... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, March 15, 2013

Infantários para Pais, sff!



Gisèle Harrus-Révidi, diretora da área de investigação psicossomática da Universidade Paris VII, escreveu “Pais Imaturos e Crianças Adultos”, obra que nos fala do que a autora chama “o abandono de luxo”. Esse assunto secreto de famílias social e financeiramente bem estabelecidas não vai nunca parar aos Serviços Sociais, até porque falamos de pais que ocupam situações de destaque na comunidade. Estes pais têm filhos porque ter filhos faz parte da visão de sucesso que impera na sociedade e não porque sejam minimamente vocacionados para pater ou mater famílias. Consequentemente, estas “personalidades equívocas, no limite do normal” acabam por praticar uma violência surda sobre os filhos que, por não ser tão espetacular como outros abusos e ser mascarada pelos próprios, passa por não existente.

Révidi refere que, apesar de ser uma profissional muito experiente, só detetou o evidente absurdo da imaturidade dos pais ao ver que havia crianças hipermaduras, com uma mentalidade adulta já na infância. Os filhos, obrigados a crescer antes do tempo, nunca tiveram infância nem adolescência, porque desde sempre habituados a tratar das suas coisas como adultos independentes. Quanto aos pais imaturos, se lhes é sugerido visitar o psicólogo, de imediato assumem que os filhos são desenquadrados, mas eles – narcisistas crónicos - jamais, pois estão sempre bastante satisfeitos com a sua prestação na vida.

Um sintoma habitual a um pai imaturo é que, nunca tendo alcançado a sua autonomia, procura sempre um pai… Na falta dos seus (de quem nunca se separa), atira as suas responsabilidades para o Estado – o que não impede que o critique, mas pode, deste modo, permitir-se que alguém “faça o trabalho de criar os filhos por ele.”

Dos filhos, esperam mimos e satisfação dos seus caprichos. Estes pais vêem o ciclo da vida ao contrário. São os filhos que devem ajudá-los, protegê-los, realizar os seus sonhos, ser um amparo. Não é raro ver meninos de 10 anos a confortar pais de cinquenta que choram. Como é difícil para estes meninos perceber que são eles os guardiões dos pais! Esta inversão geracional até tem nome: parentificação.

O fenómeno é mais comum entre mães e filhas, talvez porque envelhecer seja mais difícil de aceitar para as mulheres. Dá-se o efeito “madrasta da Branca de Neve”: a mãe não suporta a frustração da filha ser mais jovem do que ela. Essa tentativa de abolição da passagem do ciclo da vida tem vários efeitos nefastos, acabando por se recusar qualquer ligação afetiva aos filhos, vistos como rivais.

Os pais imaturos são simpáticos e sociáveis, estão “sempre em festa”. As crianças adultos são tristes, mas sobretudo cansadas. Sofrem de “hipossedução”. Sendo órfãos psicológicos, bastaram-se a si mesmos e sempre ouviram dizer que eram “patinhos feios” pois é comum que os pais se portem como irmãos invejosos à medida que os vêem crescer e triunfar.

Paradoxalmente, estes meninos são, muitas vezes, brilhantes porque são mais esforçados e maduros. Mas a diferença paga-se caro.

Dizia-me uma adolescente com quem convivi muito: “Devia haver creches para os meus pais.” Parece piada de uma rebelde. Mas a verdade é que há pais e mães que têm filhos para auto-recreação.