Com certeza que já viram as famosas estatísticas (da World Values Survey, disponível online) que revelam onde, neste planeta, é que as pessoas se consideram mais felizes. Estas partiram de uma pergunta simples, que se pode traduzir assim: "Tomando tudo em conta, diria que é muito feliz, feliz, não muito feliz ou infeliz?" As estatísticas da felicidade, por país, foram medidas pelo número de pessoas que se classificou como "muito feliz" ou "feliz".
Espantosamente, Portugal ficou em 31º lugar. Mais abaixo, explico porque usei aqui o advérbio "espantosamente".
Os três primeiros lugares da tabela são ocupados pela Islândia, Suécia e Dinamarca. Admitamos, desde já, que os países nórdicos têm pouco de comum entre si, tanto em costumes como (ou ainda menos...) em sentimento de união, e que a Islândia não será "irmãzinha" da Suécia, por exemplo.
Surpreende-me que o povo sueco esteja em segundo lugar na lista dos mais felizes. Afinal, é um dos povos europeus com maior taxa de suicídio (estatísticas da World Health Organization, disponíveis também). Podemos discutir que estão apenas a exercer a sua liberdade, é certo. No entanto, folheando uma revista (umazinha só!, o Courrier International de Agosto) encontrei as seguintes notícias sobre a Suécia:
1) O Instituto Internacional de Defesa Sueco vai passar a ter livre acesso e a poder interceptar quaisquer e-mails, sms e chamadas telefónicas que os suecos recebam vindas do estrangeiro. Isto porque nunca se sabe quem é que recebe o que eles denominam "mensagens cifradas" de "forças negativas". Quem decide quais são não está especificado e quem descodifica as supostas cifras também não. Em Psicologia Aplicada não é a isto que se chama "paranóia"?...
2) Numa escola em Lund, os convites da festa de aniversário de um aluno de 8 anos foram confiscados pelo professor, porque ele não tinha convidado dois dos seus coleguinhas. A escola não tolera a discriminação: se há uma festa, todos os rapazes ou todas as meninas (gira, a separação!) têm de ser convidados. Como o pai deste menino não achou graça, levou o caso ao Parlamento sueco.
A relevância dos assuntos discutidos no Parlamento só têm comparação com a preocupação dada à vida íntima de cada cidadão expressa no ponto 1.
3) Os suecos costumam ir tomar a vodka que fabricam à Dinamarca, porque a política de consumo de álcool na Suécia é muito restrita (ok,"muito" depende do ponto de vista: nos bares é preciso ter 20 anos para consumir álcool com mais de 3.5% vol.). isto não faz com que deixem de beber, mas dificulta o trânsito marítimo seguro no estreito entre os dois países, sobretudo à noite. Mas quem quer saber dos acidentes marítimos extra-territoriais dos cidadãos quando nas estradas tudo corre bem? A imagem de um país está salvaguardada.
Bom, talvez o conceito de "felicidade" na Suécia seja um pouco diverso, não é?...
Por curiosidade, refiro que o 50º lugar da tabela da felicidade era da Bulgária. mas num país onde abanar a cabeça para os lados significa "sim" e e abaná-la para cima e para baixo significa "não" (ao contrário da maior parte dos países deste mundo), as pessoas devem andar verdadeiramente confundidas.
Mas voltemos a Portugal e ao advérbio que utilizei. Custa-me interiorizar que tanto habitante de Portugal se tenha considerado feliz quando o que vejo é que há um grande número de pessoas com tendência para a vitimização (estatísticas de Carla Cook, não disponíveis porque ninguém tem acesso à mente da mesma). Pessoas que, ao falarem de si, agem sempre como se o desenrolar dos acontecimentos da vida fossem independentes delas próprias e da sua vontade, quanto mais da sua acção.
Antigamente, havia a noção fatalista do destino; hoje, está na moda a noção enjoadinha - ainda por cima, falha de sentimento e sobre a qual ninguém escreverá romances trágicos - da vítima. A vítima é aquele pobre ser a quem tudo de mal acontece sem que ele tenha culpa de nada, já se vê, porque é uma pessoa impecável e sabe Deus como é que os outros (ou seja, o restante Mundo) lhes estão sempre a passar incríveis rasteiras impiedosamente. Claro que é muito mais fácil adoptar esta atitude passiva e queixinhas perante a própria existência, porque assim se descarta de todas as responsabilidades acerca do que faz - a Culpa é sempre das outras pessoas (de toda a gente, menos do ser a quem se lamenta no momento).
