Uma das questões que mais tem preocupado as pessoas ao longo dos tempos é a da liberdade de escolha – se existe ou não, quanta temos tendo em conta as restrições conjunturais e se a andamos a “usar” de modo que a nossa vida seja a melhor possível. Na sociedade ocidental industrializada, é dogmático pensar-se na liberdade de escolha como um valor essencial à felicidade do indivíduo numa escala proporcional, isto é, quanto maiores forem as possibilidades de escolha e menores as limitações do indivíduo para escolher de entre estas, maior será a sua possibilidade de se sentir feliz. Dificilmente encontraremos alguém que discorde desta proposição.
Mas será realmente assim? Barry Schwartz, psicólogo americano cujas palestras disponíveis na internet bem como a sua coluna de opinião são famosas, escreveu The Paradox of Choice. Segundo Schwartz, que contraria a opinião institucionalizada, a enorme abundância de escolhas que o mundo actual nos oferece torna-nos relutantes na tomada de decisões, pensativos após decidirmos, e, em última análise, mais infelizes.
Schwartz aponta exemplos de decisões diárias cujas consequências são praticamente irrelevantes para o nosso futuro, como que molho escolher para o almoço de entre os vários disponíveis no stand de saladas ou que par de jeans comprar de entre as muitíssimas e confusas variedades que hoje nos oferecem as lojas de pronto a vestir (já para não falar na dificuldade que é encontrar um telemóvel que, pura e simplesmente, sirva para telefonar e não venha com mil e quinhentos acessórios de entre os quais somos obrigados a escolher…). De facto, se pensarmos bem, toda a nossa vida é composta de decisões, mais ou menos importantes.
Existem, claro, decisões bem mais complexas e cujas consequências podem ser definidoras de um percurso de vida: casar ou não? Casar agora ou deixar para mais tarde? Investir numa carreira ao invés de numa vida íntima plena? Investir primeiro na carreira e depois na intimidade? Ter filhos ou não? Esperar para os ter? Até quando? E tê-los com quem? Estará essa pessoa inclinada a fazer as mesmas decisões que nós? Onde será mais adequado viver? Nos dias que correm, até podemos escolher a nossa nacionalidade, dentro de certas limitações. Schwartz, professor no Swarthmore College, diz que recomenda muito menos trabalho aos seus alunos hoje em dia, não porque tenha alunos menos inteligentes mas porque as gerações actuais passam cada vez mais tempo dilaceradas por dúvidas profundas e legítimas que não assaltavam as gerações anteriores.
Isto acontece porque a nossa sociedade actual oferece um leque muito variado de opções, o que acarreta um esforço bastante acrescido para chegar à tomada de decisão. Não se trata apenas de ter mais dificuldade em decidir; as pessoas querem fazer “a decisão certa”, pois o elevado número de alternativas possíveis conduz a uma situação psicologicamente penosa: o elevar de expectativas de tal modo que se chega a acreditar que, de entre tantas possibilidades, uma há-de haver que seja perfeita.
Expectativas demasiado elevadas só têm um fim correspondente qualquer que seja a escolha - desapontamento. Na realidade, é quase impossível que o mundo tal qual ele é vá corresponder à nossa imaginação delirante e influenciada pelo marketing (quer falemos de jeans ou do príncipe encantado).
Tristemente, a desilusão não é ainda o fim deste processo. As pessoas acabam por se culpabilizar por aquilo que, a posteriori, consideram ter sido a sua má escolha. Como é que não foram suficientemente espertas ou não passaram tempo suficiente a analisar todas as hipóteses?!… Afinal, escolheram algo absolutamente inadequado: uns jeans que magoam, um marido que se revelou tão diferente da inicial perspectiva encantadora… E a culpa de quem escolhe, fruto da sua responsabilidade, marca como a dor do erro.
Schwartz acredita em dois segredos fundamentais para bem viver: primeiro, ter expectativas baixas; segundo, manter o máximo de opções em aberto, fazendo escolhas pouco limitativas. Como dizia certo professor de Ética que muito admiro, “evita o que te encerra e o que te enterra”. Isto reduz a possibilidade de ficarmos a braços com o custo psicológico de decisões irreversíveis.
O paradoxo da escolha num mundo de hipóteses mil é este: a infinidade de possibilidades conduz à paralisia na acção. Pensamos continuamente se faremos o melhor e, logo, não agimos. Finalmente, dado o salto, interrogamo-nos se o melhor não está ainda por aparecer ou não nos passou ao lado. Vivemos exaustos à beira da multiplicação do livre arbítrio.
Parafraseando Schwartz, ter liberdade é melhor do que não ter, mas um número demasiado grande de escolha como a abundância que a nossa sociedade apresenta só traz infelicidade. Ninguém quer viver dentro de quatro paredes… mas ter alguma noção de limite é essencial para o bem-estar. Eu só não sei qual é o limite certo e Schwartz também anda à procura dele.