... "And now for something completely different" Monty Python

Sunday, February 5, 2012

Educação Sexual ou Uma Coisa no Género?



“Assembleia Legislativa dos Açores aprovou o programa de Educação para a Saúde, que prevê a obrigatoriedade da educação sexual em todos os níveis de ensino e em todas as escolas” diz a notícia, e acrescenta ser de “forma a que os alunos desenvolvam conhecimentos e adquiram […] comportamentos adequados face à saúde sexual e reprodutiva". O diploma prevê a distribuição de anticoncecionais nas escolas, o que parece ser o único foco de discordância entre os partidos no Parlamento, já que, de resto, concordam com a Sra Secretária que diz que “mais de 50% dos alunos nunca falaram com os pais sobre sexualidade” indo a escola, agora, colmatar essa lacuna.

Quem vai lecionar esta aula? Se é um professor de Biologia, limitando a educação sexual ao funcionamento reprodutivo, a verdade é que a concepção e gravidez já faziam parte do programa. Será um profissional de saúde (alheio ao corpo docente) que vai falar de doenças sexualmente transmissíveis? No meu 9ºano, havia uma disciplina chamada Saúde que abordava as DST. Será o psicólogo da escola, porque se terá em conta que sexualidade não é só biologia? Hipótese viável, já que, no Homem, os instintos se interligam com as emoções e os pensamentos (não há memória de outra espécie ter inventado o erotismo…) No entanto, se vamos dizer aos alunos de 15 anos que a sexualidade é questão para psicólogos não sei até que ponto não os assustamos! Será o professor de Moral? Mas eu não quero que o meu filho tenha a disciplina de Moral…

Preocupa-me a resposta. A sexualidade não é só uma questão de saúde; implica a vivência íntima das pessoas, seus afectos, orientação do comportamento, responsabilidade, valores, crenças. Quem vai “ensinar” tudo isto a um filho meu e em que diretrizes o fará? Será um docente moralista e conservador que lhe dirá que determinadas coisas são pecado e determinados comportamentos uma doença e um desvio? Será um docente libertino que dirá que, com um preservativo, qualquer coisa vale a pena? Ninguém pensou que a transmissão de princípios ou até de estereótipos relativamente a este assunto pode ser exactamente contrária àquela que os pais incutem aos filhos – até porque nem todos desejamos transmitir a mesma coisa … A sexualidade varia e mal será quando decidirmos que ela tem de ser normatizada nas jovens mentes pelo Estado.

Qual é o programa desta disciplina? Também quero saber o que significa “a todos os níveis de ensino”: a sexualidade deve ser assunto abordado naturalmente assim que a criança perguntar mas não uma imagem abusiva impingida à força antes das questões.

Só ouvi as forças decisoras preocupadas com o problema da gravidez precoce. Preocupante, de facto, mas não creio que a gravidez apareça porque os jovens não sabem usar métodos contracetivos ou não lhes têm acesso (são de distribuição gratuita às adolescentes nos nossos Centros de Saúde). Na Grã-Bretanha, a Educação Sexual existe na escola desde a Grande Guerra o que não impede que continuem a ter a taxa mais alta da Europa de gravidez na adolescência. A grande maioria das jovens engravida porque vê aí um escape desesperado (e irresponsavelmente muito mal pensado) para a vida que tem, prova de quanto os afectos – em que ninguém pensou nesta Lei! – são mal geridos. Os tais jovens que não comunicam com os pais não estão sedentos de aulas de fisiologia mas de uma oportunidade nova na vida. Já na Holanda, a Educação Sexual envolve tópicos como o evitar do abuso violento e o poder e direito da escolha individual: eis o país com a taxa mais baixa de gravidez na adolescência.

Dêem-se competências parentais aos pais que delas precisam para evitar que sejam avós precoces, porque, caso contrário, o ciclo vai repetir-se ad aeternum; não os desresponsabilizem, colocando na escola toda a função e decisão de criar os filhos, sem sequer dar aos professores formação para tal. 

Uma disciplina de Educação para a Saúde nos moldes em que está pensada pode descansar a cabeça estadual, mas não mudará a realidade social. Se olharmos para a política europeia, vemos que um preservativo não muda mentalidades nem resolve o assunto; se, porém, nos limitamos a esta “educação”, admita-se que não passa de uma operação de cosmética.