Parece que há uma explicação genética para a infidelidade. Calma, almas
voláteis e dúbias (ou corpos!). Bem sei que estão sedentos de ir oferecer esta
explicação que vos desresponsabiliza totalmente dos actos por vós practicados
em sã consciência e pleno poder de escolha, mas não há realmente uma explicação
científica taxativa; existem apenas hipóteses. É destas hipóteses científicas
que vou falar.
Brendan Zietsch, psicólogo da Universidade de Queensland, descobriu um elo
entre a promiscuidade e variantes específicas dos genes receptores de uma
hormona chamada vasopressina, hormona essa que está ligada à motivação sexual,
e até à empatia, socialização, conexão com o outro e respostas maternais. O
estudo não é propriamente novo, foi publicado em 2014, mas só agora dei com ele
na “Evolution and Human Behaviour”. A hipótese do Dr. Zietsch encontrou eco,
sobretudo, nos sujeitos femininos, isto é, foi encontrada uma associação
significativa entre as variantes dos genes da dita vasopressina e o número de
parceiros que as mulheres do estudo confessaram ter tido num ano. Retirando,
assim, as restantes variantes que são absolutamente necessárias para que um
encontro desta natureza aconteça (desde já a disponibilidade e vontade de
parceiros), o Dr. Zietsch conclui que a culpada da promiscuidade feminina é a
tômbola genética.
Homens, não desesperem, porque também vós tendes a mesma desculpa. É também
uma variante específica do gene receptor da vasopressina que causa nos homens
aquilo a que o Dr Hasse Walum do Instituto Karolinska chama “descontentamento
marital masculino”, que me parece um prenúncio mais que certo para irem procurar
contentamento noutro sítio. Novamente, a culpa é da genética: os que não
possuem esta combinação não estão sujeitos a sentir tal falta de alegria.
Já o Dr. Justin Garcia, da Binghamton University, aponta para outro subtipo
genético: um variante de receptor da dopamina, o D4. Os indivíduos que
apresentam o D4 na sua combinação genética são cinquenta por cento (50% !!!)
mais propensos à infidelidade. Duplicam a propensão! E isto porque são
naturalmente facilmente estimuláveis, ansiosos por novidade, e como que
permanentemente sedentos de mais coisas, outras coisas e ainda aquelas além
para se poderem sentir vivos. Caso contrário, esmorecem. Parecem aquela canção
do António Variações em que ele está sempre insatisfeito e quando agarra algo
já pensa no próximo, e quando chega a um lugar já tem sede de partir. Assim,
estas pessoas, infelizes portadores do D4, não são propriamente alegres D. Juan
ou femme fatale. Serão, antes, esfomeados de novidade a quem nunca é possível
matar a fome. Quase que fiquei com pena (sublinhado forte no “quase”) – é que a
genética ninguém controla, mas as nossas escolhas podemos sempre controlar, por
mais difíceis ou dilacerantes que sejam.
Explicações à parte, pessoalmente não estou totalmente convencida da
genética da infidelidade, até porque não estou convencida, a priori, da
monogamia da espécie humana. Os monogâmicos (nos quais me incluo) vivem na vida
uma espécie de monogamias sucessivas, ou seja, tiveram um par e depois outro e
agora têm outro que é exclusivo. Biologicamente falando, isto não é monogamia;
são várias que se alternam no tempo e, portanto, mesmo que fidelíssimos, somos
todos poligâmicos, excepção feita às pessoas que apenas tiveram um parceiro em
toda a sua vida e que têm já a provecta idade para dizer “desta água não
beberei”. Porém, cuidado, nunca se sabe se, um dia, uma pessoa se encontra no
deserto, lugar onde (dizem… eu não sei!) a tentação de beber água – mesmo que
salgada, poluída ou insalubre – amplifica-se.