Perto de onde vivo existe um templo onde está inscrito o seguinte: “Apenas uma coisa é constante na vida”. Virando a esquina, a inscrição na parede continua e revela-nos este paradoxo “Essa coisa é a mudança.”
Por muito difícil que seja aceitar esta realidade, o próprio Universo nos demonstra,
através dos ciclos naturais das próprias estações, e também de vida, morte e
renascimento, que nada nunca se mantém igual; antes tudo se transforma. A única
certeza que podemos ter é a de que nada permanece.
É, por conseguinte, inútil resistir à força da mudança, dado que esta é a
situação motriz natural da vida. O ser humano, embora seja um produto da mesma
cadeia vital e universal e sujeito às mesmas leis que tudo regem, tenta, muitas
vezes, fazer força de atrito visto que lhe é difícil encarar a mudança. Os
exemplos são variados: o Homem não encara bem a morte, tem dificuldade em
envelhecer, desnorteia-se perante as passagens rítmicas da vida de um estádio
ao outro (chamando crises à puberdade e à meia-idade) e, de um modo geral, vê
como agruras e dificuldades quaisquer ameaças ao status quo. Raros são
os seres humanos que encaram com naturalidade ou até com algum prazer as
deslocações, transferências, modificações, variantes, e volte-faces no geral,
por achar que isso provoca desencaixe, sensação de destruturação, ou até
afastamento, estranhamento, perturbação. São coisas tão simples como mudar de
casa ou transferir-se de um emprego ou uma escola; ou algo mais sério como
mudar de país ou de família. Sim, existem os seres que não só anseiam a mudança
como são os criadores da mesma. São os impulsos de génio desta vida. Mas essas
chamas criativas não nascem todos os dias – sendo, além do mais, vistos como
rebeldes pela sua geração porque vivem no futuro, pensamento, acção e
sentimento muito à frente e muito mais rápido; como dizia Lispector, “vivendo
várias vidas numa só”.
A nível social, podem mudar os governos ou os macro-sistemas. Analisando a
situação de resistência à mudança de um ponto de vista socio-cultural, verificamos
que Portugal se encontra numa posição extremamente demonstrativa do quão
resistente é a sua sociedade à mudança. No modelo da bússola cultural de
Hofstede (cujo centro de Estudos Culturais está na Finlândia), é dos países que
menos se abre à mudança obtendo 99% em 100 na escala de relutância à novidade,
encarando-a com estranheza e desconfiança. Isto explica o porquê de sermos tão
agarrados às ideias, às pessoas, ao que temos, por receio do que possa vir. De
igual forma, explica provérbios tais como “Antes diabo conhecido do que bem
desconhecido” ou “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”. Em suma:
preferimos mais do mesmo ainda que estejamos mal do que arriscar no imprevisto
que pode vir a resultar bem.
Até agora, expressei que a mudança é inevitável, sendo uma das forças chave
da Natureza e que, apesar disso, o ser humano e, mais concretamente, o
português é muitíssimo resistente à mudança, preferindo não a viver e fazendo
de tudo para conservar o que já existe ad aeternum. Tal contradição mais
não faz que provocar dor nos sujeitos porque resistir ao inevitável é tão
inútil quanto penoso.
Porém, é necessária muita cautela. Quanto falamos de mudança convém
sinalizar que, segundo as leis universais, existem dois tipos de mudanças: a
mudança cíclica e a mudança evolutiva. Isto significa que nem toda a mudança
traz, necessariamente, evolução e, por conseguinte, positividade, já que o
sentido da vida é, em última análise, crescimento e ascensão.
A mudança cíclica, como o nome indica, não passa de um retomar de ciclos
uns a seguir aos outros. Repare-se como as estações são prova disto mesmo, ou
seja, todos os anos se repete a Primavera e assim sucessivamente, voltando
todas elas a ter o seu lugar, de forma mais ou menos fulgurante a cada volta,
atrás de tempo mais tempo vem. Estes ciclos têm um nobre propósito de nos
confirmar que a roda continua… porém, não conduzem a progresso.
A mudança evolutiva tem muito de perspectiva darwiniana, ou seja, implica
mudança através dos tempos com um propósito definido, sendo este um objectivo
de modificação pois que o mundo assim o exige. A esta mudança subjaz uma noção
de aperfeiçoamento e, como tal, de fortalecimento, progresso e elevação. Esta é
a real mudança que merece ser realizada.