Diz-se maldosamente que em Agosto ninguém trabalha – é mentira, até porque com a quantidade de turistas que Agosto significa há muita gente cuja única coisa que faz em Agosto é trabalhar. No entanto, operadores turísticos à parte, há um certo sentimento de folga que se estende pelo país inteiro. Por isso, quem tem urgência em fazer algo, depressa descobre que não vai conseguir.
Tivemos disto exemplo quando eu e um grupo de amigos fomos, armados de boa vontade (todos) e músculo (alguns, porque eu não…), ajudar um de nós a mudar de casa. À hora marcada, lá estávamos, depois de termos feito uns quantos kms de carro – porque esta coisa dos “arredores de Lisboa” é um conceito muito vasto.
O primeiro desaire aconteceu quando não apareceram os homens das mudanças. Teria a carrinha dos móveis tido um acidente? Ter-se-iam perdido? As horas iam passando e as hipóteses iam-se tornando mais fantásticas. Teriam sido assaltados na estrada? Teriam aproveitado para surripiar os velhos móveis da avó e vendê-los a um antiquário? Por fim, para acabar com o nosso sofrimento, ao fim de algumas horas (durante as quais não atenderam o telemóvel nem telefonaram), lá contactaram a esclarecer: “Desculpe, mas não nos é possível aparecer hoje porque tivemos um problema com a viatura. Agora, só amanhã.” Só isto. Queres reclamar? Serve-te de alguma coisa? Queres os móveis, não queres? Os móveis estão connosco e damos-tos amanhã. Sem mais explicações. A ver se não te exaltas nem chateias.
Um bocado aparvalhados com esta falta de bom “customer service”, engolimos em seco e lá voltámos a fazer o caminho todo para voltar no dia seguinte. Mais aventuras nos esperavam. Nesse segundo dia, enquanto arrastávamos móveis e transpirávamos como miseráveis, foi a casa de eletrodomésticos que não entregou os ditos. Esperámos até à noite e já considerávamos dormir todos ali, como se fosse um festival de música improvisado mas com tecto (porque duche também não havia nesta casa). Depois de vários – mais de uma dezena, embora eu não tenha escutado todos – telefonemas para a dita empresa, onde sempre asseguravam a pés juntos que o serviço “estava a caminho”, acabaram por dizer que “não, afinal parece que não é possível efectuar a entrega hoje, o que lamentamos” e “gostaria de agendar para outro dia?”
Para além do inqualificável serviço que aqui se denota, é bom notar que entre tantas chamadas de telefone e custos de gasolina, facilmente se chega à conclusão que o cliente podia ter comprado uns eletrodomésticos mais caros e melhores…
Mas a saga ainda não terminara. Entramos agora no departamento das ditas utilidades básicas. Muito antes de se mudar, já o meu colega tinha pedido as devidas instalações. Se a da água foi rápida, o mesmo não se poderá dizer das restantes. É o agendamento que não é feito e tem de ser o cliente a ligar e a insistir; é o técnico que não aparece e tem de ser o cliente (que passou a tarde em casa, à espera) a insistir com a companhia; é o técnico que vai e se esquece de fazer uma parte importante da ligação…
Problemas do Primeiro Mundo, dirão, mas convenhamos que parece um Primeiro Mundo bastante atrasado! Sobretudo no que diz respeito ao tratamento de quem paga um serviço. O cliente tem sempre razão? Só se for… turista.