Não sei quando é que as Universidades começaram a fazer Open Days e outras
campanhas de marketing. A primeira vez que o vi, lecionava numa Universidade da
América do Norte e foi espantoso verificar a importância que tal tinha. Até
então, eu só tinha estudado e trabalhado em universidades europeias, onde não
se cultivava ainda o conceito de mercantilização das instituições do ensino
superior.
De lá até então, sinto que o caminho foi feito neste sentido, sobretudo
desde Bolonha. Nos Açores, há Professores cujo conhecimento sobre a Academia lato sensu e a experiência pedagógica constituem
uma mais valia para se pronunciarem sobre o ensino, pelo que estas linhas não
pretendem ser nada mais do que uma opinião (breve gizado em espaço exíguo) de quem
lecionou e leciona no Ensino Superior.
As razões pelas quais uma Universidade se torna apetecível podem ser de
vária ordem. Mas essas não são, necessariamente, as mesmas razões que fazem
dela uma Universidade de qualidade…
Atualmente, há uma tentação para “vender” as Universidades, o que advém do
panorama financeiro que atravessamos. Para tal, utilizam-se os mais diversos
atrativos, passando a Instituição a ser um produto, em concorrência com outros
tantos, que pretende cativar público, ao invés de ser aquilo para que foi
criada: um templo de busca do conhecimento (e não “um templo do saber” que
seria uma perspetiva estática e arrogantemente fechada a um grupo de – quiçá
auto-denominados – escolhidos). Na ideal tentativa de tentar alcançar sempre um
patamar científico mais elevado, não se pretenderia que a Universidade fosse
impenetrável à comunidade e muito menos murada a qualquer tipo de conhecimento.
Mas esses bons propósitos sobre a abertura da Academia ao mundo e aos mundos –
magistralmente ficcionalizados numa obra literária de Herman Hesse – acabaram
por ser mal interpretados por quem de direito e aí temos que não só se abriram
as portas a toda a gente, quase deixando de haver critérios de seleção, como
estão as Universidades famintas por alunos, a quem tentam agradar o mais
possível.
De local de eleição, a Universidade passou a local vulgarizado. De que vale
hoje uma licenciatura? Tirando a óbvia conjuntura da fraca empregabilidade –
que, aliás, não tem relação direta com os estudos desde há anos -, a
licenciatura não só deixou de ter valor enquanto título académico como passou
também a ser um motivo de troça. Todos conhecemos as piadas que se fazem sobre licenciaturas,
nomeadamente sobre as que são conseguidas em determinadas Universidades e sobre
as de certos dirigentes políticos…
Os mestrados vão pelo mesmo caminho. Desde que o Mestrado de Bolonha passou
a ser equivalente à antiga Licenciatura que o Mestrado pré-Bolonha vem perdendo
todo o crédito e hoje só o Doutoramento vale algo. Porém, tendo em conta que se
podem comprar teses de Doutoramento a professores que, devido à crise nas
Universidades, entraram no desemprego precoce, também o Doutoramento é pouco
reconhecido.
Perante tudo isto, quo vadis? Não
sei, mas como dizia o poeta, “sei que não vou por aí”.