Começa quando
somos fetos. As nossas famílias (ou quem por nós vela) compram-nos roupinhas a
condizer: rosa para as meninas, azul para os meninos e a parafernália de
branco, amarelo e verde enquanto não se descobriu ainda o sexo do bebé. Depois,
na infância, há todo um ambiente caseiro e social que define o estatuto macho
ou fêmea comme il faut. Daí que se
dêem bonecas às meninas e carrinhos aos meninos e tanto uns como outros sejam
energicamente desencorajados de brinquedos contrários ao seu género, para que
as meninas estimulem a doçura e os rapazes a força. Claro que há brinquedos
andróginos, como os puzzles e os blocos de construções... Mas mesmo esses
ultimamente aprenderam a segmentar o seu público consoante o género. A Lego,
por exemplo, deixou de ter Lego unissexo (como tinha); agora tem Lego boys e
Lego girls e, surpreendentemente (ou não!), expandiu as suas vendas globais em
25% por causa disso e triplicou o número de meninas que brincam com Lego. Isto
porque a opção Girls está cheia de bonequinhas e casinhas fofinhas. Que
influenciáveis são as crianças, certo? Errado. Quem compra o produto não são
elas...
Os adultos
adoram produtos exclusivos para o seu género. Numa pequena volta ao
supermercado, reparem como está organizada a secção de higiene: shampoo para
homem, shampoo para mulher; lâminas de barbear para homem, lâminas depiladoras
para mulher; desodorizante para ele e para ela; enfim, a lista é interminável...
Agora, tirem um tempinho e verifiquem como os ingredientes do tal shampoo tão
específico são iguaizinhos quer diga Man ou Woman. A razão pela qual raramente
se dá por isso é que nem entramos na ala do supermercado específica para o
género oposto ao nosso.
Nem só na
higiene e beleza isto se verifica. Outro campo vasto é o das vitaminas e
suplementos alimentares ou cápsulas para desportistas. Ainda recentemente um
anúncio de vitaminas “para homem e para mulher em separado” deixava claras as
necessidades diferentes de um e de outro sexo após a meia idade, sublinhando
que “para além de necessitarem de
vitaminas para fazer frente às alterações da menopausa, as mulheres necessitam
de ter uma mente sempre activa.” Esta deliciosa publicidade não só esquece que
a andropausa existe - embora com menos fúria hormonal - como,
sub-repticiamente, lá vai dizendo que os homens não precisam de ter uma mente
activa depois dos 50.
Mas, afinal,
que ganham as marcas com isto? Vendem mais. Os lucros de todas as marcas que
fazem distinção de género nos seus produtos são consideráveis, exactamente a
partir do momento em que fizeram essa distinção. Além disso, aumentam os lucros
não só pelo número de vendas mas também pelo aumento de preços, considerando
que um produto específico tem de ser mais caro (apesar de ser igualzinho...).
Neste particular, note-se que os produtos para mulheres são geralmente mais
caros do que os produtos para homens e não é difícil perceber porquê: de forma
geral, as mulheres vão mais às compras. Só que, contrariamente aos anos 50, já
não querem comprar produtos que sirvam “para toda a família” (e.g. Pasta
Medicinal Couto), talvez porque a noção familiar se estilhaçou completamente.
Em boa verdade, isto dava um estudo muito mais profundo.
A febre já alcançou
o mundo da eletrónica. A Fujitsu lançou um laptop para mulheres chamado “Floral
Kiss”. Tem adornos com brilhantes e flores, horóscopo integrado e é
especialmente desenhado para as “unhas longas das senhoras”, esse atributo
secretarial de excelência.
Para cativar o
seu público-alvo, as companhias apostam também nas embalagens. O velho
estereótipo das cores continua a funcionar bastante bem. De igual modo, linhas
curvas, flores e texturas suaves estão nos produtos para mulheres; embalagens
quadradas, ângulos rectos e, se possível, poucos desenhos e a inclusão de
números – os homens acham que os números validam seja o que for – encontram-se
nos produtos masculinos. Ainda assim, é
mais comum ver uma mulher usar um produto “for men” do que o contrário, provavelmente
pela mesma razão que faz com que uma mulher não se sinta muito chocada por ir
ao WC masculino se estiver aflita mas um homem prefere ir a um cantinho da via
pública do que ser visto a entrar no WC feminino. Coisas...