... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, January 17, 2014

As Leis da Estupidez Humana


Nunca tinha ouvido falar de Cipolla, até que um amigo achou que era tempo de eu conhecer uma obra denominada “The Basic Laws of Human Stupidity”. É um livrinho pragmático e sarcástico, tanto mais curto quanto recorre a gráficos para demonstrar o que expressa.

Passando por cima dos gráficos – complicados de explicar numa crónica, mas garantidamente farão a delícia dos espíritos matemáticos para que a lógica resulte – examinemos as tais leis básicas. Segundo Cipolla, a primeira e incontornável Lei é que “Sempre e inevitavelmente, todos subestimamos a quantidade de indivíduos estúpidos em circulação.” Não é que o número seja infinito, já que finito é o número de indivíduos no mundo – já se disse que o livro é matemático q.b. – mas não se pode determinar sequer já que faz parte da natureza humana julgar os outros de forma mais valorativa do que a generalidade merece e ainda porque a vida diária demonstra continuamente que a estupidez boicota as acções rotineiras. A segunda Lei mexe mais com as convicções humanas, já que, como bem diz o próprio autor, a moda do mundo ocidental industrializado advoga que todos nascem iguais e com as mesmas capacidades, sendo que se uns alcançam umas coisas e outros não, isso se deve apenas à falta de oportunidade ou à educação. Errado. Tal como uns nascem ruivos e outros morenos, também uns nascerão inteligentes e outros inevitavelmente estúpidos (os segundos em larga maioria). Além disso, “a estupidez é completamente independente das restantes características do indivíduo”, de onde se conclui que grassa em igual número por todas as etnias, sexos e classes sociais. A estupidez é democrática, mas não arrivista – aliás, de tão comum, ela é a vulgaridade por excelência.

O autor define um estúpido como sendo aquele que “causa perdas ou problemas a terceiros, sem que ele mesmo retire disso qualquer ganho, pelo contrário; o próprio autor das acções pode mesmo incorrer em perdas.” Para melhor compreensão, leiam a divisão humana em desamparados, ingénuos, inteligentes, bandidos e estúpidos. As linhas não são completamente estanques, e.g. um bandido pode ser “um bocado estúpido” (nunca é inteligente, ao contrário do que pensa e pensa-o sempre!). É muito curioso e extremamente divertido verificar os gráficos em que o autor analisa a frequência distributiva destes indivíduos, com exemplos.

Finalmente, há dois capítulos inultrapassáveis: “Stupidty and Power” e “The Power of Stupidity”. No primeiro, aborda-se o incontornável facto de haver imensos indivíduos em cargos de destaque que são declaradamente estúpidos porque as suas acções se convertem em danos para o resto do mundo, nem sequer beneficiando os próprios por aí além. Isto é tanto mais grave quanto a sua posição alarga o espectro de gravidade dos danos que fazem.

No outro capítulo, explica-se que o poder da estupidez está na sua irracionalidade. O inteligente, racional por excelência, confunde-se perante as acções estúpidas, perde o pé, vacila e chega a duvidar que tanta tolice esteja em marcha. É esta sua falta de reacção perante o irracional e o ilógico que mais faz avançar o poder galopante do estúpido.

As últimas Leis expressam que “é frequente subestimar o poder dos estúpidos, o que é sempre um erro muito caro, pois eles são os mais perigosos de uma sociedade”. Assim, numa sociedade em que proliferam bandidos e estúpidos (ou versões mescladas), começa a notar-se, em proporção, um aumento do número de desamparados – logicamente, do lado da barricada dos que não ocupam poder algum. Assim, estatisticamente, o poder destrutivo da estupidez ganha terreno, a sociedade entra em declínio e, segundo Cipolla, “o país cai no Inferno.”


Não percebo nada de matemática, mas o livro é um mimo.