Eis o cenário: uma publicação decide ter uma secção feminina e monitoriza mulheres para lá escreverem. Erro crasso, quanto a mim, pois todos sabemos que se há algo que interessa às mulheres é saber o que pensam os homens e teria sido muito mais inteligente ter posto homens a escrever para mulheres. “Vê se escreves umas crónicas mais femininas, sff. Coisas que interessem às mulheres: casa, moda…Ou até literatura. Emancipação das mulheres também está in. Mas num estilo suave” diz-me o editor.
Fui investigar sobre o que seria essa peregrina ideia, “assuntos exclusivos de mulheres”. Rebusquei algumas teorias muito enraizadas na nossa cultura dita popular, determinada a defender o meu género e a acabar com essas parvoíces.
Teoria 1: Mulher é igual a coscuvilheira. Eu, contrariamente, sou demasiado reservada. No entanto, o mund(inho) é feito pelos exemplos de personagens conhecidas e não por anónimas como eu. Procurei entre as famosas líderes de hoje em dia (de quem ninguém se lembrará daqui a cinquenta anos, mas adiante…)
Por exemplo, a chanceler alemã Angela Merkel que acaba de dizer ao Financial Times que não aceitou entrar para a Polícia Secreta na sua juventude porque “Impunham a condição de manter a boca fechada”. Felizmente, abriu-se-lhe o risonho futuro da política, onde fechar a boquinha não é sine qua non e para alguns tem até ajudado, olhai a Angela… Logo, tive de me dar por vencida e pôr esta teoria de parte, com elegância.
Teoria 2: Mulheres não percebem nada de Economia. Eu, confesso, não percebo. Fui à lista de laureadas com o Prémio Nobel. Jamais uma mulher foi laureada com o Nobel da Economia. 12 obtiveram o Nobel da Paz; 11 o da Literatura; 8 o da Medicina; 3 o da Química e 2 o da Física, sendo que a espantosa Marie Curie foi a única a ter dois Nobel, e os menos concorridos pelas senhoras, em dois anos diferentes (1903 e 1911), numa altura em que a Ciência dura era território unicamente masculino. Mas se formos à procura da sua bibliografia, ela aparece sempre como “esposa de Pierre Curie”. Parabéns, Pierre. Duvido que alguém saiba o nome da mulher do Einstein…
Temos, portanto, uma imagem da mulher como ser conciliador, dado às letras (a arte é metafísica, como sabemos), e sanadora – oh, não há imagem mais calmante nem mais maternal do que a de uma enfermeira ou a de uma mamã cuidando de um bebé doente. Agora mulheres que sejam capazes de prémios por bem lidarem com questões financeiras? Nem pensar, isso é coisa de homens! Serei só eu a pensar que há fortes arquétipos por detrás do Nobel?
Teoria 3: Mulheres bem sucedidas no mundo de hoje são giras. Quase nem ia investigar esta ao lembrar-me da Sra. Ferreira Leite. Mas depois lembrei-me que não sei se lhe posso chamar “bem sucedida” e decidi continuar… Tive conversas profundas (tanto quanto ela conseguia) com a Barbie do escritório – em cada lugar há uma, elas estão aí. Pois, não quer dizer que sejam giras, mas lá que são high maintenance, são: quilos de make-up e o tamanho das unhas só ultrapassado pela agulha dos saltos. A nossa Barbie, blond como só ela, disse-me coisas bem acertadas dentro do seu género: que um executivo só precisa de parecer sério mas uma executiva precisa de parecer séria e sexy, o que não é nada fácil. Isto porque uma mulher apelativa tem muito mais hipóteses de fazer valer o seu ponto de vista. Toma lá, Cook, “e vai cortar a franja, não se te vêem os olhos”. Reparem que ela disse “apelativa”, não disse “atraente”, portanto ser bonita não tem a ver para o caso, mas parecer é crucial. Para quem quer isso da vida, claro.
Então e o meu artigo feminino? Cumpri. Começava com uma frase da Margaret Thatcher, uma senhora antipática, que bem merece o cognome de ferro, mas a frase era a propósito: “To be a Leader is just like being a Lady: if you have to remind people that you are one it’s because you are not.”