



A revista Time de Maio provocou um curto-circuito de comentários por causa da sua capa, cuja foto era uma americana de 26 anos a amamentar o filho de 4. A fotografia é intencionalmente provocatória: a pose está longe de representar intercâmbio materno-filial entre ambos, dado o olhar frontal que mãe e filho lançam à câmara e a posição mão-na-anca da mãe enquanto o filho (muito corpulento para os 4 anos que dizem ter) está em pé para poder chegar ao seio descoberto. A legenda da foto atiça ainda mais: “Are you mom enough?” (“Você é mãe o suficiente?”). Um comentário abaixo explica que algumas mães se extremam em cuidados devido à sua crença na teoria do apego, hoje na moda.

Convenhamos: uma boa capa de revista é a que chama a atenção e, para tal, nada melhor do que desafiar o status quo e normas estabelecidas, pondo as pessoas a interrogarem convicções. Claro que existe uma linha frágil de elegância editorial que se tem de conseguir equilibrar, um meio-termo entre o desafio inteligente e a recusa de ofender o público, lato sensu. É provável que a Time o tenha conseguido com esta capa, chocante para muitos. Mas pergunto-me qual será a reacção do miúdo quando crescer e vir a revista…

Pessoalmente, não creio que, na nossa cultura e estilo de vida (importante sublinhar que outras culturas têm diferentes padrões), haja razões para amamentar miúdos cuja dentição completa permite que ingiram outro tipo de alimentos, que não causam danos no desenvolvimento físico posterior dos meninos e estão amplamente disponíveis no mercado… mais disponíveis do que a mama de uma mãe trabalhadora. Para além disso, uma amamentação tão extensa como esta - ou mais, porque há mães que, tendo bebés, ainda amamentam o filho de 6 anos “antes de dormir porque ele gosta” - não me parece propiciadora da autonomia da criança. Posto claramente, eu não quereria ser mulher de um homem que tivesse sido amamentado até à Primária pela mãe. Imagino as dificuldades relacionais de intimidade daí decorrentes… Penso que, como mães, temos também obrigação de saber que os filhos serão adultos, com vidas independentes, e, se tudo correr bem em termos evolutivos, desligados em grande parte da nossa afectividade física que deve ser premente, estável e constante enquanto eles são pequeninos.

Claro que a autonomização progressiva dos filhos, sem deixar de proporcionar segurança e carinho, não é fácil. Apesar de, como todas as mães, ouvir “x” opiniões sobre educação, é claro que faço o que eu considero ser mais adequado – pois, afinal, ninguém conhece melhor a especificidade do meu rebento do que eu. Outras mães haverá com outros filhos que tomam opções diferentes, válidas para os ditos.
É correcto? Só no futuro saberei. Não há receituário sobre como educar um filho (menos ainda sobre como educar os filhos dos outros).

Estou convicta de que a maioria das mães sabe por instinto o que fazer melhor, mesmo que seja diferente do que faz a mãe do lado. E sublinho que falo de Mães. Porque existem as que são progenitoras apenas. E dessas senhoras que apenas são progenitoras por direito comum de procriação da espécie… só a lei lhes reconhece o estatuto; mas para ser Mãe é preciso sentimento e isso não se compra em pacotes nem tão pouco vem das hormonas - só o filho ajuiza se é (ou foi) “suficiente”.