... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, May 10, 2013

Como Ganhar Eleições



Desde já, quero salientar: não percebo nada deste assunto. Mas li um interessante artigo num número já antigo da revista Foreign Affairs – publicação americana sobre política internacional – que explica  tudo. De facto, a receita é tão velha que a Foreign Affairs utiliza nada mais nada menos que a prescrição de Quintus Tullius Cicero (102 AC-43 AC), cujo panfleto “How to win an election” foi recentemente publicado novamente pela Princeton University.
Quintus Tullius, ele próprio, não era famoso… Ao que se sabe, era um militar rebelde e as suas relações com a família não eram as melhores. Mas era irmão de Cícero (esse mesmo!), orador, político, filósofo, etc. Foi para este ilustre irmão, na época em campanha para alcançar um lugar no Senado romano, que Quintus Tullius escreveu estes conselhos, tão válidos antes de Cristo como hoje. Se não, vejamos…
Uma das primeiras coisas que Quintus faz é distinguir entre conduta honrosa e conduta política. Para angariar votantes, deve o candidato misturar-se com estúpidos (absurdus, no texto original). A hipocrisia – considerada habitualmente um modo de ser repulsivo na ética romana – é, porém, absolutamente necessária para o político.
Quintus explica também que há 3 elementos indispensáveis para garantir votos: esperança, favores e uma teia de relações. Despertar a esperança nas pessoas é relativamente fácil; segundo Quintus: basta fazê-las crer que estaremos sempre ao seu lado. Fazer favores (pequenos!) é indispensável e demonstra aos eleitores que recompensaremos muito a sua lealdade. Quintus sustenta que demonstrar incessantemente gratidão é extremamente importante. O político deve aparentar ser quase servil para poder mandar. Deve também ter boa memória pois o cidadão  aprecia imensamente ser chamado pelo nome e outras atenções individuais.
A amizade não existe na política. Mentir, sobretudo aos amigos, é essencial. É também muito importante reconhecer “as pessoas úteis” e as “inúteis” e nunca perder tempo com as segundas. Para as primeiras, adaptar o discurso e a expressão camaleonicamente.
As promessas nunca podem ser específicas mas sim sujeitas a mudança caso a conjuntura mude. É essencial estar do lado de todos e contradizer-se. A campanha deve atrair pelo espectáculo, fazendo esquecer a essência.
Se o político tiver falhas óbvias, use-as a seu favor. Faça o povo condoer-se e, logo de seguida, admirá-lo pelo seu despojamento público. Finalmente, não ignore o quão é importante denegrir os candidatos. Use de todos os meios, acusando-os seja do que for, pois mesmo que se prove ser falso, a sombra da difamação persiste.
Quintus sublinha ainda que podem ser usados os tribunais, inventando processos. Mas o resultado dos processos é irrelevante. O que interessa é o medo que se instila nos adversários, cuja acção fica tolhida ao saber que são perseguidos por meia Roma.
Note-se como este texto é curioso: Quintus aconselha o irmão a ser tudo aquilo que a ética romana despreza… mas adverte que é assim que alcançará o que quer: um lugar na política. 
Muito haveria para dizer, mas basta retirar daqui a ideia: passados mais de 2000 anos, a política não mudou nada. A política… ou os políticos?