... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, April 26, 2013

O meu filho é mais Einstein do que o teu



As Ted Talks são conferências em que cidadãos com uma boa ideia nos falam durante um quarto de hora sobre um assunto que pode mudar a nossa visão do mundo. Estas conferências já deram a volta ao mundo a espalhar ideias. Mas o que vos aconselho a ver – se ainda não viram na internet – são as Ted Talks feitas por crianças.

Fico surpreendida com miúdos de 12 anos que, ao invés de jogarem jogos de computador desenvolvem programas informáticos; emocionada com meninos de 10 que inventam maneiras de manter os leões à distância das suas aldeias; e boquiaberta com adolescentes de 15 que descobriram como detectar precocemente certas formas de cancro, já para não falar na quantidade de virtuosos musicais que por lá abundam.

Imediatamente, me saltam à mente duas coisas: primeiro, que é impossível dizer que existe uma geração que “não sabe nada nem se interessa por nada.” Como em todas as gerações, há de tudo e como em todas as gerações a maior parte das pessoas é tonta (ou não teríamos os governantes que temos escolhidos por maioria de cabeças toscamente pensadoras), mas existem pequenos génios, a par do vulgo; a segunda é que não percebo como é que pode aparecer um estudo que diz que há cerca de 40 mil crianças sobredotadas em Portugal (notícia recente do Público).

Portugal nunca faz a coisa por menos do que ir aos extremos: ou afirma ter uma geração rasca, divertindo-se a pôr no Youtube vídeos das respostas degradantes dos universitários a perguntas de cultura geral, ou declara uma tal quantidade de crianças génios que, passe a expressão, são mais que as mães. Surge a pergunta: que fazemos das nossas crianças génios para que se tornem adolescentes idiotas? Só pode ser um defeito de educação português - entenda-se aqui educação no sentido lato e não apenas académico (aliás, o dom de um sobredotado nunca se compadece com a formatação mediana das escolas… mas isso é outra conversa).

Ou será que, muito justamente pensando e não querendo retirar à educação todos os erros que tem, andamos a extremar demais as nossas opiniões? … Com efeito, não será leviano falar-se em 40 mil crianças com menos de 12 anos sobredotadas num país de 11 milhões de habitantes, quase todos velhos? Não é exagero que a esmagadora maioria das nossas crianças seja, subitamente, sobredotada? O que se entende por sobredotado em Portugal? Pessoalmente, creio que baixámos tanto a fasquia das nossas avaliações que passámos a considerar sobredotado qualquer um com um toque de inteligência… Mas o sobredotado não é esse. O sobredotado é o que possui a centelha do génio e esses são raros e, infelizmente, bem pouco compreendidos, inclusive em testes avaliativos feitos por pessoas… não sobredotadas.

Recentemente, li um artigo no Atlantic sobre o modo como as diferenças culturais eram determinantes na avaliação das características das crianças. É muito curioso que a esmagadora maioria dos pais americanos e da Europa do Norte classifique o seu filho como “sobredotado”; já os pais espanhóis, italianos e do Hemisfério Sul classificam os seus filhos, maioritariamente, como “simpáticos”, “felizes” e “fáceis de lidar”; na Holanda, os pais referiam a “curiosidade” como uma persistente e boa característica dos seus pequenotes. Reparem como foram pedidas aos pais as referências mais positivas. É muito claro aquilo que cada nação valoriza… ou entende ter na manga – pois não esqueçamos que muitos pais, não tendo vivido o que desejavam, tentam viver através das pobres crianças.

Portanto, arrisco dizer: será que Portugal, achando-se pouco inteligente de momento e precisando de uma injecção no ego, agora até faz publicidade com as criancinhas? Que vergonha, senhores. 

Friday, April 12, 2013

Árvores e arbustos


Fiquei sinceramente aflita com a hipótese do Governo poder cair, que chegou a colocar-se na última semana. Como todos os Portugueses, eu gosto de criticar o Governo. Sem Governo, a minha vida ficava duplamente mais difícil: não só continuava nas lonas económicas, pagando impostos brutais por uma educação deficiente e um sistema de saúde que deixa a desejar, como ainda ficava sem ter sobre quem fazer humor. Como não temos nenhuma garantia que a oposição fizesse melhor do que quem governa, visto que o líder da mesma não apresentou até hoje nenhum plano sobre o que viria a fazer caso se sentasse na cadeira do poder e apenas se mostra “disponível” para a ocupar (que surpresa!), o nosso destino nacional é triste. Não há líderes de fibra e ação; há líderes partidários de umbigo e isso, para mal dos nossos pecados, já conhecemos há vários anos.

Assim, estando nós entre o mar bravo e as rochas no que respeita a escolhas, os Portugueses viram-se novamente para o velho mito sebástico. Aguardam ansiosamente por alguém que os resgate, que traga a ressurreição de um país perdido e seus mitos patrióticos no qual já poucos acreditam – exceto quando joga a seleção nacional. Recentemente, apareceu a febre de Abril, que mais não é do que uma forma de sebastianismo, com a interpretação – quantas vezes mal usada – de uma “Grândola Vila Morena”, que agora serve para tudo, desde situações efetivamente sérias até protestos contra a greve do metro (que acontece cada 15 dias…)

Tudo o que cai na rotina deixa de fazer sentido. Já ninguém – muito menos os governantes -  presta atenção às greves, às canções de protesto (?), às manifestações, também estas convocadas duas vezes por mês. A luta portuguesa é desorganizada e prima por não ter um objetivo concreto. “O que queremos? A queda do Governo!” E depois? Novo governo. E a seguir o que queremos? “A queda do Governo!” Por feitio, o português é contestatário mas jamais anárquico. Contrariamente à Bélgica, seríamos incapazes de estar um ano sem governo e fazer o país andar para a frente. Que apareça alguém contra quem possamos falar, mas que apareça alguém, por amor de Deus!

O português abastarda a sua luta muito rapidamente. Os humoristas “Homens da Luta” são disso exemplo: começaram a reviver um passado recente, de contestação, género novo Abril, e cedo chegaram ao seu próprio programa de TV, igual a tantos outros, e cuja ideia espremida  é, afinal, que o próprio Abril mais não foi que uma tolice que não chegou a lado nenhum.

E agora para onde vai a Liberdade? Somos um país onde pensar por si próprio é crime. Aquele que vai contra a sua instituição, o seu partido, a sua gens é um ostracizado. Aquele que assume a sua qualidade de ser pensante ao invés de “ir com os outros” é sempre mal visto e mal falado. Os melhores e os mais inteligentes de nós são, invariavelmente, contestados, granjam inimizades várias, não raro são silenciados – por receio de quem governa de que o livre pensamento floresça, seja contagioso como doença infantil.

Somos, assim, como disse Sttau Monteiro: “um país onde se cortam as árvores para que não façam sombra aos arbustos.” Cada vez mais o somos. E é triste. Pois um país repleto de arbustos é uma nação, como direi… cada vez mais rasteira.