... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, June 8, 2012

Paizinho


Há menos de um mês, o Sr. Primeiro Ministro fez reconfortantes declarações ao país na tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e Inovação. De facto, nada melhor do que aproveitar a ocasião de um Conselho para a Inovação para nos trazer ar fresco. Nesse sentido, o Sr. Primeiro Ministro dirigiu-se, sábia e calorosamente, aos que mais sufocados se encontram: os desempregados, naturalmente em dificuldades. Cito: “Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade”.

É a esperança e o optimismo em todo o seu esplendor. Estar sem emprego (e o que é mais, ser demitido!) não é mau, não. É uma oportunidade. É o Novas Oportunidades II - e todos aqueles ligados à Educação conhecem os efeitos do I… É incrível como o povo português cuja “cultura média […] tem aversão ao risco” (estou a citar novamente) ainda não se tinha apercebido da chance que é levar um chuto da entidade patronal e ficar sem dinheiro ao fim do mês. Felizmente, temos um PM que nos abre os olhos para um novo caminho a desbravar. É como um pai que mostra aos filhos perdidos no mundo, queixinhas, pessimistas, ou – no dizer do próprio – uns “piegas”, que existem imensas possibilidades. Enquanto povo, podemos não ter uma vida fácil, mas lá que temos um dirigente superior que nos ajuda a ver a razão, disso não haja dúvidas.

O Sr. Primeiro Ministro defende uma “alteração da nossa cultura” por “um maior dinamismo e uma cultura de risco e de maior responsabilidade, seja nos jovens, seja na população em geral”. O problema, convenhamos, está em sermos uns amorfas. Como andávamos há imenso tempo na boa vida, com comida na mesa, dinheiro para medicamentos quando necessário e até houve alguns de nós que decidiram ter filhos, o PM – como qualquer pai preocupado e honesto – fez o que se impunha: cortou benefícios à criançada para que aprendam o que é a vida dura. Sem empregos e sem dinheiro, vamos lá a ver como se aguentam. Vamos lá a ver se é agora que arriscam e me desamparam a casa, que é como quem diz o País, e emigram lá para fora que aqui há mais bocas que ele necessita de alimentar.

Só tive dificuldades em perceber a parte em que se falou de “responsabilidade”. Afinal, todos nós, filhotes pertencentes ao povo, sabemos que a nossa admiração filial repousa, em última análise, no reconhecimento das qualidades dos nossos pais / governantes. Não creio que falar numa qualidade que eles próprios não tenham demonstrado ter até à data seja benéfico ou instaurador desta mesma qualidade no seu rebanho… Afinal, fazer mais um Conselho Nacional (de Inovação), cujos objectivos e existência são discutíveis em tempo de crise, leva, por si só, a pensar…

Quanto ao mais, todos conhecemos a técnica: submeter-nos o mais possível porque povo com fome é povo obediente. Dizem. Mas existe aí um pequeno senão: é que povo com fome revolta-se. Nunca se deve subestimar um adversário que foi levado até às últimas consequências.