Enquanto preceptor do adolescente
que viria a ser Alexandre, o Grande, Aristóteles escreveu um conjunto de oito
livros a que chamou “Política”. Aristóteles acreditava na política enquanto
ciência cujo objectivo mais não era que contribuir para a felicidade humana.
Assim, podia dividir-se a política em duas vertentes essenciais: a ética, que
tratava da felicidade individual do cidadão, e a política efectiva, que tratava
da felicidade colectiva da cidade (importa recordar que os gregos se
organizavam em cidades-estado). Como se deduz, nesta visão filosófica, a
política é indissociável dos costumes, e é apenas através da política que se
pode conquistar o bem-estar.
Na sua “Política”, Aristóteles
dissertou acerca da estratificação da sociedade grega da época – naturalmente
diferente daquilo que hoje em dia a nossa sociedade apresenta, e mesmo
eventualmente chocante aos olhos actuais no que ao papel da mulher diz respeito
bem como à existência de escravos, embora neste ponto seja interessante notar a
afirmação aristotélica de que escravos são, na verdade, todos os homens sem
ideal próprio cuja finalidade é servir o ideal de outro homem, ou seja, há
homens que são escravos pela sua própria natureza…
Porém, as grandes reflexões de
Aristóteles acabam por recair na natureza constitucional, nomeadamente nas
formas de governo que melhor serviriam o propósito do homem, propósito esse que
é o “bem viver em conjunto”. “Viver em conjunto” sem que se viva “bem” de nada
serve na concepção aristotélica.
Ora, se já na Macedónia Antiga se
considerava que o Homem era um animal cívico, sendo essencial que se revisse no
Estado que melhor o representasse, parece-me que é essencial que votemos hoje
em dia. Sobretudo, porque é hoje muito claro que o Estado não se constitui na
nobre base de claridade que Aristóteles previa, que não estamos piramidalmente
organizados sendo governados por aqueles que são claramente os melhores de
entre nós, que as acções tomadas não se dividem em “necessárias, úteis e
honestas” nem os legisladores são os mais sábios e sensatos. Se a política não
chegou a concretizar-se - e cada vez menos se concretiza - como a arte de bem
viver em conjunto contribuindo para a felicidade do ser humano enquanto animal
gregário, então é nosso dever dar-lhe a volta. E, para tal, temos no voto
(mesmo no voto branco) um instrumento pacífico mas revelador do futuro que
desejamos para nós e para os nossos filhos.
Por falar em futuro, a grande
preocupação aristotélica dentro de um Estado de bem é a educação. Aristóteles
não era apenas um preceptor de excelência, o que já seria dizer muito; foi a
grande influência da vida de Alexandre, cuja personalidade – embora longe de
ser unanimemente aclamada – criou um Império que uniu o Oriente ao Ocidente. Se
é verdade que nos parece hoje criticável a eugenia patente nas ideias de
Aristóteles e o seu excessivo pendor para a importância de pormenores físicos
(talvez usuais em quem era filho de médico como ele era), a verdade é que é de
louvar o modo como a formação deve, quanto a ele, ser soberana.
Os governantes devem ser os mais
admiráveis e, por conseguinte, os mais admirados; os mais justos; os mais
honestos; os mais preocupados com o bem comum; os melhores de entre os
cidadãos. … E hoje em dia? Tenha uma
palavra a dizer.