Segundo o Instituto Nacional de Estatística, em 2013 o número
de portugueses emigrados por esse mundo fora era de 128 000. No entanto, é
preciso que se note que o INE distingue entre emigrantes permanentes e
emigrantes temporários, sendo os segundos os que tencionam voltar ao país
dentro de um ano (i.e. vão só “arranjar uns dinheiritos…”). Também convém que
se diga que as estatísticas valem o que valem e que, se é verdade que o número
de emigrantes é hoje muito maior, também é preciso frisar que antes se emigrava
sem deixar rasto e que é muito natural que haja batalhões de emigrantes de anos
anteriores que não façam parte de estatística alguma.
Podia fazer uma crónica só com isto, mas tenho outra intenção
que é a de falar dos emigrantes portugueses que moram cá dentro, isto é dos
onze milhões de portugueses que, morando em Portugal, falam sempre deste país
como se morassem no Gana. A coisa é de tal modo flagrante que estou convencida
que é por isso que o Turismo de Portugal inventou o slogan “Vá para fora cá
dentro”. Os portugueses não deixam de olhar para Portugal como se fosse, de
facto, um país estrangeiro.
Tudo os espanta, a começar pela própria geografia. Ao
contrário de outros países, nunca ninguém sabe onde fica nada. Um tipo que
more, por exemplo, em Lisboa desconhece onde seja Tomar (mais ou menos a uma
hora dali de automóvel) e escusado será perguntar-lhe se existe uma ilha de
Porto Santo perto da Madeira.
Mais ainda os espantam a cultura e os costumes. É vulgar
ouvir um português dizer “isso é mesmo à portuguesa!” para criticar algo, seja
esse algo a bur(r)ocracia de um serviço público, o atraso de um transporte ou
um trejeito de personalidade menos profissional. A expressão implica desdém e
um abanar de cabeça. Enquanto outros povos se orgulham fervorosamente das suas
características, os portugueses auto criticam-se e são bem capazes de ajudar os
restantes povos a criticá-los também, de forma genuína. Não há perigo do
português médio cair num exagero de nacionalismo – é por isso que a todos fazem
rir aqueles livrinhos do tempo do Salazar que as criancinhas da Primária tinham
de ler e que falavam constantemente n’A Pátria. “A Pátria” é um conceito que é
facilmente muito inflamado (e inflamável!) noutros países, cuja persona cultural tem um mal disfarçado
orgulho em tal. Mas em Portugal, o português encolhe os ombros e resmunga “A
pátria? Está bem….” E come uns tremoços.
Não é que o português não goste de Portugal ou não veja
qualidades no seu país. O português reconhece as belezas naturais que há em
Portugal por toda a parte – e elogia-as. Adora o clima. Acha a comida soberba.
Orgulha-se da época dos Descobrimentos, d’Os Lusíadas, de Fernando Pessoa, do
Prémio Nobel de Saramago… enfim, de todas as coisas que fascinam os
estrangeiros. O português sente por Portugal o que um estrangeiro sente – mas
mora por cá.
Para culminar, todos sabemos como é difícil falar (e falar
bem) a Língua Portuguesa. É certamente por isso que – novamente, tal como acontece
aos estrangeiros! – ela é tão mal falada por milhares de portugueses…