... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, January 19, 2018

Tempo


Desde sempre, o Homem se tem interrogado sobre o Tempo. Para além de teorizar sobre o que é em abstrato - desde os variados conceitos filosóficos até às questões físicas que debatem a sua linearidade ou a circularidade - preocupa-se o Homem em dividir o Tempo, para efeitos de gestão prática da sua vida concreta. 

Ninguém vive sem datas. O paradoxo desta realidade é que, embora a passagem do calendário nos possa trazer algumas emoções mais agrestes nalguns dias que (re)lembram melancolia ou mesmo dor aguda (“Tempo, ladrão, dá-me conta do fardo”) também se encontra conforto nessa divisão semanal e anual com que podemos jogar estas “sérias […] coisinhas” que são os nossos dias.

Para melhor acentuar a passagem do Tempo (outros dirão que é para melhor a esquecer!), o Homem gosta de celebrar certas datas e, nelas, vivenciar tradições. Nesses momentos, é bem mais frequente que se lembre do que já passou do que daquilo que poderá vir adiante – sobretudo se for português, povo cuja multiplicidade linguística de tempos verbais no pretérito é bem demonstrativa de um saudosismo que noutras culturas não se sente nem se cultiva. “O Tempo gasta a minha voz como se fosse o seu pão. / É ele, é ele o que tem tudo escondido.” Existe, porém, a excepção do Ano Novo em que mesmo os portugueses parecem, ainda que momentaneamente, convencer-se de que o futuro é uma realidade com tanta ou mais importância do que o passado.

Nem todo o mundo se rege pelo calendário gregoriano, em voga em Portugal desde 1582, embora este seja, atualmente, o calendário civil adotado pela esmagadora maioria dos países. Já os ortodoxos têm um calendário ligeiramente diferente do gregoriano. Da mesma forma, no Médio Oriente, há outros calendários: o ano persa começa na Primavera, o ano hebraico (que depende da lua) começa num dia variável em Setembro bem como o islâmico. Na África, existem vários calendários e na Ásia também.

A própria contagem do tempo não se faz da mesma forma em todo o mundo. Um português de 20 anos tem 21 anos na China, já que os Chineses contam com o tempo intrauterino como tempo de vida e dão ao bebé 1 ano quando ele nasce. Mas este bebé pode ter 2 anos muito rapidamente já que, em vários países do Sudeste Asiático, a pessoa “não faz anos”, mas sim todos fazem anos ao mesmo tempo quando se dá a passagem de ano, momento em que toda a nação fica automaticamente um ano mais velha. Nada como o despertar para esta realidade nos mostra como o Tempo é absolutamente relativo (obrigada, Einstein!) e, até certo ponto, uma construção do Homem.  “Ele [o Tempo] pede-nos as coisas emprestadas e some-as.”

Desejo-vos, assim, um Feliz 2018. Mas com esta moda da inclusão que cada vez mais é regra no mundo de hoje (embora, na maior parte das vezes, seja apenas conversa politicamente correta para ganhar adeptos), quase me sinto obrigada a também desejar um Feliz ano 1939 para a Índia e o Camboja, um Feliz 2011 para a Etiópia, um Feliz 2561 para a Tailândia, e por aí fora.


O que ninguém impede é esta realidade, hoje como em 1938: “Tempo, molde de todos os lugares, / Pegada de quem desaparece, / Esquema de bocejos e de esgares, / Frio de tudo o que arrefece.”