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Wednesday, October 6, 2021

Técnicas de Manipulação - Parte II

Na última crónica, escrevi sobre as técnicas que o linguista e filósofo Noam Chomsky identificou como sendo as 10 técnicas de manipulação de massas, usadas por quem está no poder para manusear o pensamento do público sem que este se aperceba. Por questões de espaço, falei apenas das 5 primeiras na crónica anterior. Agora, vou explorar as últimas 5 técnicas que Chomsky identificou. Esta crónica fará mais sentido para quem tiver lido a última crónica. Re-começando, então, com a 6ª técnica.

6)Utilizar a emoção muito mais que a reflexão. Esta técnica não é exclusiva do discurso político nem da imprensa para manipular o público; porém, é bastante utilizada também nestes registos, simplesmente porque resulta muito. Ao utilizar um discurso amplamente emocional, neutraliza-se a parte racional, fazendo com que o público seja extremamente tocado na emoção e, paralelamente, anulado no seu raciocínio. Desejos, medos, compulsões, vontades, e toda a panóplia de emoções conscientes ou inconscientes do público são activadas por palavras, notícias, discursos que apelam à vibração emotiva. Sabendo nós hoje – porque já demonstrado pela ciência – que a força máxima do instinto activado nubla a razão, o sentido crítico do público fica absolutamente delegado para segundo plano, isto quando não desaparece completamente.

7)A sétima técnica consiste em manter o público no máximo de ignorância possível. A ignorância conduz à ausência de ferramentas para que o povo possa compreender os métodos, estratégias, tecnologia e demais desígnios que são utilizados para a sua manipulação, controlo, e – segundo Chomsky – “escravidão”. Se quando Chomsky empregou a palavra escravidão, ela pareceu exagerada, talvez nos últimos dois anos já seja interessante reflectirmos até que ponto somos livres perante a redução de liberdades drasticamente imposta a nível mundial. Chomsky também apontava fortes críticas à educação e à mediocridade que nela se vivia. Teremos avançado algo de positivo? Segundo o próprio, a educação é extremamente “classista”, ou seja, as classes menos economicamente favorecidas (no fundo, a maioria do povo) recebe propositadamente uma educação bastante pobre para que a sua ignorância seja mantida o mais possível e, assim, nunca exista verdadeira igualdade de oportunidade para todos.

8)A oitava técnica está intimamente ligada com a sétima. Trata-se de fazer crer ao público que a incultura está na moda. Por outras palavras, trata-se de estimular o povo a ser complacente com a própria mediocridade a tal ponto que a deseje. Isto atinge-se fazendo da vulgaridade uma moda desejável (vide reality shows, certos programas em que se explora a intimidade e o drama questionável, tudo é comum, tudo é banal, todas são potenciais prima donna, todos são potenciais Hulk, gritos são saudáveis, etc, etc). Outras formas são fazer heróis populares de pessoas que nunca seriam heróis no verdadeiro sentido da palavra, ou seja, pessoas sem real mérito nem talento, que são apenas personagens espalhafatosas. Com isto, se atinge outra questão importante que é: ensina-se a desvalorização do mérito, do espírito de sacrifício e do valor, visto que – para obter o que se designa por sucesso social – basta ser um pouco palhaço, e convém até não ter grandes qualidades.

9)A nona técnica é a de reforçar o sentimento de culpa individual de cada um de nós, fazendo-nos crer que cada pessoa é intimamente culpada pelas desgraças que o assolam (mesmo que estas sejam de cariz social, como o desemprego). Desta forma, em vez de se revoltarem contra o estado de coisas geral ou contra o sistema, as pessoas desvalorizam-se, inibem-se ou até caem em depressão. O mais importante é que não reagem e não se revoltam contra os poderes vigentes. A culpa será sempre dos indivíduos. Podemos facilmente observar isto na quantidade de livros de auto-ajuda hoje muito populares que fazem com que acreditemos que, se nos melhorarmos, teremos sucesso. Se não temos sucesso na vida é porque não fomos capazes de evoluir como seres humanos. O sistema, esse, diz que oferece as mesmas possibilidades a todos.

10) A décima técnica é a que permite que todas as outras sejam postas em prática. Segundo Chomsky, as elites têm acesso a todas estas técnicas porque conhecem em profundidade os avanços da psicologia, da neurobiologia, dos processos de marketing, ao passo que o homem comum os desconhece. Assim, os poderosos acabam por conhecer mais do povo, cientificamente falando, do que ele se conhece a si mesmo, permitindo-lhe manipular as massas de forma que a elite continue sendo elite e o público permaneça seu escravo.

Resta-nos, pois, conhecer para resistir.