Na última crónica, escrevi sobre as técnicas que o linguista e filósofo Noam Chomsky identificou como sendo as 10 técnicas de manipulação de massas, usadas por quem está no poder para manusear o pensamento do público sem que este se aperceba. Por questões de espaço, falei apenas das 5 primeiras na crónica anterior. Agora, vou explorar as últimas 5 técnicas que Chomsky identificou. Esta crónica fará mais sentido para quem tiver lido a última crónica. Re-começando, então, com a 6ª técnica.
6)Utilizar a emoção muito mais que a reflexão. Esta técnica não é exclusiva
do discurso político nem da imprensa para manipular o público; porém, é
bastante utilizada também nestes registos, simplesmente porque resulta muito. Ao
utilizar um discurso amplamente emocional, neutraliza-se a parte racional,
fazendo com que o público seja extremamente tocado na emoção e, paralelamente,
anulado no seu raciocínio. Desejos, medos, compulsões, vontades, e toda a
panóplia de emoções conscientes ou inconscientes do público são activadas por
palavras, notícias, discursos que apelam à vibração emotiva. Sabendo nós hoje –
porque já demonstrado pela ciência – que a força máxima do instinto activado nubla
a razão, o sentido crítico do público fica absolutamente delegado para segundo
plano, isto quando não desaparece completamente.
7)A sétima técnica consiste em manter o público no máximo de ignorância
possível. A ignorância conduz à ausência de ferramentas para que o povo possa
compreender os métodos, estratégias, tecnologia e demais desígnios que são
utilizados para a sua manipulação, controlo, e – segundo Chomsky –
“escravidão”. Se quando Chomsky empregou a palavra escravidão, ela pareceu
exagerada, talvez nos últimos dois anos já seja interessante reflectirmos até
que ponto somos livres perante a redução de liberdades drasticamente imposta a
nível mundial. Chomsky também apontava fortes críticas à educação e à
mediocridade que nela se vivia. Teremos avançado algo de positivo? Segundo o
próprio, a educação é extremamente “classista”, ou seja, as classes menos
economicamente favorecidas (no fundo, a maioria do povo) recebe
propositadamente uma educação bastante pobre para que a sua ignorância seja
mantida o mais possível e, assim, nunca exista verdadeira igualdade de
oportunidade para todos.
8)A oitava técnica está intimamente ligada com a sétima. Trata-se de fazer
crer ao público que a incultura está na moda. Por outras palavras, trata-se de
estimular o povo a ser complacente com a própria mediocridade a tal ponto que a
deseje. Isto atinge-se fazendo da vulgaridade uma moda desejável (vide reality
shows, certos programas em que se explora a intimidade e o drama
questionável, tudo é comum, tudo é banal, todas são potenciais prima donna,
todos são potenciais Hulk, gritos são saudáveis, etc, etc). Outras
formas são fazer heróis populares de pessoas que nunca seriam heróis no
verdadeiro sentido da palavra, ou seja, pessoas sem real mérito nem talento,
que são apenas personagens espalhafatosas. Com isto, se atinge outra questão
importante que é: ensina-se a desvalorização do mérito, do espírito de
sacrifício e do valor, visto que – para obter o que se designa por sucesso
social – basta ser um pouco palhaço, e convém até não ter grandes qualidades.
9)A nona técnica é a de reforçar o sentimento de culpa individual de cada
um de nós, fazendo-nos crer que cada pessoa é intimamente culpada pelas desgraças
que o assolam (mesmo que estas sejam de cariz social, como o desemprego). Desta
forma, em vez de se revoltarem contra o estado de coisas geral ou contra o
sistema, as pessoas desvalorizam-se, inibem-se ou até caem em depressão. O mais
importante é que não reagem e não se revoltam contra os poderes vigentes. A
culpa será sempre dos indivíduos. Podemos facilmente observar isto na
quantidade de livros de auto-ajuda hoje muito populares que fazem com que
acreditemos que, se nos melhorarmos, teremos sucesso. Se não temos sucesso na
vida é porque não fomos capazes de evoluir como seres humanos. O sistema, esse,
diz que oferece as mesmas possibilidades a todos.
10) A décima técnica é a que permite que todas as outras sejam postas em
prática. Segundo Chomsky, as elites têm acesso a todas estas técnicas porque
conhecem em profundidade os avanços da psicologia, da neurobiologia, dos
processos de marketing, ao passo que o homem comum os desconhece. Assim, os
poderosos acabam por conhecer mais do povo, cientificamente falando, do que ele
se conhece a si mesmo, permitindo-lhe manipular as massas de forma que a elite
continue sendo elite e o público permaneça seu escravo.
Resta-nos, pois, conhecer para resistir.