Embora o Estoicismo seja uma filosofia e não uma ideologia política, muitos estóicos foram teorizadores políticos (Marco Aurélio, Cato, e até outros que, não sendo estóicos, tinham interesse no Estoicismo como Cícero). A parte central do Estoicismo tem a ver com o melhoramento do carácter do indivíduo. Talvez por isso uma tal filosofia não encontre grande eco na política hoje em dia. Porém, seria de grande utilidade. Basta lermos algumas das passagens dos nomes citados e pensar em como seria se a política actual as incorporasse.
Algumas virtudes são particularmente
relevantes para os estóicos: a justiça – no sentido de atribuir a cada qual
aquilo que merece; a coragem; a prudência e a moderação. Todas estas qualidades
têm por objectivo atingir o “máximo da virtude” ou, em última análise, “o
máximo de si mesmo”, já que o propósito do homem era ser o melhor de si. O
homem que procura aperfeiçoar-se na sua melhor versão quer, certamente, também
o melhor para os restantes seres ao seu redor, até porque “o que perturba a
colmeia perturba a abelha” (Marco Aurélio). Esta interdependência é fundamental
para que se entenda o summum bonum.
Não deve entender-se a colmeia apenas
como a nossa rua, mas numa visão bem mais ampla da sociedade em que se insere o
homem. Os estóicos são cosmopolitas, até porque acreditam que todos os seres
humanos podem aceder ao Logos, isto é, à Razão universal que está de certo modo
disponível a todos os que a procurem conhecer.
Dito assim, pode parecer que o
estoicismo associado à política se reveste de academismo e pouca acção, mas
nada está mais longe da verdade. O estoicismo não proclama a passividade, mas
sim o movimento: “não expliques a tua filosofia; personifica-a” (Epicuro). Não
é algo desenhado para sociedades que se imaginam perfeitas – um discurso que a
política actual tornou “moda”, criando ElDorados tanto nos E.U.A. como na
Canada do Vizinho-, mas sim para sociedades que necessitam de ser trabalhadas
com vista a se tornarem melhores.
Para além disto, o estóico defende uma
determinada postura pública que coloca as emoções de lado e que é mais uma
característica que está a anos-luz do comportamento quase irracional, mesquinho
e anti-diplomata da generalidade dos políticos actuais. Enfrentar o opositor,
sem dúvida e sem receio, mas sempre com calma e racionalidade, rebatendo as
suas ideias logicamente ao invés de entrar numa espiral de agressividade
emocional e de frases sem sentido.
Escutar revela-se importante para poder
rebater. Isto significar ouvir o que o outro disse ao invés de estar apenas a
pensar em como vou esmagá-lo a seguir, atropelando a conversa sem sequer reparar
que estou a contradizer(me) sem qualquer efeito racional, até porque “é melhor
tropeçar com os pés do que com a língua” (Zeno). De igual modo, é de suma
importância investigar as questões a fundo sem ficar agarrado a
pré-julgamentos.
O estóico não é um ingénuo relativamente
ao mundo, nem tão pouco quanto à política: “Viver parece-se mais com lutar do
que com dançar. Espera ataques inesperados a todo o momento e prepara-te para a
arte desse movimento.” (Marco Aurélio) O que o estóico defende, porém, é a
própria arte dessa luta. Arte… e não uma batalha de lama.