Este é o tema e título de um
livro de Eva Illouz, socióloga, judia, docente universitária em mais que um
continente. O livro é uma análise sociológica profunda, mas, ao mesmo tempo,
tem ambições não-académicas, escrito em linguagem clara para um público mais
largo.
Acredito que muitos leitores,
académicos e não-académicos, terão desistido do livro a meio.
Quanto aos segundos, imagino a
sua desilusão ao se darem conta que não se tratava de um popular livro de
auto-ajuda, desses que a autora (para minha satisfação) não vê com bons olhos.
Aqui, não se encontram receitas de bem fazer para conseguir príncipes e
princesas, nem tão pouco ideias sobre os homens serem de Marte e as mulheres de
Vénus. Somos todos do planeta Terra, não negando que homens e mulheres são
diferentes – e não se pede perdão por essa evidência, que no momento atual da
nossa história tende a ser mascarada com pseudo conceitos de igualdade, quando
a igualdade tem a ver com direitos (que defendo integralmente) e não com
questões biológicas que, caso fossem iguais, impediriam a perpetuação da
espécie.
Relativamente aos académicos, é
um livro duro para o ramo da Psicologia. Na sua explicação sociológica do
fenómeno da dor no amor na Modernidade – pois é da Modernidade que a autora
trata - Illouz condena as nossas conceções pós-Freud em que tudo vem com um
rótulo problematizante em relação ao indivíduo, sem, no entanto, lhe apresentar
uma solução real. Segundo a Psicologia, as pessoas estão condenadas a terem
vidas amorosas de angústia incensadas pelos traumas de infância. Illouz
discorda, apresentando análises históricas. Traumas infantis sempre existiram
mas perspetivas do amor como hoje o vivemos é que não. O problema não é íntimo;
é histórico-social-cultural.
Nunca como hoje, por exemplo,
foram as mulheres acusadas de serem tão emocionalmente dependentes e,
paradoxalmente, tão dedicadas à carreira; nunca como hoje foram os homens tão
incapazes de assumir um compromisso afetivo; nunca como agora foi tão difícil
assumir uma relação e, sobretudo, assumi-la para si próprio acreditando numa
ideia de amor sem lhe misturar cinismo, ironia ou uma finitude mais que certa
(já ninguém crê na paixão que move montanhas).
Illouz traça analogias entre questões
como a liberdade pós-moderna, o mercado livre, o marxismo, o feminismo, a
arquitetura da escolha e do desejo na sociedade, os nossos novos valores em
relação ao que é determinante enquanto sucesso e o fracasso da ideia de amor.
Melhor dizendo, o fracasso do amor. A expectativa que temos, que em quase nada
se coaduna com a realidade vivida. Vale a pena perceber que esta é uma questão
abrangente, e determinada pelos valores culturais desta sociedade que
construímos, à qual não é alheia o progresso tecnológico, a distância física
fácil e uma noção de emoção de deitar fora.
Só as novas gerações entendem
este livro. A minha avó não o entenderia. Alguns aspetos não são percetíveis
para os nossos pais, porque o mundo hoje muda muitíssimo mais depressa. Experimentem
pôr a conversar alguém de 50 e alguém de 25 anos: o abismo cultural é real,
muito maior do que há apenas 20 anos atrás. O que tem isto a ver com a
desilusão quase certa no amor? Leiam o livro, mas sem dramatismo. Nada como ser
crente, apesar de tudo.