Romance inicialmente proibido na
África do Sul, passa-se nos anos 70, em Joanesburgo, onde ser branco ou negro
faz toda a diferença. Rose Burger, ainda menina, vê o seu pai, branco, membro
do Partido Comunista e activista anti-apartheid, ser preso. O pai morre na
cadeia, deixando Rose órfã de pais mas não de convicções. Sozinha, sem a
companhia do irmão negro Baasie, que os seus pais tinham adoptado mas seus tios
não aceitaram, Rose começa a viver com um namorado, Conrad, por quem não está
apaixonada mas cuja companhia lhe é vital. É Conrad quem faz Rose questionar-se
sobre a sua cega obediência à família Burger e a faz pensar qual é, realmente,
a sua identidade. Rose passa a ser membro activo do Partido Comunista, amante
do influente Chavalier e vive no estrangeiro durante algum tempo. Mas é difícil
ser apenas Rose quando a mística de ser filha de Burger é uma constante na sua
vida, para o bem e para o mal… Rose reencontra Baasie, e fica chocada quando
percebe que não só ele não quer a companhia dela como critica a atitude
paternalista e burguesa de Rose e dos pais no envolvimento na luta
anti-apartheid: “Baasie nunca foi o meu nome! Vocês nem sabem qual é o meu nome
verdadeiro!” Rose volta a África e prossegue a sua luta – mas a maior luta da
sua vida é saber quem é, na verdade, Rose… para além de ser a filha
privilegiada de um mártir chamado Burger.
Nadine Gordimer ganhou o Nobel da
Literatura em 1991 “pela sua magnífica escrita épica da qual resultou grande
benefício para a Humanidade”. Uma branca nascida na África do Sul, filha de
pais contra o regime mas não particularmente activistas, embora as ideias
peculiares da sua mãe a levassem a educar a filha em casa por considerar que
uma sociedade tão pouco justa não lhe formaria uma boa personalidade. Apesar da
(ou por causa da) sua educação não ortodoxa, Gordimer já publicava ficção aos
15 anos. Ainda hoje vive em Joanesburgo, onde se destacou por lutar contra o
apartheid e, mais recentemente, na luta contra a SIDA. As suas posições fortes
levaram a que fosse atacada, mas Gordimer nunca quis viver numa situação de
protecção oficial nem sair do país. Recusou ser distinguida com o famoso Orange
Prize, por este premiar apenas mulheres. Acerca da sua escrita, Gordimer
referiu que também ela sofria “as lânguidas evasões da culpa liberal”, mas é
indiscutível que ela é muito mais que uma autora anti-regime – a sua capacidade
de representar conflitos culturais, redenção e esperança dentro de células
familiares bem como de nações elevam-na à universalidade.