... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, July 23, 2010

A Teoria dos Jogos

No Courrier International deste mês, há um artigo muito interessante em que se diz que o Prof. Bueno de Mesquita (actualmente recrutado pela CIA) utiliza um método quase infalível para avaliar das hipóteses probabilísticas de acontecimentos futuros relevantes na política e diplomacia mundiais, como a futura estratégia de Pequim ou o Irão como provável potência nuclear. Trata-se da Teoria dos Jogos, espécie de simulação na qual se introduzem todas as variáveis possíveis tendo em vista a hipótese A ou B e se obtém a resposta para o que vai realmente acontecer. Exemplo: O Irão será (hipótese A) ou não (hipótese B) uma potência nuclear? O Prof. põe no computador o Presidente iraniano, o Ayatollah, o Conselho de Segurança da ONU, os radicais iranianos, os EUA, Israel, enfim, as colectividades e individualidades envolvidas, tudo isto em índices de 0 a 200 numa escala que avalia a determinação dos participantes em atingir os objectivos. Claro que isto é só o início… Mesquita diz que o computador no qual se introduzem dados não é propriamente adivinho; basta-lhe ter em conta que toda a gente toma sempre as decisões simultaneamente mais racionais e mais egoístas. É baseado nesta premissa que ele tem previsto os acontecimentos das últimas décadas. A CIA agradece.


Apesar do jogo matemático ser interessante, é a teoria de base que me fascina. De facto, há uma teoria socio-antropológica denominada “social exchange” (é capaz de ser “troca social” em português, mas confesso que não estudei em versão traduzida) que diz que as relações humanas são formadas numa perspectiva de custo/beneficio, ou seja, damos o que esperamos obter e, simultaneamente, quem recebe fica pressionado a dar em igual parte.

Parêntesis para dizer que esta teoria é amada pelos economistas que assim têm a satisfação de reduzir as relações humanas à linearidade dos números e a uma espécie de sobe-desce de bolsa de valores de ordem sentimental. Por outro lado, os defensores do altruísmo e de teses como a do sentimento maternal ser tão forte como o da sobrevivência, acham que isto são balelas. Certo é que esta teoria fez um imenso furor por épocas do meu nascimento (pois, eu nasci na pior época para um bebé ser feliz, mas em contrapartida ficámos todos muito witty! Basta ver a bomba que são as letras dos Pearl Jam.)

A Teoria do Social Exchange implica pensar-se na reciprocidade por antecipação, fazendo tudo por recompensa e esperando sempre influenciar os outros (toda a influência, por si só, é a nosso favor, mesmo que se reflicta apenas em mecanismos de controlo social identitário como a tão falada reputação e/ou a construção de uma imagem pública).

Já estão a ver o quanto se interligam estas teses… Vão todas dar direitinhas à Teoria da Escolha Pública, de onde, curiosamente, Mesquita foi beber a sua Teoria dos Jogos. A Teoria da Escolha Pública é a ciência política utilizada em campanhas para a acção dos agentes políticos (e, o que é fantástico, analisa mesmo dois candidatos concorrentes face a eleitores médios que são, afinal, quem os elege), as suas decisões para chegar ao poder ou permanecer nele e a sua habilidade de compromisso em satisfazer o eleitorado ou fazer coligações. A base continua a ser a mesma que é utilizada na Teoria dos Jogos: escolhas racionais e egoístas e a previsão do comportamento do oponente, tão racional e egoísta quanto o do visado. Bom, mas isto é conversa académica… claro que há pessoas muito mais habilitadas para esta dissertação.

Mesquita afirma que a Teoria dos Jogos – afinal, pura estratégia - resulta porque o comportamento das pessoas é muito previsível, sendo que elas decidem sempre tentando obter o que é melhor para si. Só se tem de analisar os condicionantes.

Se a CIA confia e tem provas que o mundo é egoísta por natureza… quem sou eu, ser humano que gosta genuína e fatalmente de outros, para duvidar?

Post-Scriptum: Fui alertada para o facto das minhas crónicas serem “muito pouco light, nada a condizer com aquilo que se espera duma rapariga em pleno Verão”. Vou fazer por colocar adoçante no chá das cinco ou, em alternativa, recorrer a uma lobotomia. (smile)