... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, June 19, 2020

O Problema é a Genética


Parece que há uma explicação genética para a infidelidade. Calma, almas voláteis e dúbias (ou corpos!). Bem sei que estão sedentos de ir oferecer esta explicação que vos desresponsabiliza totalmente dos actos por vós practicados em sã consciência e pleno poder de escolha, mas não há realmente uma explicação científica taxativa; existem apenas hipóteses. É destas hipóteses científicas que vou falar.

Brendan Zietsch, psicólogo da Universidade de Queensland, descobriu um elo entre a promiscuidade e variantes específicas dos genes receptores de uma hormona chamada vasopressina, hormona essa que está ligada à motivação sexual, e até à empatia, socialização, conexão com o outro e respostas maternais. O estudo não é propriamente novo, foi publicado em 2014, mas só agora dei com ele na “Evolution and Human Behaviour”. A hipótese do Dr. Zietsch encontrou eco, sobretudo, nos sujeitos femininos, isto é, foi encontrada uma associação significativa entre as variantes dos genes da dita vasopressina e o número de parceiros que as mulheres do estudo confessaram ter tido num ano. Retirando, assim, as restantes variantes que são absolutamente necessárias para que um encontro desta natureza aconteça (desde já a disponibilidade e vontade de parceiros), o Dr. Zietsch conclui que a culpada da promiscuidade feminina é a tômbola genética.

Homens, não desesperem, porque também vós tendes a mesma desculpa. É também uma variante específica do gene receptor da vasopressina que causa nos homens aquilo a que o Dr Hasse Walum do Instituto Karolinska chama “descontentamento marital masculino”, que me parece um prenúncio mais que certo para irem procurar contentamento noutro sítio. Novamente, a culpa é da genética: os que não possuem esta combinação não estão sujeitos a sentir tal falta de alegria.

Já o Dr. Justin Garcia, da Binghamton University, aponta para outro subtipo genético: um variante de receptor da dopamina, o D4. Os indivíduos que apresentam o D4 na sua combinação genética são cinquenta por cento (50% !!!) mais propensos à infidelidade. Duplicam a propensão! E isto porque são naturalmente facilmente estimuláveis, ansiosos por novidade, e como que permanentemente sedentos de mais coisas, outras coisas e ainda aquelas além para se poderem sentir vivos. Caso contrário, esmorecem. Parecem aquela canção do António Variações em que ele está sempre insatisfeito e quando agarra algo já pensa no próximo, e quando chega a um lugar já tem sede de partir. Assim, estas pessoas, infelizes portadores do D4, não são propriamente alegres D. Juan ou femme fatale. Serão, antes, esfomeados de novidade a quem nunca é possível matar a fome. Quase que fiquei com pena (sublinhado forte no “quase”) – é que a genética ninguém controla, mas as nossas escolhas podemos sempre controlar, por mais difíceis ou dilacerantes que sejam.

Explicações à parte, pessoalmente não estou totalmente convencida da genética da infidelidade, até porque não estou convencida, a priori, da monogamia da espécie humana. Os monogâmicos (nos quais me incluo) vivem na vida uma espécie de monogamias sucessivas, ou seja, tiveram um par e depois outro e agora têm outro que é exclusivo. Biologicamente falando, isto não é monogamia; são várias que se alternam no tempo e, portanto, mesmo que fidelíssimos, somos todos poligâmicos, excepção feita às pessoas que apenas tiveram um parceiro em toda a sua vida e que têm já a provecta idade para dizer “desta água não beberei”. Porém, cuidado, nunca se sabe se, um dia, uma pessoa se encontra no deserto, lugar onde (dizem… eu não sei!) a tentação de beber água – mesmo que salgada, poluída ou insalubre – amplifica-se.