É espantoso como a malta que se vitimiza obtém sucesso. É a senhora que faz beicinho e suspira "que não pode mais de calor e vai desmaiar" e passa à nossa frente e à frente de mais dez na fila, apesar de estarmos todos à espera há mais de três horas, alguns de nós terem crianças ao colo e outros serem seniores; é o colega que "tem e sempre teve dificuldades na vida" com eterna baixa, quando somos nós que estamos doentes e o vemos a passear as suas dificuldades na praia enquanto vamos a caminho do médico, atafulhados em papéis do serviço que devia ser ele a fazer; é a amiga que nos acorda às três da manhã porque se vai suicidar se não a formos já buscar porque "está perdendo a cabeça por este homem" que a deixou e nós vamos a correr, em pijama, aflitíssimas, para a encontrar perfeitamente bem, arqueando a sobrancelha e dizendo "olha, vieste depressa!".
Não há paciência. Apetece oferecer uma viagem low-cost a esta gente. Podia ser para a Suécia, já agora.
1) O Instituto Internacional de Defesa Sueco vai passar a ter livre acesso e a poder interceptar quaisquer e-mails, sms e chamadas telefónicas que os suecos recebam vindas do estrangeiro. Isto porque nunca se sabe quem é que recebe o que eles denominam "mensagens cifradas" de "forças negativas". Quem decide quais são não está especificado e quem descodifica as supostas cifras também não. Em Psicologia Aplicada não é a isto que se chama "paranóia"?...
2) Numa escola em Lund, os convites da festa de aniversário de um aluno de 8 anos foram confiscados pelo professor, porque ele não tinha convidado dois dos seus coleguinhas. A escola não tolera a discriminação: se há uma festa, todos os rapazes ou todas as meninas (gira, a separação!) têm de ser convidados. Como o pai deste menino não achou graça, levou o caso ao Parlamento sueco.
A relevância dos assuntos discutidos no Parlamento só têm comparação com a preocupação dada à vida íntima de cada cidadão expressa no ponto 1.
3) Os suecos costumam ir tomar a vodka que fabricam à Dinamarca, porque a política de consumo de álcool na Suécia é muito restrita (ok,"muito" depende do ponto de vista: nos bares é preciso ter 20 anos para consumir álcool com mais de 3.5% vol.). isto não faz com que deixem de beber, mas dificulta o trânsito marítimo seguro no estreito entre os dois países, sobretudo à noite. Mas quem quer saber dos acidentes marítimos extra-territoriais dos cidadãos quando nas estradas tudo corre bem? A imagem de um país está salvaguardada.
Bom, talvez o conceito de "felicidade" na Suécia seja um pouco diverso, não é?...
Por curiosidade, refiro que o 50º lugar da tabela da felicidade era da Bulgária. mas num país onde abanar a cabeça para os lados significa "sim" e e abaná-la para cima e para baixo significa "não" (ao contrário da maior parte dos países deste mundo), as pessoas devem andar verdadeiramente confundidas.
Mas voltemos a Portugal e ao advérbio que utilizei. Custa-me interiorizar que tanto habitante de Portugal se tenha considerado feliz quando o que vejo é que há um grande número de pessoas com tendência para a vitimização (estatísticas de Carla Cook, não disponíveis porque ninguém tem acesso à mente da mesma). Pessoas que, ao falarem de si, agem sempre como se o desenrolar dos acontecimentos da vida fossem independentes delas próprias e da sua vontade, quanto mais da sua acção.
Antigamente, havia a noção fatalista do destino; hoje, está na moda a noção enjoadinha - ainda por cima, falha de sentimento e sobre a qual ninguém escreverá romances trágicos - da vítima. A vítima é aquele pobre ser a quem tudo de mal acontece sem que ele tenha culpa de nada, já se vê, porque é uma pessoa impecável e sabe Deus como é que os outros (ou seja, o restante Mundo) lhes estão sempre a passar incríveis rasteiras impiedosamente. Claro que é muito mais fácil adoptar esta atitude passiva e queixinhas perante a própria existência, porque assim se descarta de todas as responsabilidades acerca do que faz - a Culpa é sempre das outras pessoas (de toda a gente, menos do ser a quem se lamenta no momento).
É espantoso como a malta que se vitimiza obtém sucesso. É a senhora que faz beicinho e suspira "que não pode mais de calor e vai desmaiar" e passa à nossa frente e à frente de mais dez na fila, apesar de estarmos todos à espera há mais de três horas, alguns de nós terem crianças ao colo e outros serem seniores; é o colega que "tem e sempre teve dificuldades na vida" com eterna baixa, quando somos nós que estamos doentes e o vemos a passear as suas dificuldades na praia enquanto vamos a caminho do médico, atafulhados em papéis do serviço que devia ser ele a fazer; é a amiga que nos acorda às três da manhã porque se vai suicidar se não a formos já buscar porque "está perdendo a cabeça por este homem" que a deixou e nós vamos a correr, em pijama, aflitíssimas, para a encontrar perfeitamente bem, arqueando a sobrancelha e dizendo "olha, vieste depressa!".
Não há paciência. Apetece oferecer uma viagem low-cost a esta gente. Podia ser para a Suécia, já agora.