Esta semana, Mario Draghi,
Presidente do Banco Central Europeu, afirmou que o problema dos países europeus
que se encontram em crise é resultado “das más políticas dos últimos anos e da
total ausência de uma política económica.”
Pouco depois de ouvir estas
palavras, andava eu por um Centro Comercial e deparei-me com uma vulgar montra
de uma casa comercial sem grande nome, com malinhas de senhora ao módico preço
de mil euros cada. Como é que num país em crise como o nosso, em que o ordenado
mínimo baixa para menos de 400 euros, em que centenas de pais retiram os filhos
dos infantários porque não têm como os pagar, em que centenas de pessoas perdem
os empregos… encontramos malas de prêt-à-porter
a este preço? Foi então que me ocorreu uma frase de um colega de Economia:
quando um país está em crise, há sempre uma pequena franja da população que
enriquece muito.
Em Portugal, todos sabemos quem é
a “franja”. É aquela a quem apontamos o dedo e, simultaneamente, baixamos a
cabeça. Não tem só uma cor política – e nisto Mario Draghi tem razão. Pode Portugal
mudar de governo, mas de política de fundo não tem mudado. O cidadão comum faz
piadas acerca disto, pondo na internet as frases que Passos Coelho dizia na sua
campanha eleitoral e as frases contraditórias que diz agora que é Primeiro
Ministro; as promessas de jamais aceitar os pacotes de austeridade negociados
entre Sócrates e a troika versus o país retalhado aos bocadinhos e
a austeridade cada vez mais apertada. Este é o cidadão comum com sorte, que tem
internet e riso para fazer piadas, é aquele que tem força. Há os que já não
riem e acham que manifestar-se é utopia; ao falarem de revolução dizem que “o
25 de Abril foi bem sucedido mas foi porque estávamos fartos da Guerra, da
Guerra a sério e ninguém gosta de matar e morrer.”
Os espanhóis, tradicionalmente
mais ferventes, começaram a manifestar-se com violência antes que Espanha peça
qualquer resgate, imputando ao seu também recente governo falta de legitimidade
democrática porque “foram enganados” enquanto eleitores.
A Grécia também mudou de
Papandreou para Samaras e continuou na escala de cortes económicos e violência
nas ruas.
Reconheço razão ao BCE: todos nós
enquanto países andamos de salvador em salvador da pátria… para continuarmos
nas mesmas políticas de afogamento de nações.
Hoje, ninguém acredita em Portugal. As pessoas
têm vergonha de serem portugueses. Dizem “sou português” ao pé de um estrangeiro
como se fosse uma fatalidade. Só a já longínqua história dos Descobrimentos os
anima, essa lembrança antiga de que já foram grandes. Parece impossível que
Portugal tenha começado porque um rapaz chamado Afonso Henriques tenha decidido
levantar espada contra a sua poderosa mãe. Hoje, nem a voz se levanta. Toda a
gente tem medo e falta de ânimo. Poucos se lembram que todos os poderes são
efémeros e que maiores impérios neste mundo já caíram.
Nada melhor, porém, do que ouvir
hoje Passos Coelho citando Os Lusíadas
como metáfora para o tempo que atravessamos, pois “por pior que seja a tormenta
que nos arrasta para trás, temos sempre ventos favoráveis a soprar nas nossas
velas.” O Sr. PM esquece o que qualquer professor sabe: que não se pode falar
nunca de Literatura a quem não pôde tomar o pequeno-almoço em sua casa.