... "And now for something completely different" Monty Python

Saturday, February 4, 2012

A Filha de Burger de Nadine Gordimer



Romance inicialmente proibido na África do Sul, passa-se nos anos 70, em Joanesburgo, onde ser branco ou negro faz toda a diferença. Rose Burger, ainda menina, vê o seu pai, branco, membro do Partido Comunista e activista anti-apartheid, ser preso. O pai morre na cadeia, deixando Rose órfã de pais mas não de convicções. Sozinha, sem a companhia do irmão negro Baasie, que os seus pais tinham adoptado mas seus tios não aceitaram, Rose começa a viver com um namorado, Conrad, por quem não está apaixonada mas cuja companhia lhe é vital. É Conrad quem faz Rose questionar-se sobre a sua cega obediência à família Burger e a faz pensar qual é, realmente, a sua identidade. Rose passa a ser membro activo do Partido Comunista, amante do influente Chavalier e vive no estrangeiro durante algum tempo. Mas é difícil ser apenas Rose quando a mística de ser filha de Burger é uma constante na sua vida, para o bem e para o mal… Rose reencontra Baasie, e fica chocada quando percebe que não só ele não quer a companhia dela como critica a atitude paternalista e burguesa de Rose e dos pais no envolvimento na luta anti-apartheid: “Baasie nunca foi o meu nome! Vocês nem sabem qual é o meu nome verdadeiro!” Rose volta a África e prossegue a sua luta – mas a maior luta da sua vida é saber quem é, na verdade, Rose… para além de ser a filha privilegiada de um mártir chamado Burger.


Nadine Gordimer ganhou o Nobel da Literatura em 1991 “pela sua magnífica escrita épica da qual resultou grande benefício para a Humanidade”. Uma branca nascida na África do Sul, filha de pais contra o regime mas não particularmente activistas, embora as ideias peculiares da sua mãe a levassem a educar a filha em casa por considerar que uma sociedade tão pouco justa não lhe formaria uma boa personalidade. Apesar da (ou por causa da) sua educação não ortodoxa, Gordimer já publicava ficção aos 15 anos. Ainda hoje vive em Joanesburgo, onde se destacou por lutar contra o apartheid e, mais recentemente, na luta contra a SIDA. As suas posições fortes levaram a que fosse atacada, mas Gordimer nunca quis viver numa situação de protecção oficial nem sair do país. Recusou ser distinguida com o famoso Orange Prize, por este premiar apenas mulheres. Acerca da sua escrita, Gordimer referiu que também ela sofria “as lânguidas evasões da culpa liberal”, mas é indiscutível que ela é muito mais que uma autora anti-regime – a sua capacidade de representar conflitos culturais, redenção e esperança dentro de células familiares bem como de nações elevam-na à universalidade.