Estou num grupo de trabalho com um homem e seis mulheres. Numa conversa
informal que se gerou sobre o modo como nos posicionam profissionalmente, o meu
colega disse, de forma casual: “Para mim, a vida é mais fácil. Sou homem: vocês
dão-me mais crédito quando falo.” Podem imaginar o coro de protestos de todas,
que o chamámos desde machista a intolerante passando por retrógrado e
antiquado. Ele sorriu e fez aquele gesto que significa mais ou menos
“resmunguem para aí que eu cá sei!”
Mas, se pensarmos bem, ele tem razão. Quando queremos uma opinião, todas
pensamos nele. Se temos de fazer equipas, todas preferem fazer equipa com ele.
A desculpa é sempre a mesma: mulheres preferem trabalhar com homens (já é pouca
sorte haver tão poucos, passe a ironia). Quando é necessária a revisão de um
assunto, nada está terminado antes de passar por ele. Apesar do meu colega não
ser chefe, ocupa, sem dúvida, a posição de destaque e tem a primazia da escolha
e do reconhecimento.
Sem qualquer questão, ele é um excelente profissional. Mas, como o próprio
diz, “ser homem ajuda muito para ser reconhecido como tal” e eu acrescento:
sobretudo quando se está rodeado de mulheres!
O facto é que as mulheres sofrem de dois malefícios: o primeiro é serem
educadas a pensar que os homens são uns heróis e que, sem os homens, elas não
são nada. Em todas as histórias infantis, são os homens que salvam a situação e
as mulheres esperam ser salvas (vide Cinderela, Branca de Neve, Bela Adormecida
e até a menina do Capuchinho Vermelho, todas incapazes de se livrarem do
infortúnio até aparecer um macho). É por isso que quando calha a uma mulher a
suprema desgraça de ser maltratada por um homem, ela surpreende-se e muito:
então não era suposto exactamente o contrário?
A mulher é formatada desde a infância para acreditar que os homens são
confiáveis, protectores e naturalmente bons. Não há homens maus, a não ser que
estejam a ser manobrados por más mulheres (casos do papá da Cinderela e da Branca
de Neve, que eram bonzinhos mas tiveram o problema de serem seduzidos por vis
serpentes). O segundo mal decorre deste: é que, da mesma forma, a mulher é
formatada para acreditar que as restantes mulheres são invejosas, más e só não
darão cabo dela se não puderem – vejam as irmãs feias da Cinderela, a fada
despeitada da bela Adormecida, a mãe descuidada do Capuchinho e a quantidade de
madrastas roídas de ciúmes assassinos. Aliás, há fantásticas histórias, como a
de Hansel e Gretel, em que a madrasta, maquiavélica e cruel, decide colocar os
meninos na floresta para que morram à fome e o pai, “destroçado de desgosto,
cumpre a ordem da infame mulher”, como se não tivesse tino para fazer outra
acção de sua própria cabeça. Mais tarde, aceita os filhos de volta, porque a
madrasta morreu – seria curioso saber se este idiota os aceitaria noutra
condição.
Portanto, o problema das mulheres é competirem inconscientemente umas com
as outras para serem a heroína da história. Assim, qualquer mulher que tenha a
desgraça de ser bonita ou inteligente ou, suprema desgraça, tenha várias
qualidades recebe imediatamente um ranger de dentes das outras mulheres.
Sobretudo, se ela for pessoa de arregaçar as mangas e matar ela própria o Lobo
Mau. Isso, então, nunca se admite.
Quanto aos homens, bem… Não fiquem a pensar que o facto de endeusarmos o
meu colega tem um cariz sexual. Efectivamente, ele é homossexual assumido. Mas,
ainda assim, as mulheres endeusam os homens. Porquê? Isso, não sei. Freud
explica.