Stephen Lea, professor de
Psicologia na Universidade de Exeter, lembrou-se em 2006 que a premissa social
de que o dinheiro é simples moeda de troca não fazia sentido por várias razões
– o dinheiro é um fim e não um meio (o que contradiz a própria premissa); cega
as pessoas a interesses de outra ordem; e, sobretudo, a aura do dinheiro é bem
maior do que o seu real valor.
Baseado em experiências nas quais
pedia a indivíduos que se pendurassem durante o maior tempo possível em barras
de ferro, Lea concluiu que as pessoas se deixavam cair mais depressa quando
recebiam encorajamento mas se esforçavam mais tempo se a recompensa fosse
dinheiro. E daí facilmente pôde verificar que os centros nervosos que se
“acendem” no cérebro quando a questão é dinheiro são os mesmos centros de
recompensa que ficam alerta quando as pessoas recebem substâncias consideradas
viciantes. Outras experiências confirmaram isto: o café, o chocolate, as drogas
ilegais (mutatis mutandis, claro)
causam um certo “high”... em nada diferente daquele que causa o dinheiro.
Como em todas as drogas, o
reverso da medalha é dolorosamente cruel. Raro é o ser humano que controla o
dinheiro mas vice-versa é bastante comum. Ou seja, para controlar o dinheiro é
preciso não estar viciado nele. Ao contrário do que se possa pensar, não são
pois os mais ricos que se controlam neste aspecto (de facto, esses estão
viciadíssimos e começam a cometer loucuras para alcançar mais e mais) mas sim
os que têm dinheiro suficiente para as necessidades básicas. Mais do que essa
quantia não torna ninguém mais alegre.
De facto, um dos problemas das
pessoas mais abastadas é descobrirem que não é o Mercedes que dá
felicidade; é a estrada. As maiores
satisfações da vida – e aqui voltámos às “luzinhas” dos tais centros de
recompensa – advém de experiências e não de posses. É por aquilo que decidem ou
não fazer que as pessoas se definem e é por essas oportunidades que se sentem
mais realizadas. Ou seja, em termos puramente materiais: dá-se mais uso às
hormonas da felicidade numa hora de karting do que por comprar um carro topo de
gama. É simples de explicar – a adrenalina de uma situação compensa-nos bem
mais do que um objecto.
No entanto, há que considerar um
aspecto importante. Como em tudo, é o cérebro que comanda; logo, o Mercedes não
traz felicidade mas a ideia de ter um Mercedes é bem capaz de trazer. Quer isto
dizer que embora a posse não contribua para a nossa satisfação, os conceitos
que temos acerca das coisas possuídas são – tal como o conceito do dinheiro –
bem maiores do que o seu valor real e é essa sobre-estimação que nos dá prazer
(embora relativo). O Mercedes em si não me completa; mas as associações do
carro com rapidez, status, elegância e outros conceitos fazem-me tê-lo em
conta. Como se vê, tudo coisas extra – e não raro anteriores! – ao acto de
posse. Parafraseando um velho amigo: “O melhor do amor está no subir da
escada.”
Curiosamente, o valor que ao
dinheiro se dá também acaba por nos retirar o prazer que temos noutras coisas.
Estudos mais recentes resultaram na demonstração de que as pessoas mais
abastadas não tinham tanto gozo na comida e restantes prazeres sensoriais como
os “remediados”. A explicação parece residir na adaptação tão profunda a um
estilo de vida economicamente mais folgado que acabam por não ser sensitivas
aos gozos mais instintivos, i.e. os de toda a gente. O dinheiro torna as
pessoas “snobs” mesmo ao nível dos prazeres.
Então, para melhor saborear a
vida, livre-se da demasiada importância dada ao dinheiro. Isto só é possível,
claro, se tiver o suficiente para cobrir as suas necessidades. Afinal, não são
apenas indivíduos que estão viciados no dinheiro – é toda uma sociedade. Eu
mesma não sei se escapei ao vício, já que dei por mim a pensar o quão
desagradável seria se alguém do Ministério das Finanças lesse, por acaso, este
artigo e fizesse dele uso pedagógico.