Até aos anos 90, usurpar a identidade de outrem era um assunto moroso: aceder a dados burocráticos, fotografias e informações pessoais de cada um era um processo complexo. Implicava papeladas, perguntas a muitas pessoas, e dores de cabeça. Mas desde o advento da internet, usurpar identidades passou a ser fácil como um clique.
O cibercrime inclui o roubo ou a apropriação indevida de identidade. Tem
mesmo enquadramento jurídico, que se pode dividir em áreas tão diversas como o
roubo de identidade de dados (infantil ou adulta), fraudes financeiras, médicas
ou documentais, e até o roubo de identidade sintética, que é algo bastante
elaborado: trata-se de copiar alguém de forma sistemática, efectivamente
tornando-se uma versão copy cat do indivíduo X. Este último caso está
muito bem exemplificado no filme de 1992 Jovem Procura Companheira, em
que uma jovem é pouco a pouco despojada da sua identidade por outra que tem uma
obsessão por ela e que se vai “tornando” na primeira jovem pouco a pouco: copia
desde hobbies, características físicas, situações de vida, etc… numa tentativa
de anular a primeira, e tomar o seu lugar. No mundo virtual, isto é muito mais
fácil de fazer, não só pela facilidade de descobrir informações mas pelo uso fácil
de truques tecnológicos como manipulação de áudio, imagens e construção de
vídeos.
Só o fazem pessoas sem escrúpulos, com algum tempo livre e que vivem
obcecadas por alguém. É preciso ter sede de controlo, falta de personalidade ou
um problema psiquiátrico. Não raro estas pessoas projetam nos outros os seus
próprios demónios. Existem, é claro, também os trabalhos de equipa, no qual
alguns dos envolvidos o fazem para ganhar ou extorquir dinheiro à custa destas
usurpações de identidade.
Quem me segue na net, já sabe que recentemente tive a confirmação do que já
suspeitava há muito. Também eu tenho um clone. Bem feitinho. De tal forma que
tive de pedir auxílio a um amigo que percebe do assunto para me explicar como
tal era possível. O facto é que a pessoa (ou pessoas) em questão usaram fotos
minhas, cenários meus, os meus dados de nascimento, os meus hobbies, textos
meus plagiados ou alterados, etc. Portanto, é como a antiga publicidade do café
Brasa “Parece que é… mas não é”. É descafeinado. Não sou eu, mas era tal e
qual. Entretanto, outra amiga que é terapeuta na net alertou-me que já lhe
tinha acontecido algo igual e pasme-se! Que até tinham alterado vídeos dela e
usado para fins menos lícitos. É (também) isto a internet. Preocupa-me, para
além de ter um stalker, a intenção disto tudo.
Este tipo de crimes vai passando incólume. Tudo o que se passa na net é trans-mundial,
e cada país tem legislação diferente pelo que a punição acaba por nunca se
realizar. Isto quando se consegue provar alguma coisa, o que quase nunca
acontece. Na net, o que hoje é verdade, amanhã já é mentira. Eu mesma tirei a
prova pois assim que eu fiz saber que estava ciente do que se passava, as
contas “desapareceram”. Mas a “pessoa” já tem os dados. Claramente andou a
colectá-los para alguma coisa e pode ressuscitá-los quando quiser, pelo que
aquilo que hoje sinto é apenas um (muito) falso sentimento de segurança. Hoje em
dia basta um miúdo que saiba mexer bem num computador para termos um “clone”
nosso a pedir, em nosso nome, dinheiro, intimidades, ou outra bomba qualquer.
Avisei os meus amigos publicamente na internet há alguns dias atrás e agora
aviso aqui: muito cuidado com seja o que for porque claramente há aqui alguém
com projectos muitíssimo obscuros. A verdade é que ninguém faria um clone com
tanta paciência e devoção para nada. Descobrimos (eu e o meu amigo informático)
contas tão antigas como datando de 2014, portanto é alguém que já vem,
assustadoramente, preparando o seu terreno há anos. Também descobrimos contas
com ligação ao Brasil, mas nunca se sabe nesta época de VPNs de onde vem um
email ou de onde sai uma conta – neste aspecto, permaneço na dúvida.
Como me disse meu pai, certo dia: “A vida é diferente da escola. Na escola,
a gente aprende e depois faz a prova. Na vida, a gente tem uma prova… e depois
aprende.” Quem não se identificar com esta afirmação, também não tem de forçar
concordância porque eu não tenho intenção de dar lições. Como todo o ser
humano, estou na fase da aprendizagem. Mas uma coisa posso dizer sem receio de
errar: ninguém é como cada um de nós. Esse é o nosso poder. Não vale a pena
desperdiçá-lo, tentando ser outra pessoa.