A revista Time de Maio provocou
um curto-circuito de comentários por causa da sua capa, cuja foto era uma
americana de 26 anos a amamentar o filho de 4. A fotografia é intencionalmente
provocatória: a pose está longe de representar intercâmbio materno-filial entre
ambos, dado o olhar frontal que mãe e filho lançam à câmara e a posição
mão-na-anca da mãe enquanto o filho (muito corpulento para os 4 anos que dizem
ter) está em pé para poder chegar ao seio descoberto. A legenda da foto atiça
ainda mais: “Are you mom enough?” (“Você é mãe o suficiente?”). Um comentário abaixo
explica que algumas mães se extremam em cuidados devido à sua crença na teoria
do apego, hoje na moda.
Convenhamos: uma boa capa de
revista é a que chama a atenção e, para tal, nada melhor do que desafiar o status quo e normas estabelecidas, pondo
as pessoas a interrogarem convicções. Claro que existe uma linha frágil de
elegância editorial que se tem de conseguir equilibrar, um meio-termo entre o
desafio inteligente e a recusa de ofender o público, lato sensu. É provável que a Time o tenha conseguido com esta capa,
chocante para muitos. Mas pergunto-me qual será a reacção do miúdo quando
crescer e vir a revista…
Pessoalmente, não creio que, na nossa
cultura e estilo de vida (importante sublinhar que outras culturas têm diferentes
padrões), haja razões para amamentar miúdos cuja dentição completa permite que
ingiram outro tipo de alimentos, que não causam danos no desenvolvimento físico
posterior dos meninos e estão amplamente disponíveis no mercado… mais
disponíveis do que a mama de uma mãe trabalhadora. Para além disso, uma
amamentação tão extensa como esta - ou mais, porque há mães que, tendo bebés,
ainda amamentam o filho de 6 anos “antes de dormir porque ele gosta” - não me
parece propiciadora da autonomia da criança. Posto claramente, eu não quereria
ser mulher de um homem que tivesse sido amamentado até à Primária pela mãe.
Imagino as dificuldades relacionais de intimidade daí decorrentes… Penso que,
como mães, temos também obrigação de saber que os filhos serão adultos, com
vidas independentes, e, se tudo correr bem em termos evolutivos, desligados em
grande parte da nossa afectividade física que deve ser premente, estável e
constante enquanto eles são pequeninos.
Claro que a autonomização
progressiva dos filhos, sem deixar de proporcionar segurança e carinho, não é
fácil. Apesar de, como todas as mães, ouvir “x” opiniões sobre educação, é
claro que faço o que eu considero ser mais adequado – pois, afinal, ninguém
conhece melhor a especificidade do meu rebento do que eu. Outras mães haverá
com outros filhos que tomam opções diferentes, válidas para os ditos.
É correcto? Só no futuro saberei.
Não há receituário sobre como educar um filho (menos ainda sobre como educar os
filhos dos outros).
Estou convicta de que a maioria
das mães sabe por instinto o que fazer melhor, mesmo que seja diferente do que
faz a mãe do lado. E sublinho que falo de Mães. Porque existem as que são progenitoras
apenas. E dessas senhoras que apenas são progenitoras por direito comum de
procriação da espécie… só a lei lhes reconhece o estatuto; mas para ser Mãe é
preciso sentimento e isso não se compra em pacotes nem tão pouco vem das
hormonas - só o filho ajuiza se é (ou foi) “suficiente”.