“O plágio é a mais alta forma de
admiração.” Quem aspira a provar que é melhor do que nós tenta ser, pelo menos,
original… mas quem faz uma cópia do que fazemos só nos comprova uma inveja nada
secreta e até um certo stalking, sem
outro objetivo que não seja o de nos mimetizar.
O plágio (académico ou de
identidade) é crime.
Quanto ao primeiro, existem, hoje
em dia, ferramentas que auxiliam os professores a detetar se os exames ou
trabalhos contêm elementos de textos já publicados. Funcionam extremamente bem
no caso de plagio verbatim e mesmo no
caso de paráfrases, mas são menos úteis em relação a plágio de textos não
académicos ou no caso de se tratar de uma tradução do trabalho de outrem.
Recordo dois casos que fizeram
furor mediático em Portugal: o célebre caso de Clara Pinto Correia, que, em
2003, admitiu ter traduzido um artigo de opinião que escreveu para a Revista
Visão de um artigo que tinha lido na revista New Yorker; o caso (bastante mais
grave) da professora adjunta da Escola de Estudos Industriais e Gestão, Ana
Luísa Soares, que, em 2010, se doutorou pela Universidade do Minho com uma tese
de doutoramento plagiada de uma tese apresentada seis anos antes na
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. As teses tinham títulos
diferentes, mas o resumo já ditava que a versão portuguesa era uma adaptação da
sua “inspiradora” brasileira. Embora o caso tenha sido noticiado, ao que se
saiba, a professora não perdeu o grau nem o posto… No entanto, perdeu crédito
académico ao passo que o autor brasileiro do original terá, certamente, sentido
um certo afago no ego. Afinal, quem nos copia tão minuciosamente só pode
admirar-nos muito!
O plágio é cada vez mais difícil
de controlar: por um lado, a globalização e a internet facilitam-no; por outro,
a pobreza. Explico melhor para quem não conheça esta realidade: os estudantes do
ensino superior sabem onde encontrar as redes de pessoas que fazem teses e
trabalhos por encomenda. Existem mesmo anúncios nas paragens do Metro. O preço
é módico tendo em conta o trabalho que executam – trabalho escrito na data
prevista, incluindo notas para apresentação oral.
Quem faz estes serviços? Na
generalidade, reformados, recém-licenciados sem emprego e até professores. A
pergunta que se impõe é: quem, sem escrúpulos, compra?
Já um plagiador de identidade é
alguém que inveja profundamente outrem, não raro quem está ao seu lado. No
filme “Big Eyes” de Tim Burton, baseado numa história verídica, o marido da
artista Margaret Keane finge ser o autor dos quadros que a própria pinta. Keane
vive com uma sanguessuga da sua autonomia, artística e pessoal. Também no filme
“Single White Female” uma estudante encontra uma companheira de casa que decide
copiá-la de forma sinistra e completa, procurando a sua anulação total.
Finalmente, em “A Mão que Embala o Berço”, encontramos uma ama, falsamente
cândida, que pretende matar a mãe de uma família para tomar o seu lugar, em
todos os aspetos.
Este plagiador tem uma existência
muito mais triste. Trata-se de um ser oco, vazio como as cascas, que precisa de
ocupar uma outra vida para poder ser, finalmente, alguém. Mesmo quando
consegue, não “existe”: apenas decalca e prolonga a vida de outro ser.
O plágio não tem voz. É um eco.
Os plagiadores sabem-no bem.