As Ted Talks são conferências em que cidadãos com uma boa ideia nos falam
durante um quarto de hora sobre um assunto que pode mudar a nossa visão do
mundo. Estas conferências já deram a volta ao mundo a espalhar ideias. Mas o
que vos aconselho a ver – se ainda não viram na internet – são as Ted Talks
feitas por crianças.
Fico surpreendida com miúdos de 12 anos que, ao invés de jogarem jogos de
computador desenvolvem programas informáticos; emocionada com meninos de 10 que
inventam maneiras de manter os leões à distância das suas aldeias; e
boquiaberta com adolescentes de 15 que descobriram como detectar precocemente
certas formas de cancro, já para não falar na quantidade de virtuosos musicais
que por lá abundam.
Imediatamente, me saltam à mente duas coisas: primeiro, que é impossível
dizer que existe uma geração que “não sabe nada nem se interessa por nada.”
Como em todas as gerações, há de tudo e como em todas as gerações a maior parte
das pessoas é tonta (ou não teríamos os governantes que temos escolhidos por
maioria de cabeças toscamente pensadoras), mas existem pequenos génios, a par
do vulgo; a segunda é que não percebo como é que pode aparecer um estudo que
diz que há cerca de 40 mil crianças sobredotadas em Portugal (notícia recente
do Público).
Portugal nunca faz a coisa por menos do que ir aos extremos: ou afirma ter
uma geração rasca, divertindo-se a pôr no Youtube vídeos das respostas
degradantes dos universitários a perguntas de cultura geral, ou declara uma tal
quantidade de crianças génios que, passe a expressão, são mais que as mães. Surge
a pergunta: que fazemos das nossas crianças génios para que se tornem
adolescentes idiotas? Só pode ser um defeito de educação português - entenda-se
aqui educação no sentido lato e não apenas académico (aliás, o dom de um
sobredotado nunca se compadece com a formatação mediana das escolas… mas isso é
outra conversa).
Ou será que, muito justamente pensando e não querendo retirar à educação
todos os erros que tem, andamos a extremar demais as nossas opiniões? … Com
efeito, não será leviano falar-se em 40 mil crianças com menos de 12 anos
sobredotadas num país de 11 milhões de habitantes, quase todos velhos? Não é
exagero que a esmagadora maioria das nossas crianças seja, subitamente,
sobredotada? O que se entende por sobredotado em Portugal? Pessoalmente, creio
que baixámos tanto a fasquia das nossas avaliações que passámos a considerar
sobredotado qualquer um com um toque de inteligência… Mas o sobredotado não é
esse. O sobredotado é o que possui a centelha do génio e esses são raros e,
infelizmente, bem pouco compreendidos, inclusive em testes avaliativos feitos
por pessoas… não sobredotadas.
Recentemente, li um artigo no Atlantic sobre o modo como as diferenças
culturais eram determinantes na avaliação das características das crianças. É
muito curioso que a esmagadora maioria dos pais americanos e da Europa do Norte
classifique o seu filho como “sobredotado”; já os pais espanhóis, italianos e
do Hemisfério Sul classificam os seus filhos, maioritariamente, como
“simpáticos”, “felizes” e “fáceis de lidar”; na Holanda, os pais referiam a
“curiosidade” como uma persistente e boa característica dos seus pequenotes.
Reparem como foram pedidas aos pais as referências mais positivas. É muito
claro aquilo que cada nação valoriza… ou entende ter na manga – pois não
esqueçamos que muitos pais, não tendo vivido o que desejavam, tentam viver
através das pobres crianças.
Portanto, arrisco dizer: será que Portugal, achando-se pouco inteligente de
momento e precisando de uma injecção no ego, agora até faz publicidade com as
criancinhas? Que vergonha, senhores.