... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, December 18, 2015

Un Natal Lusitano

O Natal é prova de que a igualdade de género ainda não chegou às casas portuguesas. No Natal, enquanto os homens estão sentados a comer, a ver televisão, a conversar, a beber e a descansar de terem comido e bebido, as mulheres estão a preparar comida e a limpar, a embalar presentes, a decorar, e a preparar mais comida. No meio de tudo isto, não percebo porque é que há tantos homens que dizem que não gostam do Natal. Parece-me a mais completa expressão – se não talvez a expressão remanescente – do Homos Lusitanus primitivo.

Há os que procuram fazer a festa. A quantidade de porcaria nas paredes da cozinha faz pensar que o pobre perú foi abatido ali e não num matadouro. Felizmente, os congelados afastam essa ideia. Outra questão higiénica muito comum é a lavagem dos vegetais e leguminosas – os homens não lavam nada; “assim, até se sente mais o sabor!” Prazos de validade de molhos pré-feitos, mostardas e outros que tais são amplamente ignorados. No arriscar é que está o ganho. Finalmente, e para não perder tempo com “mariquices”, levam para a mesa tudo nos recipientes em que foi cozinhado. Não há cá travessas “para ficar bonito”. A justificação é a de que assim há menos louça para lavar. Aquele que pedir “um bocadinho de sal” pode apostar que vai levar com um pacote de sal (grosso, naturalmente) em cima da mesa.

Apesar da ironia anterior, estes homens têm a minha mais profunda vénia. Exceto no que diz respeito à parte da limpeza posterior… pois se é verdade que encontramos muitos homens que apreciam cozinhar, não conheço nenhum que limpe a cozinha a seguir. Tornam-se logo ursos peludos e desajeitados que partem os pratos todos em que tocam por absoluta falta de jeito (dizem eles… mas na verdade, chama-se falta de vontade; é a mesma falta de vontade que os ataca quando lhes pedem para alimentar um bebé de 3 meses e eles replicam “Pode ser uma fatia de pizza?”) É também por falta de vontade, i.e. para não se chatearem, que as mulheres decidem ir logo limpar a dita cozinha. Caso contrário, deixavam a parede e os pratos sujos criar crosta até serem limpos. Aliás, se repararem, as cozinhas e as casas dos homens que vivem sozinhos são sítios absolutamente impecáveis e limpos. De forma que não, senhoras, eles não sofrem de nenhuma inépcia genética que os impeça de passar uma esfregona nos azulejos.

O que me desgosta é que, nas casas portuguesas, as mães geralmente educam as meninas a servirem os meninos, seus irmãos. É no Natal que esta diferença educativa salta à vista. Estão as meninas muito afadigadas, limpando, carregando e os manos à espera, sentados como lordes. Mas espera-se que depois, na juventude e na idade adulta, o mundo prime pela igualdade!


Há uma citação, alegadamente de Aristóteles, que diz “Dêem-me uma criança até à idade de sete anos e eu mostrar-vos-ei o homem”, que demonstra bem o valor da educação e dos exemplos nos tenros anos. Por isto mesmo, o meu desejo é que as mães (quer se queira quer não, as maiores educadoras dos filhos) promovam o respeito e a igualdade desde sempre, com naturalidade… E não como se fosse um acontecimento que aparece quando se cresce, assim como as borbulhas.  

Friday, December 4, 2015

Come here and you'll see how they bite!


A língua portuguesa sempre recebeu palavras vindas de outros idiomas, incorporando-as no seu vocabulário corrente, ora sem aportuguesamento (como “croissant”) ora aportuguesando-as (como “basquetebol” que deriva de “basketball” como sabem). Embora haja várias origens para os estrangeirismos da língua portuguesa, não há dúvida que os tempos comandam as modas e se no século XX muitos foram os galicismos que os portugueses importaram - “chic”, “bouquet”, “toilette”, “biberon” e expressões como “laissez faire, laissez passer” - no século XXI são os anglicismos que imperam. A isto não é alheia a queda do francês e a ascensão do inglês como língua global de comunicação. O inglês é gramaticalmente mais simples, mais técnico e direto e favorece a comunicação rápida e straight to the point que é a pedra de toque do novo milénio. Mas não pensem que estou a desvalorizar a francofonia: eu falo ambas e só encontro vantagens em se falar o máximo de línguas possível.

Nestes últimos anos, há uma curiosa tendência que apareceu sub-repticiamente em conferências académicas e também nalgumas empresas. É a comunicação em “portinglês”. As pessoas que comunicam em “portinglês” seguem apropriadamente o modelo de integração que é ditado pelas próprias instituições – as empresas são multinacionais e as academias funcionam no mundo global. A modernidade e a globalização são dois conceitos que andam a par como duas metades de uma laranja – “googlem” um e encontram logo o outro; façam pesquisa académica sobre um e fatalmente terão de falar sobre o outro (enfim, já perceberam…) Juntem à modernidade e à globalização a questão da tecnologia. Agora juntem o conceito de identidade e podem fazer um doutoramento. PS: Não façam, a ideia já não é original. Voltemos ao “portinglês”.

O “portinglês” é um idioma que já não causa espanto. Uma pessoa vai a uma conferência dada em português e, a páginas tantas (at so many pages), ouve falar do “assessment” e da “endurance” e do “retrieval”, perfeitamente enquadrados em frases cuja restante gramaticalidade é portuguesa. E o público percebe – pelo menos, acena afirmativamente com a cabeça. Já nenhum orador em seu perfeito juízo diz “capacidades”; todos dizem “skills”. Há ainda os “soft skills” e os “life skills” e os “social skills” e os “people skills”, todos termos absolutamente qualificativos – e usados! Também há os “hard skills”, mas desses ninguém fala (os próprios tipos que trabalham no hardware têm vergonha de dizer que não são do software…)

Em Portugal, as pessoas já não têm um alvo; têm um “target”. Não há gestão empresarial; há “management”. Os funcionários não acumulam experiência, mas sim “know-how”. Os contatos foram substituídos por “networking”. Ninguém tem prazos, mas todos têm “deadline”. E nem falo de coisas tão corriqueiras como “briefing”, CEO, e “benchmarking”…


Proponho animar as conferências um bocado e traduzir velhas expressões portuguesas, para os mais velhotes que andam por lá como que “watching ships”. Não podem estar com aquele ar de “always with the olive oils”… Não sei se já perceberam mas pouco interessa se é Passos ou se é Costa; têm mais é de aprender inglês. Rely on the Virgin and don’t run!