Desde sempre, o Homem se tem
interrogado sobre o Tempo. Para além de teorizar sobre o que é em abstrato - desde
os variados conceitos filosóficos até às questões físicas que debatem a sua
linearidade ou a circularidade - preocupa-se o Homem em dividir o Tempo, para
efeitos de gestão prática da sua vida concreta.
Ninguém vive sem datas. O
paradoxo desta realidade é que, embora a passagem do calendário nos possa
trazer algumas emoções mais agrestes nalguns dias que (re)lembram melancolia ou
mesmo dor aguda (“Tempo, ladrão, dá-me conta do fardo”) também se encontra
conforto nessa divisão semanal e anual com que podemos jogar estas “sérias […]
coisinhas” que são os nossos dias.
Para melhor acentuar a passagem
do Tempo (outros dirão que é para melhor a esquecer!), o Homem gosta de
celebrar certas datas e, nelas, vivenciar tradições. Nesses momentos, é bem
mais frequente que se lembre do que já passou do que daquilo que poderá vir
adiante – sobretudo se for português, povo cuja multiplicidade linguística de
tempos verbais no pretérito é bem demonstrativa de um saudosismo que noutras
culturas não se sente nem se cultiva. “O Tempo gasta a minha voz como se fosse
o seu pão. / É ele, é ele o que tem tudo escondido.” Existe, porém, a excepção
do Ano Novo em que mesmo os portugueses parecem, ainda que momentaneamente,
convencer-se de que o futuro é uma realidade com tanta ou mais importância do
que o passado.
Nem todo o mundo se rege pelo
calendário gregoriano, em voga em Portugal desde 1582, embora este seja,
atualmente, o calendário civil adotado pela esmagadora maioria dos países. Já
os ortodoxos têm um calendário ligeiramente diferente do gregoriano. Da mesma
forma, no Médio Oriente, há outros calendários: o ano persa começa na Primavera,
o ano hebraico (que depende da lua) começa num dia variável em Setembro bem
como o islâmico. Na África, existem vários calendários e na Ásia também.
A própria contagem do tempo não
se faz da mesma forma em todo o mundo. Um português de 20 anos tem 21 anos na
China, já que os Chineses contam com o tempo intrauterino como tempo de vida e
dão ao bebé 1 ano quando ele nasce. Mas este bebé pode ter 2 anos muito
rapidamente já que, em vários países do Sudeste Asiático, a pessoa “não faz anos”,
mas sim todos fazem anos ao mesmo tempo quando se dá a passagem de ano, momento
em que toda a nação fica automaticamente um ano mais velha. Nada como o
despertar para esta realidade nos mostra como o Tempo é absolutamente relativo
(obrigada, Einstein!) e, até certo ponto, uma construção do Homem. “Ele [o Tempo] pede-nos as coisas emprestadas
e some-as.”
Desejo-vos, assim, um Feliz 2018.
Mas com esta moda da inclusão que cada vez mais é regra no mundo de hoje
(embora, na maior parte das vezes, seja apenas conversa politicamente correta
para ganhar adeptos), quase me sinto obrigada a também desejar um Feliz ano
1939 para a Índia e o Camboja, um Feliz 2011 para a Etiópia, um Feliz 2561 para
a Tailândia, e por aí fora.
O que ninguém impede é esta
realidade, hoje como em 1938: “Tempo, molde de todos os lugares, / Pegada de
quem desaparece, / Esquema de bocejos e de esgares, / Frio de tudo o que
arrefece.”