... "And now for something completely different" Monty Python

Sunday, June 7, 2020

Ensino à distância: e depois do COVID?


A pandemia ainda cá anda e não sabemos quando vai acabar. Mas nada dura para sempre e a pandemia há-de desaparecer tão subitamente como surgiu. As doenças assim bombásticas são um pouco como as paixões, atacam forte mas não duram sempre e quando desaparecem deixam todos um pouco abananados com aquilo que se fez à conta delas.

Uma das coisas que se fez nalguns países durante esta pandemia foram aulas online em situações onde antes se usava o velho e bom método cara a cara. Sou a favor das tecnologias, sempre e quando estas nos permitem ultrapassar situações que sem elas não seriam passíveis de realização. O método online permitiu que as aulas continuassem, apesar dos pesares.

Ao contrário do que alguns podem pensar, o facto de ser online não motiva alunos que antes estavam desmotivados em sala de aula. Não mais do que motivaria uma pessoa que jamais gostou de futebol ao vivo a interessar-se pelo FIFA 20. Aliás, é bem mais complicado para o professor online tentar captar o interesse do aluno do que para o professor que está em sala de aula não só porque online é impossível saber se o aluno foi à casa de banho, está com problemas tecnológicos ou abriu outra janela e está a ver um filme, mas sobretudo porque a competição online é grande. Mesmo um excelente comunicador tem dificuldade em cativar o jovem durante muito tempo sem ser ultrapassado por um chat tentador, um vídeo engraçado ou uns “stories” ou “tweets” para ficar a par das últimas ou, simplesmente, porque a oportunidade se apresenta. Como dizia Oscar Wilde, pode-se resistir a tudo menos à tentação. A internet representa mais ou menos isso, porque tem está lá tudo (ainda que, na verdade, nada tenha a não ser imagens da vida ao invés da vida, é uma alegoria completa – estou a adensar o tema, o melhor é voltar ao início).

Os professores têm dois tipos de abordagem relativamente às aulas online: existem os que as consideram uma fraude pedagógica (estou a citar um sociólogo que muito respeito) e há os que opinam que são as aulas do futuro, ao encontro das necessidades da nova geração. Retiro propositadamente deste artigo as questões da metodologia, porque ninguém me convence que revolucionou de forma conceptualmente certeira a metodologia de uma sala de aula para um método online numa época de crise e num espaço de menos de um mês. Posso acreditar em rapidez e eficiência, é louvável, mas rapidez e perfeição, nessa já não creio, sobretudo envolvendo métodos. Há também a questão do atendimento ao aluno, que alguns dizem ser mais atempada e respondendo às necessidades individuais quando se usa a tecnologia. Este argumento entristece-me bastante, pois nunca num método cara a cara me foi difícil ter tempo para atender alunos, muito menos achei complexo responder-lhes individualmente. Parece-me uma fraca desculpa para docentes pouco atentos a quem está à sua frente.

Quanto ao uso exclusivo das tecnologias, gosto de relembrar que já em 2003, estudava eu em Amsterdam, se fez uma experiência nas aulas de Línguas e Linguística com robots como professores exclusivos para ensinar o funcionamento e produção dos sons. Era muito interessante aprender assim, porque ao contrário das pessoas, os robots eram transparentes e tornava-se mais fácil aprender um idioma verificando como se movimentavam os órgãos, por exemplo ao nível da boca. Porém, e apesar desta enorme vantagem, os robots não tiveram o sucesso esperado, já que os alunos queriam “contacto humano com um professor”. A questão da tecnologia e das aulas online prende-se com o mesmo. As necessidades das pessoas não mudaram muito: o que nos move é um bocadinho de calor, de carinho – já dizia o Bruce Springsteen, quer-se é “Human Touch”.

Compreendo bem o porquê das Universidades puxarem para que as aulas online continuem para além do COVID. Na verdade, o trabalhador / docente que está em casa passou a pagar os meios laborais (computador, internet, energia) e até se podem dispensar alguns trabalhadores se forem dadas várias aulas em simultâneo. Logo, redução de custos para o empregador. No entanto, pela reacção dos alunos, prevejo também que vão perder receitas, com mais alunos a desistir de continuar estudos.
Conclusão: é um debate que vai estar em cena na próxima temporada, porque é nestes momentos de grandes crises sociais que se implementam mudanças drásticas que noutras situações as pessoas teriam muita dificuldade em aceitar pacificamente.