Em 1962, Schachter e Singer “descobriram”
o que denominaram Teoria dos Dois Factores da Emoção. Segundo estes
investigadores, uma emoção é baseada em dois factores: a resposta fisiológica
que sentimos aquando da emoção e a etiqueta cognitiva que lhe damos, sendo esta
última baseada nas pistas ambientais que encontramos para a nossa excitação
fisiológica. Traduzindo: sentimos algo que faz o nosso corpo responder imediatamente
com sintomas e logo o nosso cérebro procura dar uma causa e nome a esse algo,
colocando-lhe um rótulo.
O problema é que, às vezes,
engana-se. Nas mais variadas experiências feitas por estes investigadores e
outros que, posteriormente, retomaram o tema, concluiu-se que não é raro o
cérebro não saber porque é que a excitação fisiológica acontece. Nessas
ocasiões, o ser humano procura sempre compensar e dar uma razão à causa,
invariavelmente. Isto não quer dizer que tenha descoberto o porquê da excitação,
apenas quer dizer que diminui a sua ansiedade na procura de uma resposta para
as suas sensações corporais.
Daqui nasceu o termo “atribuição
errónea da causa de excitação”, que não é mais do que dizer que o
bem-intencionado ser humano se enganou a colocar as legendas nas suas emoções.
Um dos exemplos mais clássicos
para demonstrar esta possibilidade é a panóplia de transformações físicas que
se opera no nosso corpo quando sentimos medo, desde falta de ar até alterações
na pressão sanguínea. Lamentavelmente, são muito semelhantes às mudanças
operadas nos organismos “atacados” de paixão romântica. Apesar desta irónica
semelhança fisiológica, em princípio, um ser humano de pensamento claro e
emoção organizada não terá problemas em distinguir o medo do romantismo, certo?
A julgar pela experimentação científica, parece que não estamos tão seguros
assim…
Um dos estudos a este respeito
denominado “O Amor Apaixonado e a atribuição errónea da causa de excitação” (White,
Fishbein e Rutsein, 1981) demonstra que qualquer tipo de excitação física
prévia não relacionada com parceiros mas com situações absolutamente paralelas (por
exemplo, exercício extenuante) faz com que uma atracção sexual/romântica tenha propensão
para acontecer imediatamente a seguir. Tentativa de prolongamento da sensação?
Os donos de discotecas já descobriram este truque há muitos anos…
Não vou citar aqui todas as
experiências que já se fizeram sobre este conceito de atribuição errónea, mas
não quero deixar de mencionar aquela que é, provavelmente, a mais famosa:
trata-se da experiência da ponte suspensa feita por Dutton e Aron em 1974.
Nesta experiência, os sujeitos (homens) tinham de atravessar uma ponte suspensa
perigosa, sujeita a ventos e ao balanço. As sensações de medo e ansiedade eram inevitáveis.
Eram recebidos por uma mulher atraente com um desenho (não sexual) que lhes pedia
para escreverem uma história e lhes entregava o seu número de telefone, pois
caso tivessem dúvidas poderiam contactá-la para falar da experiência. Um
elevado número de participantes quis ligar, estando convencido de uma atracção
considerável por esta mulher. Todas as sensações fisiológicas que os assomavam
(rápido bater do coração, joelhos “fracos”, palpitações, dificuldades
respiratórias, mãos transpiradas) foram por eles atribuídas a uma atracção
sexual fulminante pela mulher e não ao medo que ter acabado de atravessar uma
ponte suspensa lhes tinha causado – medo esse que ainda permanecia e destilava
dos seus corpos. A mesma experiência colocou sujeitos diferentes frente à
mulher atraente mas no início da ponte e, coisa interessante, antes de
atravessar nenhum homem se sentiu atacado pela paixão. As pessoas que
inventaram os filmes de terror e os parques de diversões com montanhas russas
também já conhecem este truque: não é raro que pares de namorados gostem de ir
ao cinema ver filmes de terror – a ciência explica.
No entanto, apesar da pimenta que
se esconde atrás do jasmim, há outras conclusões menos humorísticas a retirar
de tudo isto. Não será que esta confusão dos rótulos que colocamos às nossas
emoções, particularmente este confundir do receio com a paixão, explica a
manutenção de algumas relações tóxicas? Parece-me que aqui está a chave desses
casos: N pensa que está apaixonado porque sente os sintomas que identifica como
tal; mas afinal N apenas vive com medo. Parece que, fisiologicamente, a linha
que os separa é ténue e confusa, sobretudo para espíritos ansiosos.