A língua portuguesa sempre recebeu palavras vindas de outros
idiomas, incorporando-as no seu vocabulário corrente, ora sem aportuguesamento
(como “croissant”) ora aportuguesando-as (como “basquetebol” que deriva de
“basketball” como sabem). Embora haja várias origens para os estrangeirismos da
língua portuguesa, não há dúvida que os tempos comandam as modas e se no século
XX muitos foram os galicismos que os portugueses importaram - “chic”,
“bouquet”, “toilette”, “biberon” e expressões como “laissez faire, laissez
passer” - no século XXI são os anglicismos que imperam. A isto não é alheia a
queda do francês e a ascensão do inglês como língua global de comunicação. O
inglês é gramaticalmente mais simples, mais técnico e direto e favorece a
comunicação rápida e straight to the point que é a pedra de toque do novo
milénio. Mas não pensem que estou a desvalorizar a francofonia: eu falo ambas e
só encontro vantagens em se falar o máximo de línguas possível.
Nestes últimos anos, há uma curiosa tendência que apareceu
sub-repticiamente em conferências académicas e também nalgumas empresas. É a
comunicação em “portinglês”. As pessoas que comunicam em “portinglês” seguem
apropriadamente o modelo de integração que é ditado pelas próprias instituições
– as empresas são multinacionais e as academias funcionam no mundo global. A
modernidade e a globalização são dois conceitos que andam a par como duas
metades de uma laranja – “googlem” um e encontram logo o outro; façam pesquisa
académica sobre um e fatalmente terão de falar sobre o outro (enfim, já
perceberam…) Juntem à modernidade e à globalização a questão da tecnologia.
Agora juntem o conceito de identidade e podem fazer um doutoramento. PS: Não
façam, a ideia já não é original. Voltemos ao “portinglês”.
O “portinglês” é um idioma que já não causa espanto. Uma
pessoa vai a uma conferência dada em português e, a páginas tantas (at so many
pages), ouve falar do “assessment” e da “endurance” e do “retrieval”,
perfeitamente enquadrados em frases cuja restante gramaticalidade é portuguesa.
E o público percebe – pelo menos, acena afirmativamente com a cabeça. Já nenhum
orador em seu perfeito juízo diz “capacidades”; todos dizem “skills”. Há ainda
os “soft skills” e os “life skills” e os “social skills” e os “people skills”,
todos termos absolutamente qualificativos – e usados! Também há os “hard
skills”, mas desses ninguém fala (os próprios tipos que trabalham no hardware
têm vergonha de dizer que não são do software…)
Em Portugal, as pessoas já não têm um alvo; têm um “target”.
Não há gestão empresarial; há “management”. Os funcionários não acumulam
experiência, mas sim “know-how”. Os contatos foram substituídos por
“networking”. Ninguém tem prazos, mas todos têm “deadline”. E nem falo de
coisas tão corriqueiras como “briefing”, CEO, e “benchmarking”…
Proponho animar as conferências um bocado e traduzir velhas
expressões portuguesas, para os mais velhotes que andam por lá como que
“watching ships”. Não podem estar com aquele ar de “always with the olive
oils”… Não sei se já perceberam mas pouco interessa se é Passos ou se é Costa;
têm mais é de aprender inglês. Rely on the Virgin and don’t run!