... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, August 7, 2009

A Diferença entre um Herói e uma Chiclet

Minha avó não acreditava na ida do Homem à Lua. Se tivesse lido a reportagem da Time sobre os homens que foram à Lua, ficaria plenamente convencida. A Lua nunca mais deixou quem lá foi. Não é fácil andar no espaço, literalmente falando.


Alguém se lembra do segundo homem que pisou a superfície lunar? Toda a gente sabe quem foi o Neil Armstrong, mas jamais alguém recorda os restantes. Heróis sem distinção, vivem na sombra do primeiro, gigante entre os gigantes um pouco por acaso.


A NASA escolheu os seus astronautas não pelo cienticifismo mas pelo sangue frio. Além disso, um dos critérios era que não fossem dados nem a filosofias nem a lirismos, que dão muito pouco jeito na imensidão e no vazio espacial. Mas mesmo estes homens duros tinham sentimentalismos, como atesta uma das fotografias da superfície lunar: um dos souvenirs é uma foto plastificada da família de um astronauta (os ambientalismos ainda não eram moda na cratera da Lua, deixámos plástico e não foi problema!)


E como voltaram eles à vida civil depois de terem sido os mitos da Idade Moderna de todo o Planeta, sem exagero? Mal. Tinham 30 e muitos anos, perceberam que tinham feito a acção mais notória das suas vidas e agora era preciso encher o que lhes faltava viver com trivialidades (para aí metade de um século, mais ou menos). Para além da depressão que segue os famosos quando a imprensa e público deixam de lhes prestar atenção - como disse o Comandante Lovell “temos de encontrar o nosso caminho sozinhos para fora do palco”- estes homens têm o plus de numa semana terem estado na Lua e na seguinte estarem na sua casinha, a ver televisão. Não deve ter havido maior fissura existencial na História humana. Dado que tinham passado boa parte do tempo anterior à conquista do espaço a preparar-se e motivar-se para isso, com aquela especial característica de brainwash que caracteriza os grandes eventos, depois sofreram uma enorme e abrupta sensação de perda de si mesmos quando o objectivo foi ganho. É o verdadeiro “quem sou eu?” e o real “o que faço aqui na Terra?”.


Surpreendentemente, a NASA, que tanto cuidado tinha tido com a preparação dos seus meninos, deixou-os à deriva: “we breed them as we need them”, ou seja, criamo-los conforme precisamos deles. Como todas as grandes forças.


Depressões incluídas, nenhum encontrou mais significado na Lua do que a fotografia que lá deixou. Nem mais significado na Terra do que o carinho de quem ficou à sua espera. Uns são políticos, outros pintores, outros professores e Charlie Duke fundou o Instituto de Noetic Sciences: “A minha viagem à Lua foi a minha experiência ah-ha, algo holístico, de cura interior.”


Não será que usamos os nossos heróis como chicletes?...