... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, December 4, 2015

Come here and you'll see how they bite!


A língua portuguesa sempre recebeu palavras vindas de outros idiomas, incorporando-as no seu vocabulário corrente, ora sem aportuguesamento (como “croissant”) ora aportuguesando-as (como “basquetebol” que deriva de “basketball” como sabem). Embora haja várias origens para os estrangeirismos da língua portuguesa, não há dúvida que os tempos comandam as modas e se no século XX muitos foram os galicismos que os portugueses importaram - “chic”, “bouquet”, “toilette”, “biberon” e expressões como “laissez faire, laissez passer” - no século XXI são os anglicismos que imperam. A isto não é alheia a queda do francês e a ascensão do inglês como língua global de comunicação. O inglês é gramaticalmente mais simples, mais técnico e direto e favorece a comunicação rápida e straight to the point que é a pedra de toque do novo milénio. Mas não pensem que estou a desvalorizar a francofonia: eu falo ambas e só encontro vantagens em se falar o máximo de línguas possível.

Nestes últimos anos, há uma curiosa tendência que apareceu sub-repticiamente em conferências académicas e também nalgumas empresas. É a comunicação em “portinglês”. As pessoas que comunicam em “portinglês” seguem apropriadamente o modelo de integração que é ditado pelas próprias instituições – as empresas são multinacionais e as academias funcionam no mundo global. A modernidade e a globalização são dois conceitos que andam a par como duas metades de uma laranja – “googlem” um e encontram logo o outro; façam pesquisa académica sobre um e fatalmente terão de falar sobre o outro (enfim, já perceberam…) Juntem à modernidade e à globalização a questão da tecnologia. Agora juntem o conceito de identidade e podem fazer um doutoramento. PS: Não façam, a ideia já não é original. Voltemos ao “portinglês”.

O “portinglês” é um idioma que já não causa espanto. Uma pessoa vai a uma conferência dada em português e, a páginas tantas (at so many pages), ouve falar do “assessment” e da “endurance” e do “retrieval”, perfeitamente enquadrados em frases cuja restante gramaticalidade é portuguesa. E o público percebe – pelo menos, acena afirmativamente com a cabeça. Já nenhum orador em seu perfeito juízo diz “capacidades”; todos dizem “skills”. Há ainda os “soft skills” e os “life skills” e os “social skills” e os “people skills”, todos termos absolutamente qualificativos – e usados! Também há os “hard skills”, mas desses ninguém fala (os próprios tipos que trabalham no hardware têm vergonha de dizer que não são do software…)

Em Portugal, as pessoas já não têm um alvo; têm um “target”. Não há gestão empresarial; há “management”. Os funcionários não acumulam experiência, mas sim “know-how”. Os contatos foram substituídos por “networking”. Ninguém tem prazos, mas todos têm “deadline”. E nem falo de coisas tão corriqueiras como “briefing”, CEO, e “benchmarking”…


Proponho animar as conferências um bocado e traduzir velhas expressões portuguesas, para os mais velhotes que andam por lá como que “watching ships”. Não podem estar com aquele ar de “always with the olive oils”… Não sei se já perceberam mas pouco interessa se é Passos ou se é Costa; têm mais é de aprender inglês. Rely on the Virgin and don’t run!