... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, December 7, 2012

Vendas no Templo


Não sei quando é que as Universidades começaram a fazer Open Days e outras campanhas de marketing. A primeira vez que o vi, lecionava numa Universidade da América do Norte e foi espantoso verificar a importância que tal tinha. Até então, eu só tinha estudado e trabalhado em universidades europeias, onde não se cultivava ainda o conceito de mercantilização das instituições do ensino superior.

De lá até então, sinto que o caminho foi feito neste sentido, sobretudo desde Bolonha. Nos Açores, há Professores cujo conhecimento sobre a Academia lato sensu e a experiência pedagógica constituem uma mais valia para se pronunciarem sobre o ensino, pelo que estas linhas não pretendem ser nada mais do que uma opinião (breve gizado em espaço exíguo) de quem lecionou e leciona no Ensino Superior.

As razões pelas quais uma Universidade se torna apetecível podem ser de vária ordem. Mas essas não são, necessariamente, as mesmas razões que fazem dela uma Universidade de qualidade…

Atualmente, há uma tentação para “vender” as Universidades, o que advém do panorama financeiro que atravessamos. Para tal, utilizam-se os mais diversos atrativos, passando a Instituição a ser um produto, em concorrência com outros tantos, que pretende cativar público, ao invés de ser aquilo para que foi criada: um templo de busca do conhecimento (e não “um templo do saber” que seria uma perspetiva estática e arrogantemente fechada a um grupo de – quiçá auto-denominados – escolhidos). Na ideal tentativa de tentar alcançar sempre um patamar científico mais elevado, não se pretenderia que a Universidade fosse impenetrável à comunidade e muito menos murada a qualquer tipo de conhecimento. Mas esses bons propósitos sobre a abertura da Academia ao mundo e aos mundos – magistralmente ficcionalizados numa obra literária de Herman Hesse – acabaram por ser mal interpretados por quem de direito e aí temos que não só se abriram as portas a toda a gente, quase deixando de haver critérios de seleção, como estão as Universidades famintas por alunos, a quem tentam agradar o mais possível.

De local de eleição, a Universidade passou a local vulgarizado. De que vale hoje uma licenciatura? Tirando a óbvia conjuntura da fraca empregabilidade – que, aliás, não tem relação direta com os estudos desde há anos -, a licenciatura não só deixou de ter valor enquanto título académico como passou também a ser um motivo de troça. Todos conhecemos as piadas que se fazem sobre licenciaturas, nomeadamente sobre as que são conseguidas em determinadas Universidades e sobre as de certos dirigentes políticos…

Os mestrados vão pelo mesmo caminho. Desde que o Mestrado de Bolonha passou a ser equivalente à antiga Licenciatura que o Mestrado pré-Bolonha vem perdendo todo o crédito e hoje só o Doutoramento vale algo. Porém, tendo em conta que se podem comprar teses de Doutoramento a professores que, devido à crise nas Universidades, entraram no desemprego precoce, também o Doutoramento é pouco reconhecido.

Perante tudo isto, quo vadis? Não sei, mas como dizia o poeta, “sei que não vou por aí”.