Até há poucos anos, a chamada questão ambiental não era moda – apesar de
toda a gente viver de forma bem mais sustentável do que hoje. O Zé que
praticava agricultura à moda antiga, andava a pé ou de burro, remendava a sua
roupa que durava anos e não tinha telefone nem carro, jamais tinha ouvido falar
do “degelo” e da “chuva ácida” mas garantidamente sabia umas coisas sobre
mudança climática e espécies naturais e invasoras, sem usar desse palavreado. O
Zé era bem mais amigo do ambiente do que os ambientalistas actuais que fazem
muito discurso, mas depois usam roupinhas de marca (a moda é a indústria mais
efémera e mais poluente do mundo, sem esquecer a escravidão humana que arrasta)
e carregam mil e um gadgets: telemóveis, laptops, tablets, câmaras digitais,
enfim, um mar de metal não reciclável e de carregadores de lítio.
Ambientalistas? Só na auto-designação. Mas esse pessoal quase degola o Zé
agricultor porque as vacas dele libertam metano quando arrotam; esse mesmo
pessoal gosta de comer bife nos jantares, não fazendo a ligação mental com a
vaca, com que aliás nunca lidaram a não ser vendo-a de passagem, em passeio.
A reciclagem é muito importante. Não é só importante para “salvar o
planeta”. É importante também (ou sobretudo, não sejamos inocentes!) porque é
uma grande indústria. Milhões de pessoas vivem da reciclagem. Os muito pobres
vivem de catar o lixo e separá-lo (basta ver a “Avenida Brasil”). Mas, para
além disso, reciclar é lucro. Por exemplo, em Taiwan, uma ilha sem recursos por
aí além, há mais de 1700 companhias de reciclagem e o dinheiro que fazem são
mais de 3 biliões de dólares americanos por ano - reporto-me a estatísticas que
nem sequer são deste ano, portanto fermentem um pouco mais. Só conseguem
reciclar cerca de 80% do lixo industrial e 65% do lixo caseiro. Imaginemos como
não será quando a malta toda for comprar os saquinhos azuis e se dispuser a
reciclar seriamente.
Conheço muita gente que vive um estilo denominado “ambientalista”. Mas o
que é isso? Na segunda vez que engravidei, todos quiseram aconselhar-me sobre
como seria melhor tratar do bebé de forma mais “natural”, segundo a moda em
vigor. Passando por cima do resignado aborrecimento que é ouvir conselhos
quando não os pedimos, as opiniões neo-ambientalistas não raro levantam-me as
sobrancelhas. Passo a expor algumas das que ouvi recentemente e a minha
sobrancelhada reacção entre parêntesis: “não uses fralda descartável, que cada
uma delas demora 600 anos para se decompor, é crime” (vou lavar à mão 7 fraldas
de pano/dia após trabalhar 8 h/dia, foi para isso que se fez o progresso); “não
vacines o bebé, isso é completamente anti-natura” (tal como cirurgias,
transplantes, e dezenas de outros avanços da medicina que nos permitem viver
melhor); “não lhe dês banho, excepto uma vez por semana, é preciso poupar na
água” (boa ideia, sobretudo na época da crosta láctea ou quando eles estão na
fase de comer terra e outras javardices próprias da idade); “não lhe dês
remédio para a asma, isso cura-se tudo com óleos naturais” (um ataque de asma
pode matar pelo que a irresponsabilidade deste conselho é tão preocupante que
me abstenho de resposta).
Cada pessoa tem direito às suas convicções (desde que não magoe os outros).
Mas torna-se bastante mais complexo querer impingir a alguém algo que, na
realidade, nem sequer praticam. O chamado estilo de vida “natural” (por
oposição a um artificial) implica coerência. O apregoado ambientalista ferrenho
que, paradoxalmente, tem carro, viaja como se não houvesse amanhã, come
produtos que sabe lá de onde vêm, tem máquina de lavar e de secar, compra roupa
constantemente e ração para os animais e para o aquário, tem Bimby, iPhone e
redes sociais, oh meus amigos, assim também eu. Nenhum destes “conselheiros”
criou filhos do modo como me aconselharam a criar os meus.
Nota crucial. Quando o meu filho (o que hoje já é crescido, tem onze anos)
tinha três anos, foi-me movido um processo de Tribunal nos Açores alegadamente porque
a criança não ia ao infantário. Foi considerado inadequado e anti-social eu
educar uma criança (de três anos!) em casa. As mesmas pessoas que na altura
disseram tal são as que hoje acham muito bem que a Greta Thunberg não ande na
escola (aos 16!) “porque o Ambiente merece.” Agora, já não é um problema, agora
é bom. Sabem porquê? Tão só porque é politicamente correcto e tem-se provado
que é mediaticamente ao gosto da elite – veja-se a TIME. Isto não é hipocrisia,
é um nível acima: é mesmo mentira descarada.
No fundo, eu conheço muito poucos ambientalistas. O que eu conheço é gente
que lucra à custa de uma falsa defesa do ambiente. São coisas completamente
diversas.