Já me esquecia de enviar esta colaboração para o jornal porque estou de férias. Férias em Fevereiro? Não, não é o famoso confinamento (até porque aqui ninguém está confinado – morram de inveja, europeus). O que acontece é que se trata do Ano Novo Chinês, mais ou menos duas semanas de celebrações, desde o dia do Ano Novo propriamente dito até aquilo que se pode traduzir como Festival das Lanternas.
A razão pela qual o Novo Ano Chinês (que afinal também é o Novo Ano em
Taiwan, na Coreia, no Vietnam, no Tibete e até na ilha de Okinawa no Japão) tem
datas diferentes todos os anos é porque o calendário local é lunar e não
gregoriano. Portanto, as datas modificam-se segundo as luas, e como sabemos
(até pela velha expressão “conforme a lua”) os ciclos da lua variam.
Em boa verdade, esta época traduz também um Festival de Primavera - embora
isto só seja verídico nalgumas regiões, certamente não de onde vos escrevo. De
qualquer forma, o que conta são as tradições que incluem uma certa “limpeza”
dita de Primavera, mas simbolicamente do ano que já passou para acolher o que
aí vem. Outras tradições são os tambores e os gongos, numa chinfrineira sem
igual, anunciando a famosa Dança do Dragão – independentemente do animal a quem
o ano é dedicado. Os chineses acreditam que o mítico dragão representa poder e
boa sorte, pelo que ele saúda sempre qualquer ano novo. Além disso, é uma
entidade que afasta os maus espíritos. Como se isso não fosse bênção
suficiente, ainda acreditam que o dragão controla as cheias e os furacões, que
são catástrofes de soberana e não rara importância por estes lados. Portanto, é
sempre importante louvar o Dragão e estar de bem com ele.
Outra tradição são os foguetes, que são, aliás, uma invenção chinesa –
embora o mundo inteiro já se tenha esquecido disso. Finalmente, como referi, no
último dia das celebrações do Ano Novo, tem lugar o Festival das Lanternas que
é o momento mais bonito. Várias lanternas de papel, de toda a forma e feitio,
enchem os céus nocturnos. Há verdadeiras obras de arte nessas delicadas peças,
mais românticas do que qualquer postal de S. Valentim.
Finalmente, e já que falamos de romance e de sonho, também se usa dedicar
pequenos cartões vermelhos – a cor por excelência de boa sorte dos chineses –
com poesias ou simples votos festivos e oferecê-los a quem visita a nossa casa.
Este ano é o Ano do Búfalo. No horóscopo chinês, o búfalo representa
solidez, força, consciência, confiança, trabalho. Assim são vistas as pessoas
nascidas sobre este signo. O ano do Búfalo é regido por essa mesma energia.
Isto quer dizer que se acredita que será um ano sem tempo para
irresponsabilidades, mas antes para concretizar o que queremos no campo
material. O búfalo é metódico e esforçado, não só no trabalho mas também nas
suas relações das quais não desiste, antes lutando para as fazer resultar ainda
que elas sejam rotineiras e sem grande magia. Conclusão: ano bom para
arqueólogos, bibliotecários, e outros do género; definitivamente não é o ano dos
aventureiros.
Além disso, na tradição chinesa idealizam-se elementos em conjunção com os
animais, a saber: Madeira, Fogo, Terra, Água e Metal. Este é o ano do Búfalo de
Metal, o mais devotado, persistente e picuinhas. Em resumo: ano bom para
recuperação de doenças, bom para investir nos negócios e até, pasme-se!, bom
para casar e começar a formar família. É o que dizem os chineses.
Curiosamente, só não é um ano assim tão bom para quem nasceu no ano do
Búfalo. É que os chineses acreditam que os nativos de um signo têm má sorte no
seu ano de retorno. Felizmente, cá em casa não há búfalos.
Feliz ano do Búfalo de Metal!