... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, November 9, 2012

Quotas e outras coisas do género



Porque trabalho para uma instituição profundamente conectada com os EUA, nas últimas semanas levei um “banho” de eleições presidenciais desse país. À primeira vista, é irrelevante, mas, na verdade, é muito mais importante Obama ser re-eleito do que foi importante ter sido eleito a primeira vez.

Quando Obama foi eleito, ficou sempre no ar a possibilidade de ele ter sido votado não porque trazia melhores políticas, mas sim porque era negro. Por muito que não seja politicamente correcto dizê-lo, a verdade é que todos os grupos que um dia já foram minorias – ou melhor, que um dia já ocuparam posições desfavoráveis na sociedade  e que se encontram, ainda hoje, a tentar justificadamente ganhar a sua posição igualitária – sofrem deste estigma que os anglo-saxões e o seu humor sardónico chamam “discriminação positiva”.  Ou seja, há uma espécie de tratamento preferencial dado àqueles que pertencem a minorias, precisamente porque durante tantos anos foram alvo de uma injusta posição contrária. Esta discriminação positiva existe nalguns empregos, por exemplo – aliás, legalmente, é para isso que servem as perguntas (facultativas) sobre género, etnia e religião que são feitas aquando das candidaturas. O tema é controverso, mas não deixa de ter apoiantes: se há quem advogue que todo o tipo de discriminação é errado, também há quem diga que esta é a única forma de as minorias chegarem ao poder e à igualdade no mundo de hoje, que continua a ser discriminatório. O ponto é que, aquando da primeira candidatura de Obama, não faltou quem dissesse que ele fora eleito devido à vontade de uma larga fatia de americanos quererem um “minoritário” no poder (ou porque eram minorias eles próprios ou porque se sentiam culpados de serem WASP…) É discutível. Indiscutível é que não se pode dizer o mesmo quando esse homem é re-eleito. Uma re-eleição significa sempre o premiar de um trabalho, o renovar de uma confiança.

A dita discrimininação positiva, porém, acontece em quase todo o mundo ocidental. Os inuits canadianos e os aborígenes da Nova Zelândia – ambos casos típicos de minorias severamente maltratadas pelos povos colonizadores – têm uma quota reservada, isto é, um número reservado de lugares no Parlamento. É uma espécie de pagamento pelos males passados – que, aliás, pouco compensa em termos de factuais bens presentes, ao que sei…

Mas não vamos tão longe. A Lei da Paridade em Portugal estabelece que as listas para o Parlamento (Europeu ou da República) e para as Autarquias “são compostas de modo a assegurar a representação mínima de 33% de cada um dos sexos.” Ora, isto, supostamente, vem favorecer a entrada de mulheres na política. Na prática, os partidos procuram incluir nem que seja uma mulher em lugar de destaque, não só por uma questão de agradar ao eleitorado feminino mas até porque já houve multas por não se cumprir esta lei. Mas a questão, quanto a mim e como mulher, é perigosamente discriminatória – ocuparemos lugares de destaque por sermos competentes… ou por sermos mulheres e se verem obrigados a preencher a quota?

Como mulher, continuo a achar que é bem mais fácil triunfar profissionalmente sendo homem. Não tenho dúvidas. Mas recuso uma discriminação positiva pelo facto de ser mulher… Parece-me limitativo da afirmação das minhas qualidades e competências reais.

Aliás, isto recorda-me um episódio da série Yes, Prime Minister em que membros do Governo falavam sobre a tal discriminação positiva e terminavam “Todos concordamos com este princípio fantástico que é ter mulheres a governar! Mas onde as colocamos, Sr. Ministro? Não há nenhum Ministério adequado para um toque feminino…”

A quota não acaba com o preconceito e não será a quota a mudar mentalidades.