Em Maio deste ano, 3 cientistas da Universidade de British Columbia – Joe Henrich, Steven Heine e Ara Norenzayan – publicaram um estudo que caracteriza a sociedade “Western, Educated, Industrialized, Rich and Democratic”, em acrónimo WEIRD, intitulado “The weirdest people in the world?”. O estudo questiona a fundamentação das teorias psicológicas feitas até hoje, sendo estas feitas com base num corpus que tem em conta apenas elementos desta sociedade, pressupondo a priori que não há variação significativa na população humana em termos comportamentais e intelectuais, como sejam percepção, concepção, motivação, senso ético, cooperação, QI. Segundo os autores, nada há de mais errado. Os WEIRD não só representam numericamente apenas 12% da raça humana como são (tal como o nome indica) estranhos, reagindo de modo diverso aos restantes seres; logo, não devem constituir base de dados fiável, muito menos única para teorizar sobre a mente e acção humanas.
Comprovando isto mesmo, os cientistas foram até ao Chile e Perú jogar Ultimatum com a tribo indígena dos Machichuenga, que até hoje vive na selva mantendo as suas tradições originais. Importa explicar que o Ultimatum é um jogo recente de duas décadas, que têm sido usado em experiências psicológicas e também económicas. Funciona assim: o jogador 1 tem uma determinada soma de dinheiro e tem de fazer uma oferta de uma parte do que tem ao jogador 2. Se ele aceitar a oferta, cada um fica com a parte que lhe coube; se ele rejeitar, o jogador 1 também fica sem nada.
Quanto daria você? As experiências provam que, em média, um jogador 1 WEIRD oferece cerca de metade, regra geral 48%. Um WEIRD tem a noção de que uma oferta demasiada baixa leva a que o seu “opositor” não aceite. Com razão, pois um jogador 2 WEIRD tem tendência a rejeitar ofertas abaixo de 40% do valor total, pela injustiça que vê na proposta.
Parece que a Humanidade não WEIRD que jogou este jogo (Machichuenga incluídos) pensa de forma muito mais brilhante do ponto de vista económico: os primeiros nunca oferecem metade do dinheiro que têm e os segundos jamais recusam qualquer oferta de dinheiro grátis, ainda que seja pouca.
Claro que esta é apenas a experiência ponto de partida para um artigo controverso que propõe uma re-organização metodológica das ciências comportamentais num sentido de cruzamentos culturais, dos quais têm andado afastadas ao julgar tudo pelo padrão WEIRD. É a nova onda da Psicologia Cultural de Shweder, que começou nos EUA mas que a Viena de Freud já abraçou largamente.
Henrich e os co-autores do estudo dizem que os Ocidentais têm intuições erradas acerca da Psique humana e dão vários exemplos, e.g.: todos conhecemos o teste das linhas, uma simples e uma com uma seta, na qual julgamos que uma é menor por ilusão óptica. Parece que os WEIRD são os únicos a sofrer dessa ilusão. Até as tribos do deserto do Kalahari sabem que as duas linhas têm o mesmo tamanho, claro, só um WEIRD é que não vê!
Conclusão: ainda é prematuro dizer quão estranhos são os WEIRD, mas parece que apenas partilham com o resto da raça humana as ostentações de orgulho e vaidade e as emoções do acasalamento. Tudo se torna, porém, mais difícil de estudar quando os únicos humanos dedicados à sua própria teorização são WEIRD...
O estudo de Henrich abre a porta para que o cientista comportamental do Ocidente deixe de se olhar como superior e passe a encarar muitas variáveis possíveis dentro dos padrões humanos, o que levará a revolucionar um paradigma que já não serve há muito, num mundo em que crianças de pais de duas culturas diferentes vão viver para um país terceiro e continuam a ser avaliadas evolucionalmente de forma antiquada.