A pandemia ainda cá anda e não sabemos quando vai acabar. Mas nada dura
para sempre e a pandemia há-de desaparecer tão subitamente como surgiu. As
doenças assim bombásticas são um pouco como as paixões, atacam forte mas não
duram sempre e quando desaparecem deixam todos um pouco abananados com aquilo
que se fez à conta delas.
Uma das coisas que se fez nalguns países durante esta pandemia foram aulas
online em situações onde antes se usava o velho e bom método cara a cara. Sou a
favor das tecnologias, sempre e quando estas nos permitem ultrapassar situações
que sem elas não seriam passíveis de realização. O método online permitiu que
as aulas continuassem, apesar dos pesares.
Ao contrário do que alguns podem pensar, o facto de ser online não motiva alunos
que antes estavam desmotivados em sala de aula. Não mais do que motivaria uma
pessoa que jamais gostou de futebol ao vivo a interessar-se pelo FIFA 20. Aliás,
é bem mais complicado para o professor online tentar captar o interesse do
aluno do que para o professor que está em sala de aula não só porque online é
impossível saber se o aluno foi à casa de banho, está com problemas
tecnológicos ou abriu outra janela e está a ver um filme, mas sobretudo porque
a competição online é grande. Mesmo um excelente comunicador tem dificuldade em
cativar o jovem durante muito tempo sem ser ultrapassado por um chat tentador,
um vídeo engraçado ou uns “stories” ou “tweets” para ficar a par das últimas
ou, simplesmente, porque a oportunidade se apresenta. Como dizia Oscar Wilde,
pode-se resistir a tudo menos à tentação. A internet representa mais ou menos
isso, porque tem está lá tudo (ainda que, na verdade, nada tenha a não ser
imagens da vida ao invés da vida, é uma alegoria completa – estou a adensar o
tema, o melhor é voltar ao início).
Os professores têm dois tipos de abordagem relativamente às aulas online:
existem os que as consideram uma fraude pedagógica (estou a citar um sociólogo
que muito respeito) e há os que opinam que são as aulas do futuro, ao encontro
das necessidades da nova geração. Retiro propositadamente deste artigo as
questões da metodologia, porque ninguém me convence que revolucionou de forma
conceptualmente certeira a metodologia de uma sala de aula para um método
online numa época de crise e num espaço de menos de um mês. Posso acreditar em
rapidez e eficiência, é louvável, mas rapidez e perfeição, nessa já não creio,
sobretudo envolvendo métodos. Há também a questão do atendimento ao aluno, que
alguns dizem ser mais atempada e respondendo às necessidades individuais quando
se usa a tecnologia. Este argumento entristece-me bastante, pois nunca num método
cara a cara me foi difícil ter tempo para atender alunos, muito menos achei
complexo responder-lhes individualmente. Parece-me uma fraca desculpa para
docentes pouco atentos a quem está à sua frente.
Quanto ao uso exclusivo das tecnologias, gosto de relembrar que já em 2003,
estudava eu em Amsterdam, se fez uma experiência nas aulas de Línguas e
Linguística com robots como professores exclusivos para ensinar o funcionamento
e produção dos sons. Era muito interessante aprender assim, porque ao contrário
das pessoas, os robots eram transparentes e tornava-se mais fácil aprender um
idioma verificando como se movimentavam os órgãos, por exemplo ao nível da
boca. Porém, e apesar desta enorme vantagem, os robots não tiveram o sucesso
esperado, já que os alunos queriam “contacto humano com um professor”. A
questão da tecnologia e das aulas online prende-se com o mesmo. As necessidades
das pessoas não mudaram muito: o que nos move é um bocadinho de calor, de
carinho – já dizia o Bruce Springsteen, quer-se é “Human Touch”.
Compreendo bem o porquê das Universidades puxarem para que as aulas online
continuem para além do COVID. Na verdade, o trabalhador / docente que está em
casa passou a pagar os meios laborais (computador, internet, energia) e até se
podem dispensar alguns trabalhadores se forem dadas várias aulas em simultâneo.
Logo, redução de custos para o empregador. No entanto, pela reacção dos alunos,
prevejo também que vão perder receitas, com mais alunos a desistir de continuar
estudos.
Conclusão: é um debate que vai estar em cena na próxima temporada, porque é
nestes momentos de grandes crises sociais que se implementam mudanças drásticas
que noutras situações as pessoas teriam muita dificuldade em aceitar
pacificamente.