... "And now for something completely different" Monty Python

Wednesday, November 3, 2021

Luzes

Chegados ao fim do ano no calendário gregoriano, é o tempo de muitas diferentes culturas espalhadas pelo mundo celebrarem a Luz. Diwali é o Festival das Luzes para os Hindus, Budistas e Sikhs; Hannukah é a Festa das Luzes para os Judeus. Sem querer ser extensiva, eis um rápido "toca e foge".

Diwali (cujo nome significa “uma série de luzes”) simboliza a vitória simbólica da luz sobre as trevas, e bem assim do conhecimento sobre a ignorância e do bem sobre o mal. A história do festival varia conforme as religiões. Por exemplo, no Hinduísmo celebra-se o retorno da esperança e dedicam-se vários rituais à deusa Lakshmi, iluminando tanto a casa como os espaços exteriores com luzes várias e brincando com bombinhas de artifício.

Hannukah ( a dedicação) é igualmente um festival de recuperação, após a destruição do segundo templo. Fala da re-edificação do templo, onde deveria haver uma luz a brilhar. Infelizmente, reza a história que só havia óleo para um dia devido à devastação da luta. Porém, deu-se um milagre e o óleo da lâmpada durou uma semana, daí que o festival também dure uma semana, onde se acende uma nova vela a cada pôr do sol.

O curioso dualismo luz e trevas está presente em todas as culturas e teologias: a luz associada ao divino, e bem assim à verdade, à inocência, à virtude; as trevas associadas ao pecado, e como tal à maldade, ao diabólico e à podridão.

A dualidade luz-trevas aparece nas mais antigas filosofias do Leste, como a de Confúcio, como uma metáfora para questões éticas, sempre o bem sendo simbolizado pela luz e o mal pela escuridão. Também no Ocidente, com Platão, esta dicotomia se apresentava do mesmo modo. De resto, os estudiosos de Pitágoras e da sua Tábua de Opostos também lá encontram “luz versus escuridão” como uma das questões filosóficas a explorar.

Ainda hoje, a nossa cultura tem bem enraizada esta ideia. Basta pensarmos que nos referimos à Idade Média como a Idade das Trevas e chamamos ao Séc. XVIII o Iluminismo; as injustas superstições relativas aos gatos pretos (um dos animais mais bonitos que existem) versus os gatos brancos; as vestes culturalmente observadas quanto ao luto no Ocidente por oposição às virginais roupas dos casamentos e angelicais brancos dos baptizados. O conceito está por todo o lado. Até os fãs de “A Guerra das Estrelas” não se esquecem de que existe um lado luminoso – o de Luke Skywalker – e um lado escuro – o do seu pai, Darth Vader, que se tornou num refrão em muito merchandising que ostenta “Come to the dark side”.

No Ocidente, a religião também teve um papel na criação do mito luz e trevas. É na narrativa da criação do mundo, vulgo Génesis, que se encontra a sua raiz. Logo no primeiro dia, a primeira acção divina é a criação de luz:“E Deus disse “Faça-se Luz”. E houve luz. E Deus viu a luz, que era boa, e Deus dividiu a luz das trevas. E Deus chamou à luz dia, e às trevas chamou noite. E no dia houve a manhã e também a tarde.” (Génesis)

Reparem que eu nunca disse branco e preto, disse luz e trevas. Esse não é sequer um debate. Embora esta metáfora tenha sido muitas vezes usada para intensificar racismos e outras ridicularias, não é isso que está na base do conceito. Nem poderia, porque a pele mais sedosa do mundo é a que contem mais melanina.

Importante a reter é que a Luz é algo a atingir enquanto claridade, visão, amplidão, verdade, alegria, prosperidade. Se trevas são equivalentes a ignorância e a escassez, quem quer associar-se com isso?