Enquanto escrevo isto, o mundo debate-se com aquilo que diz ser uma estirpe diversa do vírus Covid-19 vinda do Reino Unido. Agora, já podemos culpar não só a China mas também a Europa, o que já vinha fazendo falta para equilibrar. Perdão, não é a Europa. É o Reino Unido, esse dissidente. Culpar a Europa seria pouco inteligente e nada estratégico nos tempos que correm. A política da coisa não é acidental.
Mas vamos ao tema, que é as quarentenas.
Tal como muitos, segui através das redes sociais a odisseia de vídeos
do-repórter da National Geographic Travel, Justin Jin, que foi mostrando ao mundo
a sua quarentena de 14 dias num quarto de hotel em Shangai.
Jin reside na Bélgica, mas nasceu em
Hong Kong. Dado o seu pai estar muito doente com cancro, Jin decidiu viajar
para Shangai, onde vive o pai. Como viaja por todo o mundo à conta do seu trabalho,
a primeira coisa relatada nos vídeos são as diferenças de controlo “covidiano”
que o próprio Jin presenciou em vários países, controlo esse que não tem
estatística directa com o número e/ou aumento de casos. Como explicar?
Finalmente, após muito drama
bur(r)ocrático, ao entrar no avião, Jin deparou-se com a tripulação equipada
com fatos “galácticos”, estilo nave espacial. Tudo para que o voo
intercontinental estivesse desinfectado. Vestiam fatos hazmat, aquele tipo de
fato impermeável completo com tubo de respiração. Mais tarde, em conversa, Jin
descobriu que também usavam fralda para não terem de utilizar a casa de banho.
Qualquer mãe vos saberá dizer o que provoca uma fralda que não é mudada durante
várias horas…
À chegada, teve lugar mais um teste de
saúde. Isto apesar de Jin ter feito dois testes que o consideraram livre de
Covid e de ter vindo num voo à prova de tudo. Finalmente, apesar de ser
(re)considerado saudável, Jin tem de entrar em quarentena. O hotel será
inteiramente custeado pelo próprio, porque a decisão de viajar é pessoal. No
hotel, Jin foi recebido por uma médica, vestida em hazmat, que lhe explicou as
regras da quarentena.
Jin recebeu cotonetes com álcool, cloro,
e desinfectante anti-bacteriano para as mãos -uma estupenda ideia de marketing
deste confinamento que o mundo todo “engole” e eu jamais entendi pois ou bem
que estamos a lutar contra um vírus ou bem que se trata de bactérias, mas uma
coisa não é a outra! Um entendido que me ilumine, por favor.
A médica também lhe deu um balde para as
suas necessidades e explicou que ele tinha de lhes colocar desinfectante
durante meia hora e só depois largá-las na sanita, “para proteger os esgotos da
cidade”. Sem comentário. À medida que Jin ia passando, um funcionário fumigava
o chão por onde ele passava. O seu quarto também seria fumigado com
desinfectante diariamente nos dias seguintes. Recordo que é um quarto do qual
ele não saía, pelo que o próprio Jin, em breve, respirava desinfectante por
todos os poros.
A comida era servida embrulhada em
celofane, plástico esse também fumigado. O único momento em que Jin podia abrir
a porta do quarto era para receber a comida desinfectada e para medir a sua
temperatura (duas vezes por dia).
Não sabemos os efeitos destas
desinfecções no corpo humano. Porém, os efeitos do pânico são bem conhecidos. É
uma loucura galopante que existiu desde o princípio dos tempos: grassa depressa
como um fogo e, como este, é difícil de apagar. Basta uma faúlha de fogo para
queimar uma floresta. Basta uma centelha de pânico para provocar uma onda. Por
isso mesmo, quando foi perguntado aos vizinhos do pai de Jin se este poderia
terminar os últimos dias da quarentena em casa – fiscalizado diariamente pelos
médicos – os vizinhos disseram que não. O medo e a ignorância são as grandes
armas que ajudam a levar longe o fantasma deste Covid-19.
Finalmente, Jin acabou a quarentena. Em
Shangai, encontrou uma cidade normalíssima, sem máscaras obrigatórias e onde o
divertimento impera, porque ali a Covid é “old news”. Conclusão: o mundo está
um bocado dissociativo e, de futuro, devíamos apostar na saúde… mental.